Linha Amarela: trecho entre Paulista e Faria Lima já está operando
Plataformas com paredes de vidro, trem sem condutor e esteira rolante chamam a atenção do povo, que aposta no transporte público
Estação Faria Lima, Largo da Batata, quarta-feira passada, 9h35. Tal e qual São Tomé, muitos paulistanos precisaram ver para crer. E, não bastando ver, quiseram filmar. Com o celular posicionado, um homem cruza a passagem de vidro entre as catracas registrando tudo o que vê. Mais atrás, um menino fotografa cada detalhe com uma câmera digital e, logo, um senhor japonês saca sua máquina profissional.
Durante o percurso rumo à plataforma, mais flashes. Muitos passageiros parecem não ter pressa de pegar o metrô que leva ao terminal Paulista, distante 3,6 quilômetros e a três minutos e meio dali. Inauguradas pelo governador Alberto Goldman na última terça (25), Paulista e Faria Lima, as duas primeiras estações da Linha 4 – Amarela, atraíram 45 000 pessoas em três dias — 17 000 só na quinta (27). É quase o quádruplo do previsto pela concessionária ViaQuatro, responsável pela operação e manutenção do novo ramal. “Tivemos uma surpresa”, afirma Luís Valença, presidente da empresa. “Muita gente veio motivada pela curiosidade, e por não haver cobrança de tarifa.”
O ramal vem funcionando em esquema de “operação assistida”: gratuitamente, de segunda a sexta, das 9 às 15 horas. Ainda não está definida a data em que a venda de bilhetes terá início. “Precisamos avaliar melhor para saber se será daqui a uma ou três semanas”, explica Valença. Quando pronta, a Linha Amarela terá 12,8 quilômetros, com onze estações, e ligará a Luz, na região central, à Vila Sônia, na Zona Oeste). Já é possível ter uma ideia do que vem por aí. A começar pela identidade visual. Nos totens externos e no interior das estações, sai o logotipo do Metrô e entra o símbolo amarelo da ViaQuatro. As antigas catracas giratórias foram substituídas por portas de vidro automáticas de 1,80 metro de altura. Outros aparatos ajudam a fazer dessa linha a mais moderna da cidade. Paredes de vidro separam a plataforma de embarque dos trilhos. Emparelhadas com os pontos de entrada e saída do trem, as portas transparentes só se abrem quando ele estaciona.
Mario Rodrigues
As irmãs Thaís e Daniela Rezende, de Uberlândia: tour subterrâneo
“Achei tudo muito bonito e confortável”, diz a empresária Thaís Rezende. Ela e a irmã, Daniela, vieram de Uberlândia, Minas Gerais, para participar de um congresso na capital paulista. Aproveitaram a manhã livre para passear de metrô: embarcaram no Tietê, fizeram baldeação na Ana Rosa para a Linha Verde e aproveitaram para incluir o novo trecho no tour subterrâneo. Mais silencioso, o trem tem ar-condicionado e passagem livre entre os vagões, o que pode ajudar a equilibrar aglomerações em horários de pico. Das catorze composições adquiridas, oito já chegaram da Coreia do Sul. Três delas circulam entre os terminais Faria Lima e Paulista e as outras começarão a rodar conforme o aumento de demanda. Compostos de seis carros cada um, os trens dispensam a presença de condutor e funcionam por meio de um sistema automático. O monitoramento é feito a partir do Centro de Controle Operacional, no Pátio Vila Sônia. Lá, trinta pessoas dividem-se em turnos e não tiram o olho do telão de 12 metros de comprimento por 2,1 metros de altura, que exibe a posição exata das composições, além de imagens da câmera de segurança — há quatro delas em cada vagão.
Mario Rodrigues
Os empresários Alexandre Horta e Rodrigo Catani (à dir.) reclamam com um supervisor: falta de informação sobre a conexão com a Linha Verde
“Mandamos nossos funcionários-chave para um treinamento em Paris”, conta Valença, da ViaQuatro. “Lá, a Linha 14 funciona sem condutor há dez anos.” Por aqui, vários usuários se espremem para observar os trilhos de perto, aproveitando a ausência de condutor. Explica-se: na dianteira do primeiro carro, dois janelões deixam à vista o caminho. Perto das 10h30, um engenheiro da Secretaria dos Transportes Metropolitanos fazia anotações apoiado no parapeito de uma das janelas. Uma comissão da secretaria monitora, por meio de relatórios diários e inspeções presenciais, o sistema administrado pela iniciativa privada.
Alguns ajustes ainda precisam ser feitos. De ponta a ponta, um engenheiro coreano circulou a manhã toda entre os vagões, observando o que estava bom e o que precisava ser melhorado. A maior parte das reclamações era relacionada à conexão com a Linha 2 – Verde.
Mario Rodrigues
Felipe Bonsenso, na esteira rolante: só para matar a curiosidade
Vindos da Estação Consolação, na Avenida Paulista, diversos usuários subiram na esteira rolante com destino à Paulista, na Rua da Consolação. Depois da visita, se quisessem retornar ao ramal verde, teriam de sair à rua, andar até a Estação Consolação e comprar um novo bilhete. Isso evita que passageiros utilizem o metrô antigo sem pagar. “Não está explicado em lugar nenhum”, reclamava Alexandre Horta, sócio de uma empresa de consultoria. Ao lado de dois colegas, ele protagonizou um bate-boca com um supervisor para ter direito de voltar pela esteira. Tanto fizeram que conseguiram. Com a meta de ir mais rápido de casa, na Vila Prudente, ao trabalho, em um banco na Avenida Juscelino Kubitschek, Priscila Meira embarcou na Estação Sacomã. Ela levou uma hora para chegar à Faria Lima e caminhava apressada, pois ainda precisaria tomar um ônibus. Menos preocupado, Felipe Bonsenso, estudante de direito do Largo São Francisco, queria só matar a curiosidade. “Trata-se de um grande avanço, inclusive na parte arquitetônica”, diz. “Mas ficará bom mesmo quando o transporte público tiver maior cobertura.” Só assim os motoristas deixarão o carro em casa e os congestionamentos diminuirão. É o que todos esperam poder registrar com seus celulares e câmeras digitais.
O trajeto da expansão
Para quando estão previstas as outras estações da Linha 4 – Amarela