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Melhores teatros da cidade de São Paulo

Com 120 casas de espetáculos, São Paulo tem uma programação intensa e diversificada. Um júri de especialistas escolheu as salas que oferecem mais conforto e bons serviços ao público

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 6 dez 2016, 09h05 - Publicado em 18 set 2009, 20h30

Para a arte da representação atingir seu objetivo – emocionar o espectador – são necessários poucos elementos: bons atores, um texto de qualidade e um espaço físico para essa comunhão ser consumada, ou seja, um palco. Em São Paulo, onde as opções se multiplicam com rapidez, o perfil das casas de espetáculos vem se transformando sem que, muitas vezes, seus freqüentadores percebam. Hoje, os teatros não podem mais apoiar-se apenas no glamour, e mesmo aqueles que são sinônimo disso, como os resistentes Teatro Municipal e São Pedro, os mais antigos em atividade, buscam se adaptar às novas exigências da platéia. O público se mostra cada vez mais preocupado em sair de casa e encontrar salas confortáveis, seguras e bem equipadas para melhor aproveitar suas horas de lazer.

São Paulo tem, atualmente, mais de 120 teatros. Em 1980, eram cinqüenta e, dez anos depois, oitenta. Dos mais tradicionais, com o palco em formato italiano, aos espaços que são adaptados de acordo com a montagem, existem salas de todos os estilos. Afinal, há durante praticamente o ano inteiro cerca de 110 peças adultas e cinqüenta infantis em cartaz disputando a atenção não apenas dos paulistanos. Poderoso atrativo turístico, os espetáculos são procurados por 41% dos visitantes da metrópole – uma média de 9 milhões de pessoas por ano. Aproximadamente 25% dos que aplaudiram três dos maiores sucessos da temporada, o musical Miss Saigon, que recebeu 250.000 pagantes em dez meses, e as comédias Os Homens São de Marte… E É pra Lá que Eu Vou e Às Favas com os Escrúpulos, beirando os 100.000 pagantes cada um em um ano, vieram de fora.

Os aplausos para os artistas ao final das apresentações são mais calorosos se os espectadores não sofrem em nome da diversão. Veja São Paulo formou um júri de doze especialistas para escolher os melhores teatros da cidade. São jornalistas que atuam na cobertura de artes cênicas, artistas, escritores e freqüentadores assíduos. Eles opinaram em dez quesitos, entre os quais nível de programação, atendimento, conforto, acessibilidade e facilidade para estacionar. O teatro com o maior número de votos foi o Sesc Anchieta, que recebeu vinte menções. Em segundo lugar aparece o Teatro Alfa, com catorze votos (veja quadro ). Foram incluídas na eleição somente salas dedicadas regularmente a montagens teatrais, deixando de fora locais voltados para a música, como o Auditório Ibirapuera e a Sala São Paulo, ambos de primeiro nível. No Portal Veja São Paulo, os internautas também puderam escolher suas salas prediletas. Ganhou disparado o Teatro Folha, no Shopping Pátio Higienópolis, com mais de 50% dos votos. Tamanha vantagem tem uma explicação: a administração do teatro convocou seus freqüentadores fiéis, pedindo a eles que participassem da escolha.

Inaugurado em 1967, o Anchieta é o mais antigo dos sete teatros mantidos pelo Serviço Social do Comércio. Projetado pelo arquiteto Aldo Calvo e pelo paisagista Roberto Burle Marx, nasceu de uma ousadia: reunir em um mesmo edifício, na Vila Buarque, um complexo esportivo, uma sala de espetáculos e um espaço para cursos e atividades cênicas. Ali se instalaria, em 1982, o Centro de Pesquisa Teatral (CPT), coordenado pelo diretor Antunes Filho. Na época de sua construção, poucos teatros ficavam fora do eixo tradicional, compreendido pelas regiões central e do Bixiga, e o Anchieta se beneficiou com o intenso fluxo de jovens devido a sua proximidade com as faculdades do Mackenzie e da antiga Faculdade de Filosofia da USP, na Rua Maria Antônia. “É, sem dúvida, nosso melhor teatro”, diz Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo. “Tem tamanho e formato muito adequados.”

