Conheça a história de Luciana Campos e Rio Sora, mãe e filho que compartilham amor pela arte
Designer de moda fala sobre o olhar para o grafismo do filho, que será responsável pela identidade visual do Centro Municipal para Pessoas com TEA
Pelo ateliê de Rio Sora, artista de apenas seis anos, se espalham telas coloridas, cartazes com grafismos e inúmeros desenhos em papéis sulfite. Neles, são traçados mapas de bairros da cidade e da casa, que mais que ateliê é o lar de Rio e Luciana Campos. Mãe e filho que compartilham o amor um pelo outro e pela arte.
“Quando ele era muito pequeno a gente fazia exercícios de aquarela com ele. Mas com esse olhar voltado para o grafismo, a arquitetura é totalmente dele. Muitas crianças atípicas desenvolvem habilidades assim muito cedo. Com um ano, ele começou a falar o alfabeto, identificar letras do russo, do inglês ”, conta Luciana.
No espaço, tomado pelas criações de Rio, a mãe observa e apoia, mas só quando chamada. “A gente não produz junto, ainda não tem essa troca, sou quase uma assistente. Ele manda embora, aí fala ‘vai para lá’. Nem o sulfite eu posso pegar”, brinca a artista.
Formada em design de moda, Luciana passou por vários ramos artísticos. “Até com paisagismo já trabalhei. O Robson [Higa, pai do Rio], é designer gráfico e acho que esse olhar do grafismo do Rio vem um pouco dele. Mas o que a gente faz é deixar ele livre para imaginar. Como pais, temos que entrar na brincadeira, no lúdico. E é isso que incentivamos nele”.
Neste ano, Luciana e Rio terão um desafio de grandes proporções. O pequeno está responsável pela identidade visual do primeiro Centro Municipal para Pessoas com Transtorno do Espectro Artista, com previsão para ser inaugurado em novembro.
“Estamos no processo de negociação, vendo algumas informações estruturais. Ele vai pintar seis áreas. Como tem áreas internas e externas, é preciso ver os processos, os materiais, porque é um projeto que não pode se desgastar rápido”, conta Luciana.
Por conta do tamanho do projeto, eles convocaram um time de pessoas do meio para reproduzir as criações de Rio no local. “Estamos vendo se ele cria na mesma proporção no tablet. Nossa preocupação são com as tintas tóxicas e por ele ser uma criança exercendo uma função. Ele ia ficar feliz da vida subindo em andaimes, já eu…”.
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Mãe depois dos 30, Luciana conta sobre a rotina cronometrada. “A gente tem uma rede de apoio limitada. Eu entendo, após a maternidade, que não dá para levar as coisas ‘no flow’. Ainda mais porque o Rio é uma criança atípica, então ele faz nove horas de terapia por semana, por exemplo”, compartilha. “Mas a maternidade é uma coisa muito incrível. Romantizando por um lado, é uma experiência única, incomparável. Vira uma chave sobre existir e a razão de estar no mundo. E eu fiquei mais fofa”.
Além das tarefas cotidianas como mãe e artista, Luciana também administra o perfil de Rio Sora nas redes sociais, que conta com 137 000 seguidores. “Sempre achei brega pais criarem perfis para crianças. Porém, depois que recebemos o diagnóstico dele eu repensei. Não tinha ninguém no nosso meio que fosse uma referência e nos sentimos muito sozinhos. Eu decidi criar porque quero que as pessoas saibam que meu filho é autista e é uma criança saudável. É desafiador, mas ele tem que fazer parte da sociedade, ele tem que ser incluso.”