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Ex-ativista humanitário cria fábrica de sapatos veganos nos Jardins

Batizada de Linking Dotz, a marca surgiu da cabeça do viajado empresário argentino Rodrigo Doxandabarat

Por Daniela Giorno
Atualizado em 27 set 2019, 10h39 - Publicado em 27 set 2019, 06h00

Instalada em uma travessinha entre a Alameda Casa Branca e a Avenida Nove de Julho, em uma das regiões mais nobres da cidade, os Jardins, aparece uma fabriqueta de sapatos. Da rua, é possível assistir ao trabalho minucioso de dois costureiros e uma montadora. A equipe conta vez ou outra com a ajuda dos três sócios do negócio no acabamento das peças artesanais, que levam 45 minutos para ficar prontas cada uma. Do endereço, de 120 metros quadrados, saem mensalmente cerca de 280 pares, que vão dos modelos clássicos ao moderninhos, principalmente alpargatas e mocassins — todos veganos.

A iniciativa, batizada de Linking Dotz, surgiu da cabeça do viajado empresário argentino Rodrigo Doxandabarat, 41. Ele começou espalhando seus produtos em pontos de venda como o e-commerce multimarcas Shop2gether, o luxuoso hotel Palácio Tangará e a loja descolada Casa 22. Deu certo e, em julho, o charmoso espaço nos Jardins abriu as portas. Até agora, a empreitada teve investimento de 1,2 milhão de reais.

Doxandabarat: formado em publicidade e ex-modelo (De Boglioli/Divulgação)

Formado em publicidade e com MBA pela Universidade Luigi Bocconi, da Itália, Doxandabarat acumula bastante bagagem. Aos 18 anos, com uma mochila nas costas, saiu da Espanha, onde estudava para ser chef, com a finalidade de conhecer o Nepal. A jornada, sempre com foco em causas assistenciais e no desenvolvimento espiritual, se estendeu por mais de trinta países por quase dois anos de viagem. A peregrinação lhe rendeu, inclusive, 15 quilos a menos. “Esse processo foi uma transformação para mim, me mudou drasticamente”, conta. Ele deu uma força, por exemplo, em projetos humanitários em Calcutá, na Índia, na instituição de Madre Teresa.

Em 2003, durante a Guerra do Iraque, junto à entidade pacifista Human Shields, organizou uma manifestação com 3 000 crianças em Bagdá: forneceu a elas lápis e balões coloridos para que expressassem seus sentimentos em relação ao conflito. Implementou nesse mesmo período um projeto, financiado pela etiqueta alemã Strenesse, de recreação para os pequenos, envolvendo moda. Aí, pela primeira vez, uniu o campo da costura com o do trabalho social.

Em 2007, mudou de rumo ao desembarcar em Milão. O galã, que já tinha se aventurado como modelo para grifes do naipe de Lanvin, Prada,Versace e Pierre Cardin, foi contratado pela Giorgio Armani, conseguiu um cargo de diretoria e acabou transferido para São Paulo. Pulou, então, para a operação da Dolce & Gabbana no Brasil, até resolver investir em seu próprio negócio.

Presoto: um dos três sócios (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Em 2017, Doxandabarat uniu-se ao irmão, Álvaro Oviedo, 28, e ao amigo Anderson Presoto, 32, para criar a Linking Dotz. A produção sustentável sempre se mostrou o foco da marca. “A ideia é exatamente o que o nome da etiqueta sugere: conectar ideias e pessoas para criar oportunidades”, diz. “Queremos gerar um ecossistema de negócios alternativos em que cada pessoa contribua e tenha benefícios.” Seus sapatos custam de 268 a 418 reais. O preço reflete o processo de fabricação. Utiliza-se, por exemplo, algodão orgânico extraído de forma sustentável por agricultores familiares da Paraíba.

Doxandabarat passou cinco meses na região, dormindo em rede e vivendo uma vida simples, para entender o serviço artesanal. “Os solados são de borracha 100% reciclada e as embalagens levam resíduos domésticos na fabricação, como escovas de dentes e barbeadores”, explica Presoto. A redução do impacto ambiental é pensada ao longo de todo o processo. Na costura, a etiqueta conta com o apoio de uma cooperativa de mulheres de comunidades vulneráveis, como o Jardim dos Pimentas, em Guarulhos.

Ilustradores, artistas plásticos e designers gráficos, conhecidos ou anônimos, podem participar do acabamento por meio de uma plataforma colaborativa, na qual ocorre uma espécie de votação on-line aberta. Aqueles que obtiverem maior pontuação vão ver sua arte impressa nos sapatos veganos — em troca, receberão royalties a cada par vendido. A criadora polonesa da marca de roupas Biba, Bárbara Hulanicki, e o grafiteiro Binho Ribeiro são alguns dos nomes que já tiveram seus traços marcados nos artigos.“Nosso projeto tem grande potencial internacional. Além do Brasil, os sapatos são vendidos na Argentina, Itália, Turquia, França, Espanha e Bélgica. Nossa utopia está virando, aos poucos, realidade”, comemora Doxandabarat.

Do básico ao estiloso

Três modelos de calçado produzidos pela marca

(Alexandre Battibugli/Veja SP)

Slip-on básicos: R$ 268,00

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(Alexandre Battibugli/Veja SP)

Slippers estampados por Tina Vieira: R$ 309,00

(Alexandre Battibugli/Veja SP)

Loafers customizados: R$ 418,00

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 02 de outubro de 2019, edição nº 2654.

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