Com visibilidade perfeita do palco, ótima acústica, cadeiras confortáveis, um simpático café e acessibilidade total, o Anchieta ainda oferece ingressos que raramente ultrapassam os 20 reais. É comum ver a capacidade esgotada com antecedência. Criado com 359 assentos, teve sua lotação reduzida para 320 lugares em 1998. A mudança ocorreu para que ele se adaptasse às normas de segurança e desse lugares aos espectadores com necessidades especiais. Considerado pelos jurados, ao lado dos quatro espaços da Unidade Provisória do Sesc Avenida Paulista, como o que tem a melhor programação, o Anchieta recebe uma média de três pedidos por dia de companhias interessadas em ocupá-lo. Um comitê interno decide a agenda, que segue normas como o ineditismo e a prioridade para textos nacionais. “A confiança do público é tão grande que muitos espectadores se dirigem ao teatro sem saber a atração”, acredita Miranda.

Voltado para montagens de grande porte, o vice-campeão Teatro Alfa, em Santo Amaro, surgiu em 1998 com um conceito inovador. Espaço de múltiplo uso, ele pode ter seu palco e sua platéia de 1 122 lugares modulados de acordo com a exigência do espetáculo. As confortáveis poltronas – citadas por quatro dos doze jurados de Veja São Paulo – foram criadas a partir de minuciosos cálculos para garantir a perfeita visibilidade dos 450 metros quadrados do palco, incluindo o fosso de orquestra, de qualquer parte da sala. O belo hall conta com circuito fechado de TV, elevador para transportar o público ao nível superior e um bar. Tudo isso fez do Alfa o cenário perfeito para a realização de musicais como My Fair Lady e West Side Story, além de balés de companhias nacionais e internacionais. “É um teatro que mostra todos os gêneros, com conforto e espaço, fazendo até da platéia superior um bom lugar”, afirma o administrador de empresas Paulo Fernando Péra Coelho, que costuma assistir a seis peças por mês.

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Diante de tanto investimento, as salas de porte médio sofrem constantes adaptações. O Teatro Faap, no Pacaembu, passou por uma reforma orçada em 800 000 reais entre julho e outubro de 2007. Saltou de 400 para 504 lugares com a abertura de um mezanino. Refletores, cabos de aço e suportes foram trocados. Além disso, é pintado de seis em seis meses. “O teatro precisa estar tão bonito vazio quanto cheio”, afirma Claudia Hamra, que dirige a sala há dez anos. Responsável pela Cult Empreendimentos, proprietária dos teatros Aliança Francesa, Raul Cortez, Renaissance e Vivo, Mario Martini diz que um bom atendimento da telefonista, eficiência na bilheteria, bom estacionamento e, por fim, uma sala equipada cativam o público. “Se você não facilitar a vida do espectador, ele vai alugar um DVD e ficar em casa.” Citado por dois jurados como o que tem a melhor acessibilidade, entre eles o escritor Marcelo Rubens Paiva, tetraplégico há 28 anos, o Teatro Imprensa, na Bela Vista, passou por cinco reformas em dezesseis anos. Sem nenhuma escada, é formado por rampas e traz dez de seus 449 lugares reservados para cadeirantes, cinco para obesos e outros seis para aqueles com mobilidade reduzida. “Minha preocupação essencial está em oferecer um bom serviço”, afirma a diretora Cíntia Abravanel.

Ainda que no próximo dia 28 a cidade perca uma de suas salas – o Teatro Crowne Plaza, localizado no hotel homônimo, em Cerqueira César, fechará as portas –, as opções não param de surgir. Apenas em abril, foram abertos os teatros Cosipa Cultura, no Jabaquara, e Gil Vicente, no campus da Universidade Bandeirante (Uniban), na Barra Funda. O circuito alternativo ganhou força na última década. Muitas salas proporcionam variadas formas de desenho na relação palco-platéia. Um dos ícones máximos da cena paulistana, o Teatro Oficina, na Bela Vista, foi tombado em 1982 e voltou reformulado em 1993 com um projeto da arquiteta Lina Bo Bardi. O palco é uma pista, a platéia dividida em três andares acomoda-se em arquibancadas e a luz natural auxilia na iluminação dos espetáculos concebidos pelo grupo de José Celso Martinez Corrêa. Instalada na Praça Roosevelt desde dezembro de 2000, a companhia Os Satyros faz da programação efervescente a marca de seus dois espaços, cada um com cerca de setenta lugares. Apenas em 2007, 76 montagens cumpriram temporada por lá, reunindo mais de 53 000 espectadores. “O Satyros é bem modesto, mas sua programação tem a qualidade de outras salas mais luxuosas”, diz o autor de novelas Silvio de Abreu. Sucesso semelhante registra o vizinho Espaço Parlapatões, que, desde a abertura, em setembro de 2006, já recebeu 56 peças, conferidas por mais de 64 000 pessoas. Fora dos limites da Praça Roosevelt, outros grupos disputam a atenção do público, como o Folias, com o Galpão do Folias, em Santa Cecília, e Os Fofos Encenam, instalado em um simpático sobrado da Bela Vista. Sinal da multiplicidade de uma cidade que espelha sua diversidade também nos palcos.

