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Hospital Veterinário Sena Madureira: vida animal por um fio

VEJA SÃO PAULO acompanhou um plantão noturno no pronto-socorro

Por Daniel Salles
Atualizado em 1 jun 2017, 18h38 - Publicado em 3 dez 2010, 16h29
Hospital Veterinário Senna Madureira - 2194
Hospital Veterinário Senna Madureira - 2194 (Fernando Moraes/)
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“Atropelaram minha cadela, ela está morrendo…” Eram 21h53 de domingo passado (28) quando um jovem de camiseta, bermuda e chinelos irrompeu no pronto-socorro do Hospital Veterinário Sena Madureira, na Vila Mariana. Em seus braços, uma vira-lata preta inerte, que havia sido atropelada meia hora antes. “Ela está morrendo”, repetiu o rapaz, com a voz embargada e os olhos inundados de lágrimas. Colocada sobre uma mesa de metal na apertada sala de emergência, a cachorra foi conectada a um monitor de sinais vitais e cercada por três veterinários e dois enfermeiros. Rapidamente, com a mão direita, um deles começou a tentar reanimar o coração do bicho, cuja frequência cardíaca estava abaixo de 40 batidas por minuto, um terço do normal. Enquanto isso, dois integrantes da equipe se esmeravam em procurar uma veia para injetar adrenalina e atropina — substâncias que estimulam os batimentos cardíacos e aumentam a pressão sanguínea. “Está difícil de achar”, desabafou um dos funcionários, com sangue nos dedos. A medicação acabou sendo ministrada por um tubo inserido pela boca. Não havia o que fazer: a cadela provavelmente sofrera uma hemorragia interna durante a colisão e de nada adiantaria operá-la. Às 22h10, sua morte foi anunciada. 

Nos prontos-socorros veterinários da capital, domingo costuma ser o período mais crítico. É dia de passeios em parques sob sol escaldante, que deixam cachorros acima do peso com falta de ar. De jogos de futebol e foguetórios, capazes de atordoar bichos de diversas raças. E de churrascos, nos quais cães também terminam empanturrados — e, frequentemente, com fortes dores no estômago. Domingo acaba sendo ainda o único dia da semana no qual muitos paulistanos encontram tempo para cuidar da saúde de seus pets. Apenas hospitais com funcionamento 24 horas, porém, fazem atendimentos nos fins de semana. O Sena Madureira, localizado a 1 quilômetro do Parque do Ibirapuera, é um dos mais movimentados da cidade. Instalado em um sobrado vermelho de 800 metros quadrados, cuida de animais silvestres com hora marcada e de cães e gatos dia e noite. Fundado em 1969 pela veterinária Maria Aparecida Graziani e hoje dirigidopor um de seus filhos, Mário Marcondes dos Santos, realiza cerca de 1 500 consultas por mês, que custam de 145 a 220 reais. Na semana passada, acompanhamos um plantão noturno em seu pronto-socorro. Chegamos às 18 horas de domingo e partimos doze horas depois.

Hospital Veterinário Senna Madureira - 2194 - fachada
Hospital Veterinário Senna Madureira – 2194 – fachada ()

Cerca de 30% dos casos tratados ali são considerados graves. O clima na sala de espera, portanto, às vezes é de tristeza. “A maioria de nossos clientes enxerga seu bicho de estimação como filho e sofre como pai”, diz o supervisor Rafael Nunes, um dos cinquenta veterinários do lugar. A artesã Zaira Rodrigues cruzou a recepção às 20 horas. Estava desolada. Descobriu há oito meses que Peter, seu gato persa de 10 anos (o equivalente a 70, em termos humanos), sofre de uma grave doença do coração. “Hoje ele acordou disposto, mas logo ficou muito cansado”, contou ela. O felino não respirava direito. Levado às pressas para a sala de emergência, teve o peito raspado e fez inalação de oxigênio. Em seguida, um enfermeiro utilizou uma seringa para retirar 200 mililitros de um líquido amarelado de seus pulmões. “Se demorasse mais um pouco, ele não teria resistido’, explicou a veterinária Fernanda Fragata, diretora do setor de cirurgia do hospital e mulher de Marcondes dos Santos.

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Os diagnósticos são recebidos de maneiras diversas. Dois meses atrás, um homem de meia-idade desesperou-se ao ouvir que seu maltês estava com hemorragia no fígado e enfartou. “Por um momento ficamos em dúvida sobre quem deveríamos tratar”, lembra o diretor do Sena Madureira. “Achamos melhor chamar uma ambulância.” Os dois sobreviveram. No primeiro semestre de 2009, outro homem adentrou a sala de espera com uma pistola na mão e um vira-lata, atropelado fazia pouco tempo. Ele exigiu atenção imediata e ninguém se arriscou a se opor. A consulta saiu de graça. Em outra ocasião, preocupado com a saúde de seu pet, um rapaz apareceu à noite só de cueca e chinelos.

Boas notícias também fazem parte do cotidiano do hospital — que fechou a madrugada com um saldo de 32 atendimentos e três mortes. Internada desde as 19 horas, a cocker spaniel Shakira, diagnosticada com câncer de mama, parecia estar nas últimas quando chegou: sua língua arroxeada indicava um problema de circulação possivelmente fatal. Sob os cuidados da veterinária Daniela Gomes, ela foi submetida a uma tomografia. O procedimento indicou uma lesão na coluna cervical, que precisará ser corrigida em breve. Medicada e recuperada da anestesia, Shakira recebeu alta à 0h07. Saiu abanando o rabinho.

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