Com estilos diferentes, Serra e Suplicy protagonizam disputa acirrada

Empatados na briga, Eduardo Suplicy aposta na fama de bom caráter e José Serra tenta emplacar como o mais eficiente

Por Mauricio Xavier e Silas Colombo
Atualizado em 1 jun 2017, 17h14 - Publicado em 19 set 2014, 23h00
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pareo-duro (Veja São Paulo/)
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Na última segunda (15), o senador Eduardo Suplicy, que tenta a reeleição pelo PT, aceitou convite para ministrar uma aula de políticas públicas a alunos da USP Leste, em Ermelino Matarazzo. Usando seu clássico repertório de piadas, arrancou risadas da plateia ao cantar o rap Homem na Estrada, dos Racionais MC’s, para explicar a desigualdade social. A sessão de duas horas, digna de uma stand-up comedy, terminou com uma maratona de selfies ao lado dos estudantes. Naquele dia, seu maior concorrente, José Serra, do PSDB, participou de uma sabatina na Fundação Getulio Vargas, na Bela Vista. Com uma hora e meia de duração, o evento não poderia ser mais hermético. Em monólogos que se estendiam por até vinte minutos, o ex-governador discorreu sobre temas áridos como arrecadação tributária, alíquotas de impostos e cálculos fiscais, que repetiu em outros encontros da semana. Os episódios ilustram bem as personalidades antagônicas: no meio político, os rivais são considerados como “água e vinho”.

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Na teoria, a corrida pelo Palácio dos Bandeirantes deveria monopolizar a campanha no estado. Mas, como o governador Geraldo Alckmin tem amplo favoritismo para se reeleger já no primeiro turno, as atenções acabaram se voltando para a disputa pelo Senado. A duas semanas do pleito, os dois candidatos estão em empate técnico nas pesquisas, mantendo uma diferença de apenas 3% (34% a 31%). O terceiro colocado, o ex-prefeito Gilberto Kassab, não atinge 10%. Esses números variam bastante de acordo com a região, o que impacta nas estratégias de campanha. Em vantagem na capital (35% a 29%), Suplicy tem concentrado 70% de sua agenda na área, principalmente nos encontros com o eleitorado jovem. Serra lidera no interior (39% a 27%), onde estão 22,8 milhões dos 31,9 milhões de votos do estado, o que aumenta a frequência de suas viagens. Cerca de metade de seu tempo é gasta fora da região metropolitana, geralmente em entrevistas a TVs, rádios e jornais de cidades como Sorocaba e Franca.

 

A atuação de ambos no corpo a corpo nas ruas também é bem diferente. Apesar do jeitão por vezes destrambelhado no plenário do Congresso, o petista adota postura discreta nessas ocasiões. Na terça (16), durante passeata na pequena Pedro de Toledo, no Vale do Ribeira, ele quase não distribuiu adesivos nem santinhos com seu nome. O material exibido pelos militantes só fazia referência à presidente Dilma Rousseff e ao candidato ao governo, Alexandre Padilha. “O eleitor só precisa saber que estou no páreo”, afirma. Já o tucano anda mais ativo. Na segunda, ao almoçar no badalado restaurante Spot, na Bela Vista, pediu votos às garçonetes e estacionou ao lado de uma mesa com oito mulheres na faixa dos 30 anos, declamando: “Meu número é quatro cinco seis, e não quatro-cinco-meia, assim é mais fácil de lembrar”. A turma retribuiu com sorrisos e pedidos para tirar fotos.

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Na tentativa de construírem uma imagem que fisgue o eleitor, os concorrentes adotam táticas díspares. Suplicy centra esforços na aura de honesto por nunca ter se envolvido em escândalos, algo que não deveria ser diferencial, mas obrigação. Além disso, cultiva a fama de “boa-praça” até entre os adversários políticos. “Não me faça falar mal dele”, diz o senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB. Já Serra prega a cartilha da eficiência, relembrando seu passado parlamentar, sobretudo como deputado federal constituinte, em que foi o responsável pela redação de boa parte dos artigos ligados à área econômica na Carta de 1988. “Um senador tem atuação crucial na área tributária e sou mais bem preparado para isso”, defende.

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Há 24 anos no cargo, Suplicy foi apontado pela ONG Transparência Brasil como o senador com “mais propostas irrelevantes”: de 144 projetos desde 2003, 106 foram relacionados a homenagens. O programa de transferência de recursos “renda mínima”, sua principal bandeira, aguarda há uma década para entrar em vigor. Ele estipula o pagamento de 80 reais por mês a cada brasileiro, independentemente da situação social, algo considerado inviável. “O governo federal ainda não tem dinheiro para o programa, mas com planejamento é possível iniciá-lo em 2017”, sonha. Uma das principais propostas de Serra é a adoção do voto distrital na próxima eleição municipal. A capital seria dividida em 55 distritos, e cada um elegeria seu vereador. “Isso reduziria gastos de campanha em cinco vezes e ajudaria o eleitor a acompanhar o político”, explica.

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Os dois candidatos conheceram-se em 1978, quando Serra voltou do exílio no Chile e Suplicy se preparava para assumir o posto de deputado estadual pelo extinto MDB. A relaçãoo, até entãoo amistosa, se tornaria amarga no período em que dividiram a bancada no Senado, entre 1996 e 1998. “Quando percebi que ele não entendia nada de assuntos inerentes ao cargo, comecei a chamá-lo de ‘picareta’ na sua frente”, lembra Serra. Como Suplicy ignorava, a situação nunca azedou. “Ele fingia que não entendia e deixava passar”, diz o vereador Andrea Matarazzo, próximo a ambos: É amigo do tucano e primo do petista. Na atual campanha, o ex-prefeito voltou à carga e dedicou-se a bradar que o senador não trabalha. Se antes Suplicy “deixou barato”, hoje avalia processar Serra por difamação. “Estou analisando o caso com advogados do PT”, conta.

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Suplicy e seus correligionários espalham que, se eleito, o candidato do PSDB não vai completar o mandato, repetindo o que fez como prefeito (2006) e governador (2010). “Ele gosta de concorrer, não de governar”, diz o vereador Paulo Fiorilo, coordenador do PT. Além disso, lembram os adversários, Serra tem acumulado derrotas: duas para presidente (2002 e 2010) e uma para prefeito (2012). Nesta última, perdeu para Fernando Haddad, após amargar 46% de taxa de rejeição. Na reta final da disputa, os dois candidatos ao Senado devem aumentar a quantidade de farpas e se concentrar na capital. A agenda de Suplicy inclui palestras em universidades e comícios. Serra planeja ampliar a distribuição de santinhos no centro da cidade e promover mais encontros com entidades de classe, como de músicos, economistas e artistas. 

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