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Gilberto Gil traz o Expresso 2222 para o aniversário da cidade

O cantor e compositor baiano festeja a cidade na esquina das avenidas Ipiranga e São João, é tema de enredo da Vai-Vai e relembra a relação com a metrópole

Por Dirceu Alves Jr. e Alice Granato
Atualizado em 27 Maio 2024, 12h19 - Publicado em 19 jan 2018, 08h45
“Tudo é grande em São Paulo. Os deslocamentos são longos. Todo mundo é anônimo, mas todos têm um papel nessa cidade de trabalhadores”, diz Gilberto Gil (Daryan Dornelles/Veja SP)
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A mais famosa das esquinas da capital, a das avenidas Ipiranga e São João, vai se transformar em um território do Carnaval baiano na quinta (25). O cantor e compositor Gilberto Gil traz o seu Expresso 2222, trio elétrico da folia de Salvador, para animar a comemoração dos 464 anos da cidade. O caminhão de som será montado em frente ao Brahma, o bar mais amado pelos moradores da metrópole, segundo pesquisa de VEJA SÃO PAULO.

Esse estabelecimento, em parceria com a Vai-Vai, promove o evento, que começa a sacudir o povo a partir das 13 horas. A bateria da escola de samba do Bixiga, o cantor Thobias da Vai- Vai, a Velha Guarda Musical e a Banda da Esquina aquecem o público para o ápice, depois das 17 horas, quando o dono da festa sobe ao trio.

Gil se junta aos ritmistas e deve cantar oito músicas, entre elas Sampa, o hino criado por Caetano Veloso em tributo à metrópole. Antes disso, desde as 14 horas, shows intimistas ocuparão os salões do Brahma e é esperada uma canja do astro com seu violão por volta das 17 horas. A celebração será uma prévia da homenagem que Gil receberá em 10 de fevereiro, no Sambódromo do Anhembi.

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Encontro com a Vai-Vai: com a porta-bandeira Paula Penteado, o presidente, Neguitão, e o mestre-sala Reginaldo Pingo (Haroldo Nogueira/Veja SP)

Com o enredo Sambar com Fé Eu Vou!, a Vai-Vai entra na avenida para contar a trajetória de Gilberto Passos Gil Moreira, 75 anos de vida e mais de cinquenta dedicados à música. “Fiquei lisonjeado, mas homenageado não diz como deve ser feita a homenagem”, afirma o baiano, que deu total liberdade de criação à escola.

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O presidente da Vai-Vai, Darly Silva, o Neguitão, teve a primeira conversa com Gil em junho. O cantor visitou a escola em setembro, semanas antes da definição do samba. O tema Sambar com Fé Eu Vou! cita o sucesso Andar com Fé e ainda clássicos como Domingo no Parque e Se Eu Quiser Falar com Deus. “Vivemos uma grande crise e nossos artistas estão sendo muito atacados, por isso queremos mostrar a importância de Gil”, declara Neguitão.

Os detalhes para o desfile são mantidos a sete chaves. Os 3 200 componentes farão parte de um espetáculo criado pelos carnavalescos Chico Spinoza, Alexandre Louzada, Júnior Schall e Delmo de Moraes. A comissão de frente remete à crise política e à necessidade de ter fé nas mudanças. As influências culturais e religiosas na infância de Gil inspiraram as primeiras alas, como uma dedicada às benzedeiras.

Gilberto Gil e Elis Regina, durante show.
Ao lado de Elis Regina: os dois se conheceram no programa ‘O Fino da Bossa’, e ela projetou o compositor (J. Ferreira da Silva/Veja SP)

Entre os carros alegóricos figuram reverências ao sanfoneiro Luiz Gonzaga, a primeira inspiração do artista, o tradicional bloco Filhos de Gandhy e há os que remetem ao movimento tropicalista e ao exílio em Londres. A consagração ganha representação no carro Super-Homem.

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Gil deve aparecer em meio a sua família. A mulher, Flora Gil, os sete filhos (o oitavo, o baterista Pedro Gil, morreu em 1990) e parte dos dez netos estarão ao seu redor no último carro. A lista de amigos que devem atravessar a passarela está aberta. Os cantores Jorge Ben Jor e Tom Zé confirmaram. A Vai-Vai une esforços para juntar Caetano Veloso e Gal Costa a essa turma.

