Grafiteiro do Campo Limpo produz murais gigantes sobre temas pop
A mais nova empreitada de Paulo Terra é uma arte em homenagem aos 50 anos da Rede Globo
Com um sorriso largo no rosto, o apresentador Fausto Silva tem parado o trânsito nos arredores da Marginal Tietê. Ao lado dele, a colega Fátima Bernardes atrai buzinadas, enquanto Luciano Huck e Glória Maria são alvo de fotos de motoristas que estacionam na Rua Angelo Di Sarno, bem atrás da pista local da via, para tirar uma selfie.
Ao todo, são dezessete estrelas da Rede Globo, que vão do fundador Roberto Marinho à atriz Susana Vieira, pintadas em 700 metros quadrados (70 de extensão por 10 de altura). Com previsão de ser concluída nos próximos dias, a obra é uma homenagem aos cinquenta anos da emissora e mais um dos trabalhos vistosos do grafiteiro Paulo Terra, que tem se especializado em retratar figuras pop em grandes muros.
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Aos 36 anos, ele começou a chamar atenção com um mural no qual reproduziu os personagens do mexicano Roberto Gómez Bolaños, como Chaves e Chapolin, em dezembro do ano passado. O espaço, a lateral de uma loja de sapatos, estava reservado para outro projeto. “Na verdade, eu faria a Liga da Justiça, mas aí o Bolaños morreu, e pensei em homenageá-lo, conta.
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A repercussão do desenho ajudou a convencer uma fábrica na região da Represa de Guarapiranga a ceder 900 metros quadrados para uma nova pintura, dessa vez com toda a turma do Chaves.
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Em maio, Terra concluiu um grafite psicodélico de Silvio Santos. O apresentador se empolgou tanto que decidiu abrir o baú. Em programa exibido há três semanas, mostrou duas fotos da criação e anunciou que pagaria 2 500 reais ao artista. A produção procurou Terra para fazer o depósito, mas o paulistano disse que só aceita a quantia das mãos do próprio Silvio. Enquanto isso não ocorre, planeja um novo mural, no bairro da Anhanguera, no qual retratará o dono do SBT em família, com a mulher, Íris, e as seis filhas. O elenco superpopuloso de suas gravuras é, aliás, sempre um desafio.
Na muralha global, precisou desistir de treze dos trinta nomes listados inicialmente. “Cortei Stênio Garcia e Pedro Bial. Fiz de tudo para manter o Miguel Falabella, mas não teve jeito.” Apesar dos holofotes que atraem, esses trabalhos não rendem um centavo a Terra, que ganha cerca de 7 000 reais por mês com criações para empresas.
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“Contratá-lo foi a melhor coisa que fizemos”, ”, diz o DJ Ramir Mendes, de uma casa de shows em Taboão da Serra, na qual pintou sambistas como Adoniran Barbosa e Beth Carvalho. “O desenho chamou atenção, e o lugar passou a lotar nos fins de semana, o que não acontecia.”
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A maior parte dos clientes de Terra (a lista inclui academias e escolas, entre outros) encontra-se no Campo Limpo, na Zona Sul, onde o artista nasceu e mora até hoje. É o mesmo bairro de Eduardo Kobra, que ganhou destaque internacional na arte com spray. As semelhanças (ambos têm apreço por figuras conhecidas, gigantes e multicoloridas) não são uma coincidência. Os dois atuaram juntos em alguns projetos no passado, e Terra reconhece a inspiração.
“Mas eu não o copiei, desenvolvi meu estilo”, assegura. Segundo o grafiteiro, a amizade ficou abalada quando ele também começou a conquistar fama. “Kobra me mandou uma mensagem tão grande no Facebook que parecia uma página de jornal, acusando-me de imitá-lo.” Procurado por VEJA SÃO PAULO, Kobra não quis comentar o caso. Terra diz não ter mágoas do episódio. Prefere pensar nas próximas realizações. “Ainda quero pintar Beatles e Elvis Presley na cidade”, planeja.
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