Mariana Caltabiano encontra o sucesso como diretora de filmes infantis
Depois de perder dois irmãos em um acidente de avião e em seguida o pai, vítima de infarto, Mariana Caltabiano dá a volta por cima
Mariana Caltabiano tem um sobrenome que é sinônimo de loja de veículos de luxo, mas não entende absolutamente nada de carros. Seu maior talento é inventar histórias para crianças. Bisneta do imigrante siciliano Rosário Caltabiano, que em 1923 abriu a primeira das 25 concessionárias da família, essa paulistana criada no Morumbi sempre preferiu os livros ao ronco dos motores. Na adolescência, enquanto seus irmãos mais velhos assumiam postos importantes na empresa, decidiu estudar publicidade. Logo conseguiu um estágio na agência de Nizan Guanaes e começou a ganhar o próprio dinheiro. “Eu sonhava trabalhar como escritora, mas meu pai pensava que seria apenas mais um hob-by”, lembra. O tempo mostrou que o patriarca estava enganado. No fim dos anos 90, Mariana emplacou personagens de sucesso como a abelhinha Zuzu e a garota Garrafinha, que tiveram suas aventuras exibidas, respectivamente, pelo SBT e pela Globo. Trabalhou como roteirista nos programas de Eliana e Angélica e se revelou uma competente autora de livros infantis – sua mais recente obra, Grandes Pequeninos, o diário de um bebê durante os nove meses na barriga da mãe, vendeu 40 000 exemplares. Hoje com 37 anos, casada e mãe de dois filhos, Mariana é dona do próprio estúdio de animação. No domingo (30), seu primeiro longa-metragem, As Aventuras de Gui & Estopa, será exibido pelo canal pago Cartoon Network.
Gui e Estopa formam uma dupla de cães com mentalidade de garotos de 10 anos. O primeiro é baixinho e esperto. O outro é grande, guloso e distraído. Assim como o Cascão e o Cebolinha ou o Scooby-Doo e o Salsicha, quando se juntam, eles invariavelmente arrumam confusão. Desenvolvidos por Mariana e sua equipe de dez desenhistas, eles protagonizam quatro produções distintas. A primeira é uma série de 26 episódios com quatro minutos de duração cada um, que vai ao ar aos domingos pelo Cartoon Network. A segunda é um filme com 71 minutos, que foi exibido no Festival Anima Mundi e faz parte do Projeto Escola Cinemark, de sessões de cinema pré-agendadas. “O longa-metragem explica as diferentes etapas de uma produção de cinema, como o roteiro e a dublagem”, diz Mariana.
Há ainda as séries Gui & Estopa no Fundo do Mar e Gui & Estopa em Bichos do Brasil, ambas com estreia prevista para 4 de outubro. São espécies de minidocumentários sobre natureza. Neles, os cãezinhos contracenam com imagens da fauna brasileira captadas pelo cinegrafista Law-rence Wahba em locais como Fernando de Noronha, Pantanal e Amazônia. A ideia é fazer as crianças aprender ecologia de maneira divertida. “É a primeira vez que o Cartoon Network exibe uma produção em live-action desenvolvida por e para brasileiros”, explica a gerente do canal para a América Latina, Daniela Vieira.
Atualmente, Mariana produz seu segundo longa, Brasil Animado, com cenas em 3D. As novidades chegam ao fim de uma fase difícil, em que ela precisou superar perdas irreparáveis. Em julho de 2007, seus irmãos João e Pedro, então com 40 e 37 anos, morreram no acidente com um Airbus da TAM no Aeroporto de Congonhas. Dezessete meses depois, muito deprimido, o chefe do clã, Bruno Caltabiano, de 65 anos, teve um infarto e não resistiu. Apesar de Mariana não ser acionista da empresa, coube a seu marido, Marcelo Castro, assumir a administração dos negócios – os filhos de João e Pedro são menores de idade. “Não fosse a satisfação que encontro no meu trabalho, acho que enlouqueceria”, afirma ela.