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MC Guimê, o funkeiro emergente

Estrela do funk ostentação trabalhou em quitanda e lava-rápido. Hoje, fatura 300 000 reais por mês, faz sucesso com as mulheres e sonha mudar-se para uma mansão

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 17h33 - Publicado em 27 set 2013, 18h48
MC Guimê em gravação de clipe
MC Guimê em gravação de clipe (Thiago Fernandes/Veja SP)
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Guilherme Aparecido Dantas era um garoto pouco interessado em estudar, gostava de escutar funk esonhava em adquirir seu primeiro tênis Nike quando decidiu começar a trabalhar. Aos 12 anos, ele conseguiu um emprego em uma quitanda perto da “quebrada” em que vivia, em Osasco. O bairro era Vila Izabel, de classe baixa, onde morava em uma casa de fundos. Nunca faltou comida em sua mesa, mas não sobrava dinheiro para comprar brinquedos ou qualquer supérfluo. “Como só estudou até a 4ª série e atuava como eletricista, meu pai não tinha condições de me dar um colar de casca de coco de 7 reais”, lembra. Um bico levou ao outro e, além de vender bananas e kiwis, o rapaz passou a fazer serviços como carregador de flores nas madrugadas de terças e sextas na Ceagesp. Também deu expediente como limpador de carros em um lava-rápido. Em um dia, faturava 80 reais, se dobrasse o turno. Torrava tudo com roupas e acessórios. “Eu ia sempre à Galeria Pagé para encontrar tênis da hora, não gastava mais de 200 reais e fazia o maior sucesso.”

+ Em vídeo: ouça a nova música de MC Guimê

 

Hoje, com 20 anos e nacionalmente conhecido como MC Guimê, ele está tirando a barriga da miséria. E não precisa colocar no seu corpo fechado por dezenas de tatuagens nenhuma roupa falsa ou contrabandeada. Ele virou o principal nome do chamado funk ostentação do país, estilo de música marcado por exaltar grifes, carrões e mulheres. A letra de seu maior hit, Plaque de 100 (o clipe mostra o cantor segurando maços de notas cenográficas de 100 reais), diz assim: “A noite chegou, nóis partiu pro baile funk / E, como de costume, toca a nave (carro) no rasante / De Sonata, de Azera, as mais gata sempre pira”. Como é comum nessa linha musical, a lista de objetos de desejo é proporcionalmente inversa à riqueza poética. Tanta projeção o aproximou de celebridades como o jogador Neymar, do Barcelona e da seleção brasileira, a quem chama de “mano” e ao qual prestou homenagem em uma música.

Mc Guimê ao lado de Neymar
Mc Guimê ao lado de Neymar ()
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Nenhum outro novo nome do gênero aparece em tantos programas da Rede Globo, entre eles Altas Horas e Esquenta. “Quando assisti a meu filho ao lado da Xuxa, vi que ele não estava de brincadeira”, reconhece o pai, Paulo Eduardo. “Se dependesse de mim, ele nunca teria se tornado funkeiro.” Com a mãe, a relação é distante. Ela abandonou a família quando ele era bebê, reapareceu algumas vezes, mas não o encontrava havia mais de dez anos. Há seis meses, porém, marcou presença em um show do filho em Caraguatatuba, a cidade do Litoral Norte onde mora, e o surpreendeu na fila de fãs no camarim. Desde então, Guimê deposita uma ajuda de custo mensal para ela, mas deixa claro que prefere a madrasta, Silvana, nome que tatuou no antebraço direito.

MC Lon, MC Danado, MC Dimenor e outros funkeiros
MC Lon, MC Danado, MC Dimenor e outros funkeiros ()

Na época em que o cantor começou a se interessar por música, os estilos de funk que estavam na moda eram o proibidão, que exalta facções criminosas, e o pornográfico. Preocupado com a educação do filho, seu pai o proibiu de ouvir esse repertório em casa. “Ele fazia jogo duro”, recorda o artista. As primeiras composições vieram no começo da adolescência e os apelos paternos não o impediram de escrever a controversa Especialista em Fugas: “Acelera forte, os malote no tanque e o fuzil na garupa / Pilota com uma mão e atira com a outra / Especialista em fugas”. Guimê afirma que tudo mudou de três anos para cá. “A galera não quer mais saber de coisa errada, está mais interessada em letra sobre marca de roupa e de coisas que precisa ter para ficar bem na ‘fita’.”