A escolha do público

Em enquete do Portal Veja São Paulo, 885 internautas puderam eleger seus teatros prediletos. Confira os dez mais votados

1º Teatro Folha – 485 votos

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2º Teatro Alfa – 120 votos

3º Teatro Abril – 44 votos

4º Espaço Parlapatões – 42 votos

5º Teatro do Centro da Terra – 31 votos

6º Teatro Imprensa – 20 votos

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7º Teatro Sesc Anchieta – 17 votos

8º Teatro Municipal – 12 votos

9º Teatro Oficina – 11 votos

10º Teatro Procópio Ferreira – 11 votos

Curiosidades teatrais

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O pai de todos

Um dos principais cartões-postais de São Paulo, o Teatro Municipal (foto acima) é o mais antigo em atividade e o que tem capacidade para receber o maior número de espectadores. Foi inaugurado em 12 de setembro de 1911. Acredita-se que naquele dia aconteceu o primeiro congestionamento da cidade. Boa parte dos 300 automóveis que circulavam pela São Paulo de então teria sido tirada da garagem para que seus donos comparecessem ao evento. Com 1?580 lugares – nem todos bons, pois muitos chegam a ter 50% da visibilidade prejudicada –, é palco tradicional de concertos, óperas e espetáculos de dança.

O preferido dos turistas

Luxuoso, confortável e com uma programação digna de Broadway. Palco dos grandes musicais em São Paulo, o Teatro Abril é o mais procurado pelos turistas. Cerca de 13% dos que visitam a capital e buscam uma programação teatral correm para as bilheterias da casa de espetáculos, localizada bem no início da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, na Bela Vista. Antigo Teatro Paramount, o Abril passou por uma repaginada geral e abriu as portas em 2001 com a versão nacional de Les Misérables. De lá pra cá, A Bela e a Fera, Chicago, O Fantasma da Ópera e Miss Saigon, em cartaz desde julho do ano passado, dão seqüência a essa história de sucesso.

Antes do espetáculo

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Desde sua abertura, em setembro de 2006, mais de 65 000 espectadores já assistiram aos espetáculos encenados no Espaço Parlapatões (foto acima), na Praça Roosevelt. Mas há quem bata ponto em sua sala de espera mesmo sem ter ingresso comprado. Por lá chegam a passar mais de 300 pessoas nas sextas e nos sábados. Entre uma bebida e outra, o local vira ponto de encontro. “Café, água, cerveja e gente interessante! É o teatro com melhor área de espera”, aponta a cineasta Laís Bodansky.

Parada certa

Encontrar uma vaga para o carro e deixá-lo lá paradinho e em segurança torna mais agradável o espetáculo de qualquer um. Votado por cinco dos doze jurados como o melhor estacionamento dos teatros da cidade, o do Sesc Vila Mariana até que não cobra caro pelo serviço. São 5 reais pela primeira hora e 1 real por hora adicional. As 180 vagas ficam distribuídas em três andares do prédio da Rua Pelotas, sete delas reservadas para portadores de deficiência e doze para idosos.

