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Mãe aos 40: paulistanas priorizam a carreira antes de ter o primeiro filho

Avanço das técnicas de reprodução assistida faz disparar o número de partos em idade madura

Por Fábio Soares
Atualizado em 5 dez 2016, 19h31 - Publicado em 18 set 2009, 20h27

A quantidade de mulheres que adiam a maternidade para depois dos 40 anos chama atenção na cidade. Entre 1999 e 2007, segundo o IBGE, a proporção de mães nessa faixa etária subiu 51% em relação ao total de partos. Passou de 1,98% para 3%, quase o dobro da média nacional. Dois fatores explicam a mudança: a maior preocupação feminina com a carreira profissional e a evolução das técnicas de reprodução assistida. Em maternidades particulares, o crescimento é ainda mais acentuado. No Hospital Santa Catarina, o número de partos se manteve estável nos últimos dez anos, mas mais que triplicou entre as mulheres a partir dos 40 (de sessenta para 202) e já representa 5% do total. No São Luiz, houve crescimento de 106% (de 213 para 440) no mesmo período. “A gravidez passou a ser um dos assuntos em pauta na vida das mulheres. Não o único”, afirma Alberto D’Auria, obstetra e diretor do Hospital Santa Joana. Em 1985, a participação feminina no mercado de trabalho era de 36,9% na região metropolitana. No ano passado, elas representavam 45,1%.

A assistente jurídica Edna Marli Tokuda, de 40 anos, diz que sempre quis ter filhos, mas priorizou os estudos e o trabalho. Cursou artes plásticas na USP por prazer e direito no Mackenzie por obrigação depois de ter passado em um concurso no Tribunal de Justiça. Só então se casou, há dois anos. “Viajei bastante e conquistei estabilidade no emprego”, conta ela. Este Dia das Mães terá um sabor especial para Edna. Sua filha, Amanda, nasceu em 2 de abril, fruto de uma gravidez espontânea. “Certamente eu teria sido uma mãe dividida se engravidasse muito jovem.” A executiva Laura Pedroso também esperou o sucesso profissional para ser mãe. Responsável por trazer a joalheria Tiffany para o Brasil, ela engravidou em 2007, aos 40 anos. “Fiquei grávida numa fase em que já não trabalhava tanto. Acho que por isso não precisei recorrer a nenhum método de fertilização”, acredita. Aos 40 anos, a mulher tem apenas 8% de sua capacidade reprodutiva. Isso porque, com o tempo, os óvulos perdem parte de seu potencial de fertilização e de evoluir até o fim da gestação. Nessa faixa etária aumentam ainda as ocorrências de hipertensão e diabetes nas gestantes, além da possibilidade de o bebê nascer prematuro. O principal temor é a síndrome de Down. Aos 30 anos, o risco de ter um filho com essa má-formação genética é de 1 para 1 000. Aos 40, é de 1 para 100. “O avanço da medicina encoraja, mas não se pode esquecer que continua sendo uma gravidez de risco”, diz o ginecologista e obstetra Eduardo Cordioli, coordenador da maternidade do Hospital Albert Einstein.

Não existem apenas desvantagens, é claro. “Aos 40, as mulheres são bastante conscientes e seguem à risca as recomendações médicas, pois a gravidez é planejada e a condição econômica, geralmente, melhor”, analisa a obstetra Tânia Schupp Machado, doutora pela USP com uma tese sobre gravidez aos 40 anos. A situação financeira é essencial para materializar o sonho do casal com dificuldades para ter filho nessa fase da vida. Os custos de cada tentativa de fertilização in vitro – a principal técnica de reprodução assistida atualmente – giram entre 10 000 e 15 000 reais em clínicas privadas de São Paulo. Em uma primeira tentativa, as chances de sucesso nessa faixa etária atingem os 25%, com a utilização de, no máximo, quatro embriões. Há dez anos, os finais felizes não passavam de 15%. “Esse número é bem expressivo, pois a partir dos 40 o índice de êxito despenca”, alerta Emerson Barchi Cordts, diretor da clínica Embryo Genesis Reprodução Humana e obstetra do Hospital São Luiz.

A professora Maria Recalde, de 41 anos, teve seu primeiro filho há três. Em março, deu à luz duas gêmeas. Ao todo, passou por doze fertilizações. “É preciso estar decidida e ter paciência”, afirma. Das cerca de 20 000 fertilizações in vitro realizadas por ano no Brasil, mais da metade ocorre na capital paulista, sede de pelo menos 100 clínicas especializadas. O Hospital das Clínicas, a Unifesp, a Santa Casa e o Pérola Byington são os únicos que oferecem o tratamento gratuitamente, mas há fila de espera.

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