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Feitos para quebrar

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h44 - Publicado em 18 set 2009, 20h18

Acordo no domingo doido por um café. Boto pó, água. Aperto o botão da cafeteira elétrica. Vou pegar o jornal. Ao voltar, a tragédia. O café vazou por uma rachadura da jarra. Mais uma! Fazer o café sem a jarra é um exercício. É preciso achar um frasco de tamanho adequado, liberar o sistema de encaixe… O que seria prático transforma-se em um problema. Outra operação complexa é comprar a jarra do mesmo modelo. Dificílimo. Certa vez liguei para a assistência técnica. Não havia. Reservei uma, a ser recebida em breve. Assistências técnicas costumam funcionar em locais fora de mão. Na data combinada, enfrentei um trânsito infernal. Ao chegar, a surpresa:

– Já foi vendida.

– Mas estava reservada!

– A mocinha se confundiu…

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Só me acalmei ao descobrir o preço. A jarra sozinha costuma custar quase o mesmo que uma máquina nova! Sou incapaz de entender por que o valor de um frasco de vidro é próximo ao do conjunto completo. Pior. Uso cafeteiras elétricas há anos. Antes as jarras duravam muito tempo. Atualmente parecem mais frágeis. Racham facilmente! Penso em voltar ao velho café de coador. Acaba sendo mais prático!

Brinquedos infantis são uma tortura. Lembro de um robozinho que acendia lâmpadas e andava. O garoto brincava entusiasmado. No terceiro dia, a lâmpada apagou. Os movimentos cessaram. Foi uma choradeira. Tentamos, eu e o pai, dar um jeito. Inútil. A solução foi correr comprar um igual!

Há algum tempo, tive um DVD que deu problema. Levei à assistência técnica. O orçamento equivalia a um quarto do valor de um novo. Topei. Funcionou um mês. Voltei para reclamar. A assistência tinha fechado. Fui a outra. Perguntei:

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– Tem certeza de que resolve?

– Claro! É uma coisinha fácil.

Mais um quarto do valor. Mais um mês de funcionamento. Depois, parou.

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Fiz as contas. Já havia gasto 50% do preço de um novo, sem resultado. Joguei no lixo. Quando deu, comprei outro. Também passei pelo mesmo com uma impressora de computador. Três técnicos diferentes garantiram o conserto. Três vezes paguei. Outras tantas parou de funcionar. Lixo! Certos eletrodomésticos parecem ter um prazo de validade. Duram alguns anos, é fato. Depois quebram. Chama-se o técnico, que avisa:

– Vou ter de encomendar a peça…

Semanas depois:

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– A peça não chegou ainda…

Meses depois:

– A peça está fora de fabricação porque seu modelo saiu de linha….

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Fazer café com coador, tudo bem. Mas não se pode voltar no tempo para lavar roupas no tanque! Uma geladeira da época da minha mãe é capaz de funcionar até hoje. Meu primeiro freezer durou mais de quinze anos. Foi embora funcionando na época do apagão, porque consumia muita energia, seja dita a verdade. Minha única atitude de revolta é com os vendedores, coitados! Outro dia estava vendo – é claro – uma cafeteira. Assustei-me ao descobrir que era importada.

– Não posso levar. Se a jarra quebrar não consigo outra igual.

– Garanto que sim, nós aqui temos uma política de…

Não deixei que terminasse a frase. Fui absurdamente franco.

– Não minta. Fica feio. Isso está acima de suas forças. Quando eu for procurar não vai ter aqui, vocês vão querer localizar em outra loja, e vai ser uma loucura.

Quando saí, devem ter comentado minha falta de educação. É fruto da impaciência, com tanta coisa quebrando. Além do custo, há o desconforto. Por uma lógica cruel, eletrodomésticos costumam dar errado nos fins de semana, e o que já seria ruim acaba ficando péssimo!

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