Ele sempre impressionou os amigos pelo dom de fazer rima e improvisar. Frequentava os bailes funk e pedia para se apresentar, mesmo que de graça, para mostrar que estava interessado em entrar no negócio. A fim de conseguir fechar convites para shows, criou um perfil no Orkut passando-se por agente de si próprio. Então, ligava para as casas de shows oferecendo seu “astro” — no caso, ele mesmo. Muitos “contratos” eram fechados sem nenhum cachê. Um deles lhe rendeu 50 reais. “Dava para pagar a condução para Guarulhos, onde foi a apresentação.” Sua primeira aquisição com a música foi um par de óculos de sol modelo Juliet, da Oakley, que na promoção custou cerca de 700 reais. “Queria usar nas apresentações para fazer uma presença da hora”, explica.

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MC Guimê no clipe Plaque de 100
MC Guimê no clipe Plaque de 100 ()

Sua sorte mudou quando conheceu em 2010 Hugo Maximo, que, na época, produzia shows da banda adolescente Restart. “Contratei-o para distribuir panfletos das apresentações que iriam acontecer na região de Osasco”, recorda Maximo. “Mas ele ficava no meu pé dizendo que queria cantar e me ligava fazendo rimas para provar que era bom.” Depois de tanta insistência, o empresário deu a ele a chance de se apresentar em uma casa de shows na Zona Leste. Gostou do resultado e firmou uma sociedade. “Percebi que o menino era bom e decidi colocá-lo para fazer a abertura de alguns shows.” Antes disso, no entanto, o aspirante teve de mudar de postura: “Falei que ele tinha de ser como os cantores sertanejos: não se atrasar, honrar os compromissos e entregar um produto legal”. Maximo é dono de 50% do produto Guimê — ou seja, divide com ele o faturamento mensal de 600 000 reais (o cachê por show fica entre 25 000 e 30 000 reais). O empresário agencia ainda expoentes do gênero como os MCs Lon e Rodolfinho (veja o texto ao lado).

Os shows do funkeiro de Osasco são breves (no máximo quarenta minutos), o que lhe permite fazer até cinco apresentações por noite. Ele já tocou em casas chiques como Royal e Club A, além de boates em outros estados. Por chegar com uma equipe de dez pessoas — só seguranças são três —, fica sem ter a oportunidade de usufruir a fama. Há muitas garotas bonitas que, segundo Guimê, jamais olhariam para sua cara franzina antes de ele se tornar rico e famoso. Elas fazem fila para tirar foto (e uma casquinha) do ídolo. “Dou uns beijos, mas daí já chega o meu produtor dizendo que temos de ir embora e voar para o lugar onde vai ser o próximo show”, reclama. Diante dos amigos, ele é bem franco: queixa-se de não ter tempo para levar as garotas até o hotel.

Atualmente, o astro da ostentação vive em um apartamento no 20º andar de um prédio na área mais valorizada do Tatuapé, na Zona Leste. Parece imóvel decorado por construtoras quando querem vender uma unidade na planta. Sofás, cozinha e armários novinhos e impessoais, sem a cara do dono. Um boneco ao estilo Bob Marley representa um dos únicos toques personalizados. A exemplo do ídolo jamaicano do reggae, Guimê diz ser adepto dos cigarros não convencionais. “Para mim, a erva é igual ao fumo normal, com a vantagem de não me fazer tossir”, afirma o MC. Ao mesmo tempo que fala naturalmente sobre o uso ilegal da droga, ele se considera uma pessoa pacata e ligada à família. Cita como sonho de consumo dar uma casa ao pai, que ainda resiste a sair da sua precária moradia, em Osasco. O outro desejo é comprar uma mansão em Alphaville, onde estacionará o Volvo XC60 avaliado em 160 000 reais, seu grande orgulho material. Recentemente, ele fez um show na casa de um morador do condomínio da Grande São Paulo e ficou encantado pelo lugar. “Tem espaço, natureza, silêncio. Pretendo ter uma residência lá, porque em apartamento não dá para fazer o que a gente quer.”

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Vida dourada :

O perfi l do maior expoente do gênero ostentação

Nome: Guilherme Aparecido Dantas

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Idade: 20 anos

Onde nasceu: “Na quebrada Vila Izabel, em Osasco”

Onde mora: em um apartamento de 1 milhão de reais, no Tatuapé

Tatuagens: perdeu a conta. Tem desde o nome da madrasta no antebraço direito até manchas de tiros de paint-ball na barriga

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Meios de locomoção: Volvo XC60 e moto Honda CBR 600 RR

Sonho de consumo: mansão em Alphaville

Vaidade: não sai de casa sem o cordão de ouro com pingente em forma de diamante (30 000 reais)

Cachê: entre 25 000 e 30 000 reais

Faturamento mensal: cerca de 600 000 reais (fica com 50% desse total)

Estado civil: “Antes as minas não me olhavam, agora eu pego geral”

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