João Carlos Martins
Após perder o movimento das mãos, o pianista se reinventa como maestro e conquista reconhecimento internacional
Para um pianista, não poderia haver pesadelo mais dramático. Diversos problemas de saúde — entre eles uma lesão em um nervo da mão direita e um tumor na mão esquerda — obrigaram João Carlos Martins, o intérprete de Bach que era capaz de tocar 21 notas por segundo, a abandonar os teclados. A paixão pela música, no entanto, falou mais alto e, há seis anos, Martins voltou à escola para aprender regência. Hoje, aos 69 anos, ele colhe os frutos de sua superação. À frente da Orquestra Bachiana Filarmônica, subiu duas vezes ao palco do Carnegie Hall, em Nova York, lotou a Sala São Paulo na inusitada companhia da dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó e tocou ao lado do grande jazzista Dave Brubeck, também em NY. Só em 2009 foram mais de 150 espetáculos. “Fiz de cada músico da orquestra uma nota do meu piano”, diz. Sua volta por cima inclui desafios constantes. Como não consegue virar as páginas das partituras, o maestro decora sinfonias inteiras antes das apresentações. Quando não está ensaiando, dedilha composições no piano de cauda de seu apartamento nos Jardins, para não perder a mobilidade que lhe resta de alguns dedos. Emotivo, lembra com saudade de suas glórias de pianista, mas não se deixa abater. “O problema das minhas mãos é coisa do passado”, afirma. “O presente é comandar uma orquestra cada vez mais reconhecida.” Bravo!