Ilan Brenman cativa adultos e crianças contando histórias
Ao contar suas histórias, autor sempre deixa um gosto de 'quero mais' para instigar os interlocutores à leitura
Nascido em Israel, Ilan Brenman veio para São Paulo ainda garoto. Aos 18 anos, descobriu que tinha talento para entreter crianças sem precisar vestir fantasia nem fazer caras e bocas. Foi durante uma tarde de trabalho voluntário no clube A Hebraica, no Jardim Paulistano.
Na época, Brenman cursava o 1º ano de psicologia e começava a aprender teorias sobre o ‘poder da palavra’. O jovem estudante surpreendeu a plateia ao fixar seus pequenos olhos azuis em um ponto distante e começar a falar com a voz pausada e macia. “Meninos e meninas que minutos antes estavam correndo de um lado para o outro se aquietaram para me ouvir”, lembra. “Quando acabei, havia mais de vinte à minha volta.”
Atualmente com 37 anos, Brenman se transformou em um bem-sucedido contador de histórias. Doutor em educação pela USP, escreveu trinta livros — que, juntos, venderam 200 000 exemplares. O mais famoso é ‘Até as Princesas Soltam Pum’, um conto de fadas politicamente incorreto (e por isso mesmo divertido e bom de ler).
Dono de uma biblioteca de 4 000 volumes, Brenman costuma dizer que narrações são apenas a entrada do grande banquete, que é a própria leitura. “Não tem nada melhor do que sorver um livro página por página, com as pontas dos dedos tocando o papel apressadamente, para descobrir o que acontece”, afirma. Por isso, são raras as vezes em que conta uma história do começo ao fim.
Ao narrar ‘Fausto’, de Goethe, por exemplo, ele descreve o encontro do jovem ambicioso com o demônio. Passa por detalhes aterrorizantes e, quando os interlocutores estão a ponto de ter calafrios, encerra a conversa. Questionado sobre o que vem em seguida, dispara: “Leiam o livro!”.
Brenman cobra até 3 000 reais por hora para ensinar professores a despertar nos alunos o gosto pela leitura. Mas sua platéia não é composta apenas de crianças. Uma vez por semana, promove degustações literárias em alguma das quatro lojas da Livraria da Vila na cidade. Os participantes pagam 65 reais cada um para ouvir Brenman falar enquanto a chef Joana Leis serve um cardápio inspirado no tema da noite.
Contos eróticos vêm acompanhados de vinho tinto, música ao vivo e pratos com ingredientes tidos como afrodisíacos. Se o assunto são contos budistas, o menu é vegetariano. “Aliar literatura a comida faz o evento ficar mais divertido que um sarau, mas o grande atrativo mesmo é o inesgotável estoque de histórias do Ilan”, diz Rafael Seibel, coordenador de marketing da Livraria da Vila.