Irmã de deficiente mental acusa advogado de “comandar” julgamento de PMs
Policiais foram absolvidos de acusação de decapitar morador de Itapecerica da Serra, na região metropolitana

A absolvição de quatro policiais militares na última sexta (6) revoltou familiares do deficiente mental Antonio Carlos Silva Alves, de 33 anos, assassinado em 2008, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. O sargento Moisés Alves Santos, o cabo Joaquim Aleixo Neto e os soldados Anderson dos Santos Sales e Rodolfo da Silva Vieira foram declarados inocentes da acusação de que formariam um grupo de extermínio conhecido como “Highlander”, em alusão ao filme homônimo, cujo personagem principal cortava a cabeça dos inimigos. Carlinhos, como era conhecida a vítima, foi decapitado.
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Trata-se do segundo julgamento dos policiais, que, em 2010, foram considerados culpados. A sentença, no entanto, foi anulada a pedido do advogado de defesa, Celso Vendramini. “A família de Carlinhos apareceu no júri com camisetas pedindo justiça e contrárias à PM. Isso contamina o júri. Por isso a decisão foi cancelada”, diz.
Agora, Vendramini afirma acreditar que a justiça foi feita: “No momento em que o Carlinhos foi morto, a guarnição do sargento Moisés estava em outra ocorrência. Trouxe três testemunhas que atestam isso. A equipe não estava lá.”
Após a absolvição, o pai da vítima, o pintor Antonio Alves, de 57 anos, diz que a sensação que fica é a de indignação. “O advogado mandava e desmandava no julgamento. Parecia que estava em um estádio. No fim, foi feita a injustiça”, reclama. A irmã de Carlinhos, Vânia Lúcia da Silva, é mais incisiva. “Antes de o juiz anunciar o veredicto, o doutor Vendramini saiu da sala e deu a notícia da absolvição para os policiais. Falou: ‘Ganhamos mais uma’. E soltou dois palavrões. No tribunal, ele mandava mais do que o juiz”, desabafa.
O advogado Celso Vendramini se defende: “Depois de os jurados votarem pela absolvição, eu saí da sala secreta e fui dar a notícia para os réus, para ninguém ser pego de surpresa. Isso é uma coisa normal. Falei para ninguém pular, nem fazer escarcéu, em respeito aos parentes do Carlinhos”.
Em nota, o juiz Wellington Urbano Marinho, da 1º. Vara de Itapecerica da Serra, afirma que sempre atuou sob a legalidade. “Evidentemente, tanto o Ministério Público quanto os defensores, ao saírem da sala especial, têm conhecimento do resultado da votação, independentemente da redação da sentença, que é atribuição do magistrado. Por fim, não há qualquer vedação na legislação a que o defensor, em casos como o retratado, informe seu cliente acerca do resultado da votação”.
O defensor dos PMs espera que o Ministério Público continue a investigação e ache os culpados: “Enquanto batalho pela reintegração dos policiais demitidos, o promotor do caso deve trabalhar para localizar os reais assassinos do Carlinhos. Quando eles [promotores] passaram a culpar meus clientes, pararam as buscas. Isso foi um erro”, afirma Vendramini. Procurado, o promotor que cuida do caso não concedeu entrevista, mas afirmou que já recorreu da decisão.