O futuro está nos shoppings

Pensou em cinema e já vem à cabeça um shopping center. É assim desde o fim dos anos 80. Só na última década, porém, os empresários do meio teatral passaram a investir nos centros comerciais. Pioneiro na cidade, o Teatro Folha abriu as portas em 2001, no Pátio Higienópolis, e recebe uma média de pagantes crescente a cada ano. Em 2006, 8 435 pessoas passaram por suas 305 poltronas. O número saltou para 9 665 em 2007. Com até seis espetáculos diferentes na semana, o Folha cativou uma platéia em busca de diversidade e lazer. “Nosso público é aquele que circula pelo shopping e já virou freqüentador assíduo”, afirma o diretor do teatro, Isser Korik, que pretende expandir seus negócios para os shoppings Jardim Sul e o futuro Vila Olímpia.

Proprietária desde 2003 do Teatro Copa Airlines, a empresária carioca Ecila Mutzenbecher reconhece que pisou em terreno desconhecido ao assumir a sala do Shopping Eldorado. “A tradição do paulistano é pensar nos teatros do Bixiga ou da Paulista, ao contrário dos cariocas, que preferem os shoppings”, afirma Ecila, dona de três salas no Rio. “Em cinco anos, os grandes teatros ficarão em shoppings ou lugares fechados”, diz Sérgio D’Antino, do Teatro Shopping Frei Caneca. Inaugurado em 2005, o Frei Caneca oferece conforto aos artistas, com onze camarins, salas de estar, cozinha e áreas de apoio para a equipe técnica.

Depois de dois anos em obras, o que será o maior teatro de shopping do país tem inauguração prevista para o segundo semestre. O teatro do Bourbon Shopping Pompéia ocupará quatro andares do centro comercial e acomodará 1 500 pessoas. Pelo palco de 550 metros quadrados – o do Teatro Alfa, por exemplo, tem 450 – passarão espetáculos teatrais de grande porte, como os musicais que se multiplicam pela cidade e companhias de dança, além de shows de música. “Os paulistanos não têm o hábito de assistir a shows em teatros e preferem as mesas das casas de espetáculos. Queremos mudar isso”, diz o sócio-administrador Carlos Konrath.

Sem o glamour de outrora

Em 1954, a atriz Maria Della Costa e seu marido, o empresário Sandro Polloni, inauguraram aquela que viria a ser a mais moderna sala da cidade. Projetado pelos arquitetos Oscar Niemeyer e Lucio Costa, o Teatro Maria Della Costa permaneceu por mais de duas décadas disputado por produtores e público, sempre pronto para formar filas na Rua Paim que dobravam a Avenida Nove de Julho. Administrado pela Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (Apetesp) desde 1978, o Maria, como é chamado pelos artistas, começou a decair nos anos 80. A agitação noturna foi transferida das imediações da Bela Vista e a insegurança passou a assustar quem circulava pelas redondezas.

Mesmo com uma programação constante, o glamour dos velhos tempos parece enterrado. Os gestores têm dificuldade para saldar a despesa fixa de seis funcionários e um IPTU superior a 40 000 reais apenas com os rendimentos de bilheteria. “Por ser um teatro de calçada, reivindicamos a isenção do imposto”, diz Ascânio Furtado, da diretoria da Apetesp. “Aos poucos, mudamos uma ou outra coisa, como o carpete trocado em 2007.” O público atual, porém, não aceita mais as poltronas malconservadas, a pintura ávida por reparos e a falta de conforto. “É o teatro com melhor visibilidade de palco da cidade, pensado por artistas, mas está maltratado e com uma programação difusa”, lamenta a jornalista Beth Néspoli.

Outro ícone da fase áurea do Bixiga, o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) começa a vislumbrar o fim da penúria. Fundado em 1948 pelo empresário italiano Franco Zampari, o celeiro de talentos como Cacilda Becker e Tônia Carrero está fechado desde o ano passado. Em fase de negociações, a Funarte pretende comprar o prédio de seus proprietários para um arrojado projeto: a instalação da biblioteca Jenny Klabin Segall, dona do maior acervo de artes cênicas do país. Depois de uma extensa reforma, o prédio da Rua Major Diogo terá novamente em atividade duas de suas salas, a principal (340 lugares) e uma secundária (240 lugares), além de um amplo centro de documentação e pesquisa. A previsão de entrega é para meados do ano que vem. Antes disso, está prevista a reabertura de outro espaço histórico. Também encampado pela Funarte, o Teatro de Arena Eugênio Kusnet será reinaugurado em agosto. Além da reativação do palco, que na época do regime militar recebia espetáculos de protesto, o local abrigará um centro de dramaturgia para cursos e debates.

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