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Hospital Matarazzo terá prédio restaurado após 17 anos fechado

Pontifícia Universidade Católica (PUC) compra o imóvel com grupo empreendedor sigiloso e anuncia reforma que ainda não tem data definida

Por Mariana Barros
Atualizado em 5 dez 2016, 18h45 - Publicado em 21 jun 2010, 15h40

Se um edifício tem alma, a deste é para lá de intensa. Entre suas paredes, inúmeros

paulistanos se angustiaram e se felicitaram em momentos determinados pela vida e pela morte. Inaugurada em 1904, essa construção abrigou o que foi um dos principais hospitais do estado, o Umberto Primo, também conhecido como Hospital Matarazzo, na Bela Vista. O complexo, que contava com casa de saúde, maternidade, capela e consultórios, tornou-se referência em saúde, pela estrutura portentosa e pelo pioneirismo em tratamentos e pesquisas. Transformou-se também em um ícone arquitetônico da cidade, cuja importância histórica o levou a ser tombado pelos órgãos de preservação do patrimônio.

Em 1996, a Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) comprou o imóvel para a instalação de hotel e conjuntos médicos. O projeto, porém, nunca saiu do papel e o imóvel foi se deteriorando. Ao todo, ficou fechado por dezessete anos — foi aberto apenas ocasionalmente para a realização de uma peça de teatro e duas mostras, de decoração e de moda. Buracos no teto, fiação aparente, subsolo invadido pela água, vidraças quebradas e encanamento danificado, como narram pessoas que visitaram o local, indicam que boa parte do que restou de sua trajetória foi corrompida pelo tempo.

Na semana passada, o destino do imóvel de 27 000 metros quadrados sofreu uma reviravolta. Aliada a um grupo empreendedor, cuja identidade está sendo mantida sob sigilo, a Pontifícia Universidade Católica (PUC) adquiriu o prédio. O projeto do que se pretende fazer ali deve ser apresentado na segunda-feira (7), em uma reunião entre representantes de associações de bairro, pessoas ligadas ao antigo hospital e a reitoria da universidade. Especula-se que o terreno comportará um novo câmpus da PUC, além de conjuntos comerciais. Alguns vizinhos pleiteiam que haja também um centro de atendimento à saúde. “Mas nossa principal preocupação é que sejam respeitadas as determinações do tombamento”, afirma Célia Marcondes, presidente da Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro de Cerqueira César (Samorcc). Para a arquiteta Helena Saia, o restauro demandará atenção especial. “Qualquer que seja o uso, é preciso ter em mente o significado e a importância do edifício.”

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Imigrantes italianos criaram, no fim do século XIX, um hospital para prestar atendimento de saúde à colônia, na tentativa de suprir a falta de serviço público. A gestão ficou a cargo da Societá Italiana di Beneficenza in San Paolo, e o primeiro centro foi aberto em 1892 na Rua Major Diogo, no Bixiga, onde se concentrava a população de origem italiana. Com a demanda crescente, foi preciso encontrar um terreno maior. A solução estava na proximidade da Avenida Paulista, no atual perímetro entre as ruas Itapeva, São Carlos do Pinhal, Pamplona e Alameda Rio Claro. Inicialmente com cinquenta leitos, chegou a atender 40 000 pacientes por mês na década de 70.

Com projeto do arquiteto italiano Giulio Micheli e sob a alcunha de Ospedale Umberto Iº, a obra foi realizada com doações principalmente das famílias Crespi, Pignatari, Gamba, Falchi e Matarazzo, conforme estudo da pesquisadora de museologia da USP Sonia Maria do Carmo. O conde Francisco Matarazzo (1854-1937) teve papel preponderante no surgimento do complexo, erguido pela seção de construção das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, de onde também vieram seus azulejos e louças. Com o advento da II Guerra, locais de origem ligada aos países do Eixo, como a Itália, tiveram de alterar seu nome. Assim, em homenagem ao patrono, o hospital passou a se chamar Matarazzo. É essa história que, agora, tem a chance de ser recuperada.

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