Feiras de trocas começam a pipocar em São Paulo
Populares em países europeus e na Argentina, feiras de escambo aumentam na capital já há cinco anos. A mais movimentada acontece mensalmente debaixo do Viaduto do Glicério
A Argentina tem a Feira de Bernal, o Chile conta com a Feira de Balmacedas e a Espanha sedia El Rastro, um dos mercados do país onde o troca-troca de mercadorias rola solto. Na cidade de São Paulo, a versão desses bazares acontece uma vez por mês em cinco bairros da cidade (Jardim Paulista, Jardim Ângela, Santo Amaro, Pedreira e Liberdade). A feira mais movimentada, debaixo do Viaduto do Glicério, reúne cerca de 500 pessoas. Ali, num ambiente beeem simples, pode-se trocar qualquer coisa: de roupas a peças de computador. Também é permitido comprar e vender mercadorias, desde que não seja com dinheiro, cheque ou cartão de crédito. A moeda do lugar é a miruca, com cotação de 1 para 1 em relação ao real. O câmbio é feito no “banco” do próprio evento. Funciona assim: você chega com as peças que gostaria de trocar, elas são avaliadas e têm preço estipulado pelos organizadores. Com as tais mirucas no bolso, é possível rodar pelas barraquinhas e adquirir o que quiser. Os objetos (novos e usados) vão de canetas (que custam centavos) a bolsas descoladas feitas de retalhos (45 mirucas).
Para ajudar pessoas carentes, principalmente moradores de rua, um grupo de empresários, ongueiros e universitários teve a idéia de criar esses bazares, uma iniciativa que chamam de economia solidária. “O objetivo é dar destino às coisas que não servem mais e desenvolver a geração de renda”, explica o coordenador técnico da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Fundação Getulio Vargas, Felipe Bannitz. Realizada desde outubro de 2006, a feira da Liberdade movimenta cerca de 10 000 reais por edição. A professora de economia solidária da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Maria Zanin aproveitou o caráter social do projeto e convidou os estudantes Rafael Recio, Thiago Petruccelli e Natalia Silva para conhecer de perto a experiência que pretende levar para o interior. “É a terceira vez que participo”, conta ela, que chegou com latas e garrafas PET, trocou-as por um par de sapatos masculinos e acabou saindo de lá com uma caneca e um livro infantil. “Vou presentear minha neta.” Outra figura carimbada do pedaço é a moradora de rua Carlinda Quirino dos Santos. “Ganho muitas roupas. Quando não servem, troco aqui”, diz. “Consegui uma blusa e uma saia bem legais.”