O novo tom da cidade ocre
Caravanas de hotéis, chefs e spas estreladíssimos chegam a Marrakesh, oferecendo na cidade simbólica do clima "mil e uma noites" - antiga capital do Marracos - uma cartela de serviços na medida para quem ama exotismo mas não abre mão das mordomias ocidentais
Marrakesh há muito tem sido o destino predileto do Marrocos. Se Casablanca, com arquitetura art déco, se firma como uma espécie de Miami do norte da África, e Tânger, à beira do Estreito de Gibraltar, seduz gerações de artistas – do pintor romântico Eugène Delacroix aos roqueiros do Rolling Stones -, é para a antiga capital, no centro do país, que o jet set ruma na esperança de trocar o terno preto pelos caftãs coloridos e experimentar o clima “mil e uma noite” que a chamada Cidade Ocre oferece.
Para abrigarem os sedentos ocidentais em busca do choque cultural do Deserto do Saara, palacetes árabes nos arredores foram convertidos em hotéis. Como no Kasbah Tamadot, aberto em 1998 por Richard Branson, do grupo inglês Virgin, e premiado o ‘melhor hotel de Marrocos” em 2011, as hospedagens vip se concentravam aos pés da Cordilheira do Atla (o Tamadot, por exemplo, fica a cerca de uma hora do centro). Agora as constelações chegam para valer ao coração de Marrakesh. Hoje, é possível acordar em lençóis de linho D. Porthault, tomar o café da manhã em porcelanas de Limoges e, poucos minutos depois, embrenhar-se pelo souk El Khemis, o maior mercado a céu aberto do país, onde vendedores de túnica e turbante negociam de joiais a tapetes bordados a mão.
O marco desta nova era reabriu suas portas em 29 de setembro de 2009, depois de três anos de reformas capitaneadas por um dos maiores mestres do design de interiores do mundo: o francês Jacques Garcia. A um custo de quase 200 milhões de dólares, o La Mamounia, cuja lista de hóspedes incluiu, nos anos 1920, Charles Chaplin e Marlene Dietrich, foi completamente restaurado. Hoje, os lustres nababescos, os mosaicos de azulejos Zillij, os arcos e o rendilhado típico da arquitetura árabe convivem com modernos docks para iPods nos quartos, banheiras Jacob Delafon, tratamentos Shiseido no spa e os lançamentos da Gucci, Fendi ou Dior nas lojas do lobby. Erguido perto da Praça Jemaa El Fna, onde macacos amestrados, encantadores de serpentes e músicos se encontram, o hotel está imerso em mais de 80 000 metros quadrados de jardins do século XVIII oferecidos de presente de casamento pelo rei Sidi Mohamed Ben Abdellah ao seu filho, o príncipe Moulay Mamoun. Ali repousam palmeiras, laranjeiras, tamareiras, 21 espécies de cacto, duas centenas de oliveiras (algumas com 700 anos de idade!) e nada menos do que 5 000 rosas. Dois chefs estenderam seu domínio europeu ao Mamounia: Jean-Pierre Vigato, do Apicius de Paris, dono de duas estrelas Michelin, e o italiano Alfonso Iaccarino, do também duas-estrelas Don Alfonso 1890, na Costa Amalfitana. Isso significa que, além de degustar um legítimo cuscuz, é possível provar delícias como o mil-folhas de carpaccio e espinafre com caviar e molho de mostarda e os pequenos travesseiros de gnocchi com scamorza (um queijo defumado), tomate fresco e manjericão.
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Jacques Garcia também assina o projeto do cinco-estrelas The Pearl, previsto para abrir em junho, com atrações Michelin na cozinha (Michel Rostang para a francesa e Giancarlo Morelli para a italiana) e salão de beleza Alexandre de Paris. Próximo à mesquita Koutoubia e ao Jardim Majorelle, o casarão azul que se tornou a segunda morada do estilista Yves Saint Laurent e de Pierre Bergé em 1980, o Pearl se junta ao Four Seasons, de junho de 2011, para tornar o bairro de Hivernage uma espécie de Mayfair, vizinhança londrina que concentra o melhor do design e da moda.
Há um mês, foi a vez de o Palais Namaskar, um oásis de mais de 40 000 metros quadrados de jardins aromáticos a cerca de meia hora da Praça Jemaa El Fna, abrir as portas. Entre suas 41 acomodações estão dois palácios de 460 metros quadrados envoltos por jardins com piscina particular. O décor mescla design contemporâneo e toques orientais. A maioria dos quartos tem piscina privativa ou hidromassagem ao ar livre, além de máquinas de café Nespresso. Em junho, o grupo indiano Taj, dono de alguns dos hotéis mais exclusivos da Ásia, inaugurará a primeira unidade no norte da África. Projetado pelo arquiteto americano Stuart Church, o Taj Palace levou cinco anos para ficar pronto e ocupará um terreno de 500 000 metros quadrados na região de Palmeraie, a favorita dos milionários em Marrakesh. Só o spa terá uma área de 3 800 metros quadrados, e os tratamentos seguirão a milenar filosofia ayurvédica. Todo o complexo foi erguido com inspiração na arquitetura islâmica, e os edifícios lembram os tradicionais riads, uma prova de que a caravana estrelada que chega a Marrakesh não pretende mudar a paisagem, apenas oferecer serviços tão sedutores quanto as histórias da lendária Sherazade.
Da porta desses oásis para fora, ainda se ouvem os muezins anunciar, do alto das mesquitas e seus minaretes, o momento das cinco preces diárias. Os palácios seculares, como o Bahia, e jardins como o Menara – onde um imenso espelho-d’água escolta um pavilhão do século XIX – seguem intocados. No souk, sobrevive incólume o hábito de pechinchar o preço dos artigos, parte da alma berbere. É o que hipnotiza os ocidentais desde que o pintor francês Jacques Majorelle se mudou para lá, em 1923, e lhes revelou o estilo “mil e uma noites”.
Four Seasons. 1, Boulevard de la Menara, tel. 212 (524) 359-200, fourseasons.com/marrakech Diárias a partir de 688 dólares
La Mamounia. Avenue Bab Jdid, 40040, tel. 212 (524)
388-600, mamounia.com Diárias a partir de 712 dólares
Palais Namaskar. Route de Bab Atlas, 88/69, tel. 212 (524) 299-800, palaisnamaskar.com Diárias a partir de 623 dólares
Taj Palace Marrakech. Route de Bab Atlas, tel. (11) 3171-4026 (reservas no Brasil), tajhotels.com Diárias a partir de 625 dólares
Kasbah Tamadot. BP 67, Asni, tel. 212 (524) 368-200, kasbahtamadot.virgin.com Diárias a partir de 653 dólares