Grete Model, 99 anos
Veio acompanhada do marido, Kurt Model, que escapara duas vezes de campos de concentração, e da filha única, então com 9 anos, Helga
Grete Model tem olhos azuis bem claros e pequenos — que quase desaparecem quando ela sorri. Isso ocorre sempre que fala da Alemanha, onde nasceu, em 1910, e de onde saiu 31 anos depois, durante o regime nazista, por ocasião da II Guerra, para fugir da perseguição aos judeus. Veio acompanhada do marido, Kurt Model, que escapara duas vezes de campos de concentração, e da filha única, então com 9 anos, Helga (na foto, à esq. da mãe).
Até aquela época, a família tinha uma vida confortável, graças à prosperidade de uma fábrica de roupas íntimas fundada pelo avô de Grete “em 1852” (ela faz questão de frisar datas exatas para mostrar quanto a memória vai bem). Quando chegaram ao Brasil, cinco anos depois de deixar a Alemanha — os Model estiveram também em Portugal —, a vida ficou bem diferente. Adolescente, Helga começou a trabalhar. Grete também arrumou emprego, em uma fábrica de brinquedos, no setor de bonecas, na qual ficou “até 1992, com 82 anos”, afirma.
Para se deslocar pela cidade, ela costumava dirigir seu próprio carro. “Tive Fuscas. Tantas Fuscas…”, diz, ainda com o sotaque da língua natal. Depois que parou de trabalhar, guiava até a Congregação Israelita Paulista (CIP), onde costurou como voluntária para crianças carentes por doze anos. Passou as agulhas para a filha há cinco anos, quatro depois de abandonar o volante, contrariada.
Desde então, sai para passear com Helga, que se casou aos 51 anos e não teve filhos. Isso ocorre aos domingos, quando elas almoçam no Clube de Campo do Castelo ou em restaurantes alemães. O programa deve se repetir neste Dia das Mães, mas, para o aniversário de 100 anos, em agosto, Grete planeja algo diferente. “Quero ir à Alemanha”, sonha, com os olhos escondidinhos.