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Eleito, João Doria ainda tem pontos nebulosos em seu plano de governo

O novo governador escanteia tucanos históricos como FHC e Alckmin

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 2 nov 2018, 06h00 - Publicado em 2 nov 2018, 06h00
Doria, após o anúncio da vitória: “fim do muro tucano (Marcelo Gonçalves/Estadão Conteúdo)
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O futuro governador de São Paulo, João Doria, já não tenta aparentar ser o novo na política. Eleito com quase 11 milhões de votos, 740 000 a mais que os do adversário Márcio França, ele tem dois políticos tradicionalíssimos em alta no seu dorianato. O vice, Rodrigo Garcia (DEM), é o chefe da equipe de transição. Foi secretário estadual de diversas pastas sob Geraldo Alckmin, de Habitação, Desenvolvimento Social e até de Ciência e Tecnologia.

O eclético Gilberto Kassab (PSD), que, nos últimos dez anos, foi aliado de José Serra e ministro de Dilma Rousseff e de Michel Temer, também tem ascendência — só não se sabe se assumirá a Secretaria de Interior, pois ainda espera algum convite para o governo federal sob Jair Bolsonaro (PSL).

Para se aproximar do novo presidente, Doria desenterrou o discurso malufista dos anos 1980 de “Rota na rua”, prometendo “polícia na rua e bandido na cadeia” — ainda que as taxas de homicídio só tenham caído, de fato, sob a fala mais mansa da gestão alckmista. Poucas novidades à mão. No caso do metrô, por exemplo, Doria diz que terminará as obras em andamento, mas ainda não apresentou um plano de retomada da paralisada Linha 6-Laranja, que ligará a Estação São Joaquim, no centro, à Vila Brasilândia, na Zona Norte. Pouco se sabe sobre futuras privatizações ou concessões ou de projetos mais ambiciosos.

Rodrigo Garcia posa para a câmera com número 45, do PSDB, ao fundo
Rodrigo Garcia: novos rumos no governo (Aloisio Mauricio/Estadão Conteúdo)

Entre os nomes que poderão compor o futuro secretariado, além de Garcia, cotado para assumir a Casa Civil, estão o médico Wilson Pollara (ex-secretário da Saúde de Doria na prefeitura), idealizador do Corujão da Saúde, bandeira herdada da gestão municipal que faz parte do novo programa estadual. Outra secretaria que o PSD, legenda de Kassab, pode levar é a de Transportes Metropolitanos, responsável pelas obras de mobilidade.

Na segurança pública, ao contrário do que ocorreu nos últimos anos, com a escolha de promotores de Justiça para comandar as polícias, Doria disse que vai optar por um homem de operação de rua. Um dos cotados é o ex-delegado-geral Yousseff Abou Chahin, que deixou o cargo após a renúncia de Geraldo Alckmin, em abril. Aliados de primeira hora de Doria, Jorge Damião (ex-Esportes) e Wilson Pedroso (que atuou na chefia de gabinete) também participarão do escalão principal do estado.

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A chegada de João Doria ao Palácio dos Bandeirantes em janeiro também mudará a composição da prefeitura de Bruno Covas. Com o fim do acordo segundo o qual boa parte da equipe municipal seria mantida até o fim das eleições, pessoas ligadas ao futuro governador poderão trocar de cadeira. Nomes como Marcos Penido (Subprefeituras) e Filipe Sabará (Assistência Social) podem migrar da cidade para o estado. Na Comunicação, Fábio Santos pretende voltar à iniciativa privada e pode dar lugar a Marco Antonio Sabino.

Por outro lado, pastas criadas por Doria deixarão de existir. Um exemplo é a Secretaria Municipal de Desestatização e Parcerias, responsável por uma das principais vitrines do ex-prefeito, mas que até o momento não conseguiu emplacar nenhum projeto. “Mas tenho certeza que os projetos continuarão”, afirma Doria, que terá a missão de destravar as concessões do Estádio do Pacaembu e do Parque Ibirapuera. Como ambos os terrenos possuem pendências com o governo do estado, o governador Márcio França não autorizou a negociação.

PACAEMBU -3.jpg
O Pacaembu: missão de destravar concessões (Bruno Niz/Veja SP)

As pastas municipais de Relações Sociais e Relações Internacionais devem ser enxugadas. Um dos objetivos de Covas é dar uma cara nova à gestão daqui em diante e se descolar das diretrizes com o carimbo de Doria. Uma das intenções, segundo tucanos, é frear uma possível ameaça de Márcio França na campanha à reeleição daqui a dois anos. “A sombra de França, que venceu na capital nesta eleição para o governo, vai aparecer bem antes das eleições de 2020”, afirma Orlando Morando, prefeito de São Bernardo do Campo e um dos coordenadores da campanha do PSDB.

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Em termos políticos, o tucano mantém a tática, desde o primeiro turno, de colar seu discurso no do presidente eleito, Jair Bolsonaro. À medida que começa a desenhar os primeiros programas do futuro governo, Doria desponta como uma das principais personalidades com mandato no PSDB. No discurso da vitória, chegou a chamar o partido de “meu” e pregou que a legenda seja refundada. “A partir de 1º de janeiro acabou o muro”, declarou, referindo-se à fama dos tucanos de não se posicionarem.

O principal desafio será aglutinar antigas lideranças paulistas, como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin. Apesar de ter ficado isolado depois da acachapante derrota recente, Alckmin é o presidente da legenda. O novo grupo de Doria é mais uma ala a não se bicar com os demais caciques. “O PSDB foi derrotado no país e mesmo a vitória de Doria não apaga as perdas que tivemos”, diz o ex-governador Alberto Goldman, um de seus principais inimigos internos.

Bruno Covas, Joao Doria e Geraldo Alckmin
Covas, Doria e Alckmin: desafios no ninho tucano (Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo)

CINCO PERGUNTAS PARA DORIA

Sua gestão será de continuidade ou será um novo governo?

Um novo governo. Não vou perder tempo olhando para o passado. Farei uma gestão moderna e eficiente. Vou cortar mordomias, como os veículos oficiais.

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Como será a convivência com os prefeitos do PSDB que não o apoiaram, caso de Paulo Barbosa, de Santos?

Não preciso conquistar esse ou aquele prefeito, pois vou governar para todos. Sobre o Paulo Barbosa, a relação partidária será zero, mas a governabilidade será total.

Sua relação com Jair Bolsonaro não está parecendo um “amor platônico”? Até agora ele só gravou um vídeo?

Não diria platônico, mas pragmático. Nós nos falamos duas vezes depois da eleição, por telefone, e irei ao Rio de Janeiro encontrá-lo em breve. Estamos alinhados.

Mas, se o PSDB nacional não apoiar o governo Bolsonaro, como será esse alinhamento?

O apoio é em nome do estado, não do PSDB. Pode acrescentar o Bruno Covas nessa parceria. Faremos uma tripla e inédita união.

Cabem no mesmo PSDB figuras como o senhor, Alckmin, Serra, FHC e Alberto Goldman?

Tem espaço para as pessoas de bem e que estejam sempre com os mesmos sentimentos. Os que tiverem direcionamento distinto não precisam nos acompanhar.

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