Tantas homenagens de São Paulo ao artista baiano podem até soar inusitadas, mas a história dissipa qualquer estranheza. Formado em administração, ele se mudou para a cidade em 1965, depois de ser aprovado em um concurso para executivo da Gessy Lever. “Quando cheguei eu me vi, pela primeira vez, misturado à massa”, conta. “Tudo é grande em São Paulo. Os deslocamentos são longos. Todo mundo é anônimo, mas todos têm um papel nessa cidade de trabalhadores”, completa.

Gilberto Gil e Os Mutantes no Festival de Record.
Com Os Mutantes, em 1967: o sucesso de ‘Domingo no Parque’ no Festival da Record (Antonio Andrade/Veja SP)

Alugou uma casa no bairro de Cidade Vargas, próximo ao Jabaquara, onde viveu ao lado da primeira mulher, Belina Aguiar, e das filhas Nara e Marília. Poucos meses depois, incentivado pela cantora Elis Regina, assumiu-se de vez como músico. Gal Costa acompanhou a transição profissional. “Entre nós, Gil talvez seja o que chegou da Bahia com a bagagem mais farta, vidrado em bossa nova, mas também em música nordestina e rock. São Paulo mexeu muito com a cabeça dele naquela época”, lembra a conterrânea.

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Foi no palco do Teatro Paramount, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, que o jovem conheceu o sucesso. Ao lado dos Mutantes, cantou Domingo no Parque, de sua autoria, e faturou o segundo lugar no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, em 1967. “Gil participava de festivais defendido por outros intérpretes e seu nome não ganhava projeção. Ali, estabeleceu uma relação autoral com o grande público e passou a ser um astro”, afirma o jornalista e pesquisador Zuza Homem de Mello.

O estouro da tropicália se deu no ano seguinte e, nessa época, além de Gil e Gal, Caetano vivia em São Paulo, em um apartamento da Avenida São Luís onde a turma se reunia para ouvir música, depois de uma passada no Bar Redondo, na Consolação. Com a decretação do AI-5, em dezembro, veio o exílio em Londres, que se arrastaria até o começo de 1972. “Desde a prisão, eu encontrei a ioga, a macrobiótica e uma disciplina de cuidados com o corpo e a mente”, diz.

Gil, Bethânia, Caetano e Gal
Doces Bárbaros: o quarteto Gil, Bethânia, Caetano e Gal se reuniu em 1976 para o show, que estreou turnê no Palácio das Convenções do Anhembi (Carlos Safker/Veja SP)

São Paulo também sediou a estreia do show Doces Bárbaros, com Gil, Caetano, Gal e Maria Bethânia, em 24 de junho de 1976, numa concorrida temporada no Palácio das Convenções do Anhembi, que lançava um futuro clássico, Esotérico.

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Pop na década de 80, Gil enfileirou hits dançantes como Realce, Palco e Luar. É dessa safra a polêmica Punk da Periferia, lançada em 1983 no disco e show Extra, que fazia referências ao movimento punk e ao bairro da Freguesia do Ó. Nos anos seguintes, sem deixar a música, exerceu cargos públicos e foi ministro da Cultura no primeiro mandato do ex-presidente Lula.

gilberto gil
O show Extra (1983): o lançamento da música ‘Punk da Periferia’ gerou polêmica na cidade (Paulo Salomão/Veja SP)

Aos 75 anos, diz que se sente renovado. “Em 2016, passei mais resguardado, tendo de cuidar da minha saúde, e quando me vi livre do hospital eu pensei ‘bem, agora estou em alta’ ”, afirma, lembrando o período da internação no Sírio-Libanês, acometido por uma insuficiência renal.

Depois de completar uma turnê com Caetano, cantar com Gal e Nando Reis no show Trinca de Ases e dividir o palco com parte de seus filhos, nora e neto no projeto Refavela 40, Gil aproveita muito bem esse momento de alta. “Retomei uma característica minha, a pluralidade, atendo a muitas solicitações que chegam”, diz. “Passei boa parte da vida me educando e hoje em dia posso me considerar um cavalheiro.”

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