Fernando Henrique Cardoso: ‘Eu comprava madeira na serraria do pai do Maluf’
O ex-presidente relembra sua chegada a São Paulo
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente
Chegou em: 1940
Natural de: Rio De Janeiro (RJ)
“Meu pai, militar, foi transferido para cá quando eu tinha 8 anos. Até ele comprar nossa casa, minha família ficou instalada num hotel chamado Rex, no centro. Os prédios suntuosos, como o Teatro Municipal, o Mappin e a Confeitaria Vienense, deixavam a cidade com cara de capital europeia. Nos bondes, havia cartazes que diziam: ‘São Paulo é a cidade que mais cresce na América Latina’. Passado um mês, nós nos mudamos para as Perdizes, numa travessa da Monte Alegre. Minha rua tinha paralelepípedos e, em alguns lugares, via-se chão de terra. Lembro-me do tilintar dos sinos que ficavam presos ao pescoço das cabras que passavam por lá. Meu pai encomendava pão e leite de comerciantes que andavam no lombo de cavalos e mulas. Tínhamos um galinheiro no quintal, construído com madeira que eu comprava na serraria do pai do Paulo Maluf, na Água Branca. As ruas eram bem arborizadas e, na minha memória, São Paulo tinha cheiro de dama-da-noite. Por ter tido uma educação muito formal no Rio de Janeiro, fui alvo de gozações de meus coleguinhas de escola. Eles riam do meu hábito de cumprimentar todos os presentes quando chegava a um ambiente. E também porque eu normalmente calçava sapatos bicolores. Eles eram branco e preto ou branco e marrom.”