“L’Illustre Molière” faz tributo ao rei da comédia
Com entrada franca, espetáculo faz recortes das peças e da biografia de Molière
No programa distribuído aos espectadores, o crédito aparece justo e até humilde. O autor de “L’Illustre Molière” surge — sem disfarces de “adaptação” ou “criação coletiva” — identificado como Jean-Baptiste Poquelin, o próprio Molière (1622-1673). Modéstia dos integrantes da Companhia D’Alma, que, baseados na dramaturgia concebida por Sandra Corveloni, Lara Hassum e Mateus Monteiro, fazem uma montagem capaz de romper com o óbvio. Não estão ali só fragmentos de suas comédias ou recortes biográficos, mas um contraponto ao teatro e aos costumes da época em relação às regras sociais e artísticas de hoje. É aí que se revela a personalidade do espetáculo dirigido por Sandra.
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Ambientada no século XVII, a ação se passa nos bastidores de um teatro. A plateia do Teatro do Sesi assiste, como se estivesse na Paris da época, a trechos de “O Burguês Fidalgo”, “As Eruditas”, “Don Juan” e “Tartufo”. Nos camarins tornam-se evidentes as preocupações com contas atrasadas, a pressão dos poderosos e, principalmente, a frágil saúde de Molière. Como o protagonista, Guilherme Sant’Anna esbanja desenvoltura ao transitar entre criador e criaturas, distinguindo os limites de obra e intimidade. AÏnados, os demais atores (Paulo Marcos, Angela Fernandes, Amanda Acosta, Caio Salay, Lara Hassum e Mateus Monteiro) permanecem nas extremidades do palco, preparando-se para a próxima entrada. Amparada pelos figurinos e cenários de Zé Henrique de Paula e pela direção musical de Fernanda Maia, a encenação cativa e mostra sem didatismo o retrato de um tempo em que a arte enfrentava dificuldades semelhantes às dos dias atuais, sem menosprezar o pagante.
AVALIAÇÃO ✪✪✪