Museus particulares mantêm obras de artistas contemporâneos
Mantidos por uma nova geração de magnatas-mecenas, locais costumam ficar no meio do nada
Seleção natural
Em 2012, Londres ganhará uma torre de 115 metros de altura — 19 metros a mais que o Big Ben — e 1.400 toneladas de aço vermelho. Assinada pelo escultor indiano Anish Kapoor, um dos nomes mais incensados do cenário atual das artes plásticas, a obra custará 31 milhões de dólares. A cifra dá pistas sobre o valor de outra escultura de Kapoor — uma espécie de corneta escarlate gigantesca —, que parece brotar entre bucólicas colinas, a 50 quilômetros de Auckland, na Nova Zelândia.
Com 84 metros de comprimento e feita de PVC e aço, “Dismemberment: Site 1” é uma das maiores instalações permanentes ao ar livre do mundo. É a estrela da coleção particular de vinte peças, todas monumentais, da Gibbs Farm, uma fazenda de pouco mais de 400 hectares, por onde passeiam emas e ovelhas. Aberta à visitação apenas por agendamento, a área pertence a Alan Gibbs, dono de uma das maiores fortunas do país.
Gibbs encomenda para os artistas, sem a ajuda de um curador, os trabalhos que se mesclam ao verde e ao Mar da Tasmânia. O mecenas, que começou a colecionar arte nos anos 60, sempre quis comissionar artistas. “Não planejei ter as maiores obras”, diz Gibbs. “É a paisagem que demanda as dimensões.” Para mais informações, Gibbs Farm: info@gibbsfarm.co.nz.
Jardim de esculturas
Criações de nomes festejados da atualidade — Nathan Coley e Cornelia Parker, por exemplo — estão entre as vinte obras de Jupiter Artland, nos arredores de Edimburgo, na Escócia. Foram feitas para os jardins de 32 hectares da Bonnington House, propriedade do casal de colecionadores Nicky e Robert Wilson, cuja fortuna foi erguida graças à indústria farmacêutica especializada em homeopatia.
Há décadas, eles convidam um artista para uma temporada no lugar. Ali, ele estuda a topografia do terreno e a variação de cor conforme as estações do ano. Projeta, então, uma peça “sob medida”. É o caso de “Over Here”, do britânico Shane Waltener — a maior de uma série de teias de aranha, com 3,5 metros de diâmetro. Jupiter Artland: www.jupiterartland.org.
À moda brasileira
A cerca de 60 quilômetros de Belo Horizonte, o Instituto Cultural Inhotim, desde 2006, é a materialização do sonho do mineiro Bernardo Paz, empresário do ramo da mineração. Paz transformou a cidade de Brumadinho em destino obrigatório para os curadores internacionais. Em sua fazenda de 645 hectares, com paisagismo de Roberto Burle Marx, há dezessete pavilhões, cada um dedicado a um artista — caso de Hélio Oiticica e de Adriana Varejão, ex-mulher de Paz.
Há ainda vinte trabalhos site-specific, como “Beam Drop Inhotim”, do americano Chris Burden. A instalação possui 71 estacas de ferro que foram arremessadas de um guindaste a uma altura de 45 metros sobre uma área de cimento — do jeito que caíram, permaneceram, tal qual um jogo de varetas. Carrinhos de golfe ficam à disposição do público para o transporte dentro da propriedade. Ainda neste ano serão inaugurados um pavilhão dedicado a Lygia Pape e três obras ao ar livre, assinadas pelos italianos Giuseppe Penone e Mario Merz e pela brasileira Marilá Dardot. Inhotim: www.inhotim.org.br.
Disneylândia subversiva
O Museum of Old and New Art (Mona), em Hobart, na Tasmânia, tem dois bares, uma cascata artificial e 2.210 peças do investidor David Walsh: de múmias egípcias a pinturas de Jean-Michel Basquiat, talvez o mais idolatrado artista dos anos 80. Walsh, dono de uma vinícola ao redor do Rio Derwent, abriu sua coleção ao público em janeiro deste ano (é possível abastecer a adega com vinhos ali fabricados). O conjunto segue apenas seu gosto pessoal. Ele, inclusive, se recusa a identificar as obras. Mas oferece a alternativa de ouvir entrevistas com os artistas. “Não quero dizer para as pessoas o que elas têm de pensar”, afirma, sobre o lugar que batizou de “Disneylândia subversiva”. “Quero chocar e divertir.”
A mais recente aquisição, uma versão da obra Cloaca, do belga Wim Delvoye, exemplifica esse espírito. Trata-se de uma máquina que, com bactérias vivas, refaz o processo digestivo humano. Muito chocante para seu gosto? Procure diversão no restaurante do museu. E termine a visita se hospedando num dos oito hotéis-apartamento adjacentes ao museu. Mona: www.mona.net.au.
Ode a um único artista
O vinicultor suíço Donald Hess mudou a carreira do artista plástico americano James Turrell ao decidir construir um museu dedicado apenas a ele e erguido segundo as suas especificações. Trata-se do James Turrell Museum e fica em Colomé, na Argentina, onde o clã Hess possui um vinhedo. Ali estão cinco décadas da carreira de Turrell, que pesquisa a relação da luz com o espaço. São nove salas numa área de 1.700 metros quadrados, no Vale Calchaqui, no norte do país.
Turrell tem no currículo prêmios de instituições como o Guggenheim e passa a maior parte do tempo em Flagstaff, no Arizona. O museu exemplifica como a combinação de investimento pesado, natureza exuberante e arte proporciona um cenário fora dos padrões. Turrell talvez deva parte do reconhecimento de seu talento — ele está entre os principais nomes da produção contemporânea — a seu mecenas. James Turrell Museum: www.estanciacolome.com.