Alunos do Mackenzie protestam contra chanceler crítico da Lei da Homofobia
Carta publicada na internet por Augustus Nicodemus irritou estudantes e ganhou as páginas das redes sociais
A Rua Maria Antônia, que ficou conhecida por sediar confrontos do movimento estudantil durante o regime militar, voltou a ser palco de uma manifestação. Foi na esquina com a Rua Itambé que cerca de 500 pessoas, segundo a CET, protestaram, na última quarta, contra uma carta publicada na internet pelo chanceler do Mackenzie, Augustus Nicodemus, representante do Instituto Presbiteriano na universidade. O documento critica o projeto de lei que pretende criminalizar a homofobia. Ao citar o “Manifesto Presbiteriano contra a Lei da Homofobia”, produzido em 2007, Nicodemus afirma que o direito de livre expressão, garantido pela Constituição, será tolhido caso a norma seja aprovada.
O texto irritou alunos e ganhou as páginas das redes sociais. Estudantes marcaram data e horário do protesto pelo Facebook. Havia militantes do movimento gay, drag queens e alunos de outras universidades. Com carro de som, bandeiras com arco-íris e bexigas brancas, eles entoaram gritos como “Contra a homofobia, a luta é todo o dia” e discursaram por duas horas. “Nós repudiamos a imposição de valores religiosos dentro de um espaço universitário”, disse o estudante de arquitetura Leonardo Nones. “Tomamos essa atitude porque nos sentimos ofendidos.”
O coordenador de políticas de diversidade sexual da Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo, Dimitri Sales, também esteve lá e discursou a favor da manifestação: “Não podemos nos intimidar”. Ao se apresentar ao microfone, o padre anglicano Arthur Cavalcante, da Paróquia de Santa Cecília, recebeu vaias. “Vim aqui para dizer que a religião não pode ser usada como um instrumento de repressão”, afirmou. Saiu sob aplausos. Depois da reunião em frente ao Mackenzie, algumas pessoas caminharam até a Avenida Paulista, onde três jovens foram agredidos no dia 14. No início do trajeto, dois manifestantes acabaram alvejados por ovos atirados de um condomínio residencial da Avenida Higienópolis.
Procurado por VEJA SÃO PAULO, o chanceler Nicodemus, que também exerce o cargo de pastor auxiliar na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, não quis comentar o assunto. Em nota oficial, o Mackenzie “reconhece o direito de manifestação pacífica”. Afirma ainda que “sempre prezou pelo respeito à diversidade e pelo direito de liberdade de consciência e de expressão religiosa”.