Pinacoteca recebe 300 obras raras de coleção de Olavo Setubal
Trata-se de uma homenagem aos esforços do banqueiro para formar um conjunto documental sobre a história do Brasil que fosse o mais completo possível
Um magnífico tesouro iconográfico poderá ser visto pelos paulistanos pela primeira vez a partir deste sábado (6). Composta de mais de 5 000 peças, a Coleção Brasiliana Itaú terá um recorte de cerca de 300 obras apresentado na Pinacoteca do Estado até maio. No segundo semestre, a seleção vai para um andar do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, e lá será exibida de forma permanente. Em paralelo à exposição, foi lançado pela Editora Capivara o luxuoso e magnífico catálogo Brasiliana Itaú — Uma Grande Coleção Dedicada ao Brasil (708 páginas, 196 reais). Trata-se de uma homenagem aos esforços do banqueiro Olavo Setubal (1923-2008) para formar um conjunto documental sobre nossa história que fosse o mais completo possível. A maioria dos trabalhos, que datam do século XVI ao XX, foi compilada nos últimos dez anos.
“Poucos acervos possuem uma abrangência tão impressionante”, diz o editor Pedro Corrêa do Lago, organizador do livro e curador da mostra. Na opinião do dono da Capivara, somente a Biblioteca Nacional e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ambos situados no Rio de Janeiro, podem ser equiparados à Brasiliana Itaú. Entre as joias reunidas na montagem, um dos destaques é a raríssima tela Panorama da Cidade de São Paulo, realizada em 1821 pelo francês Arnaud Julien Pallière. Primeiro óleo que representa a então pequena cidade (menos de cinquenta ruas e pouco mais de 20 000 habitantes na época), a obra foi encomendada por dom Pedro I e pertenceu à família imperial até 1889. Seu paradeiro ficou desconhecido durante 110 anos, até que ela foi localizada numa coleção particular carioca e adquirida por Olavo Setubal em 2001. “Se fosse conhecida em 1954, com certeza teria sido o carro-chefe das comemorações do quarto centenário de São Paulo”, comenta o curador.
Outras pinturas sobressaem em Coleção Brasiliana Itaú. É o caso dos suntuosos registros do casamento de dom Pedro I e dona Amélia (1829), por Jean- Baptiste Debret, e da assinatura da Lei Áurea (1888), por Victor Meirelles. Os visitantes da Pinacoteca poderão apreciar uma vitrine de 14 metros de comprimento com gravuras de Debret e Johann Moritz Rugendas sobre escravidão, além de uma ampla documentação a respeito do assunto. Para não falar do único exemplar brasileiro do Grande Atlas Blaeu, publicado na Holanda em 1662. A combinação de literatura e artes plásticas também rende preciosidades, a exemplo dos textos dos poetas Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Jorge de Lima para um álbum de gravuras de Lasar Segall. Há ainda o manuscrito de um poema de Bandeira aquarelado pelo próprio autor. “Um acervo dessa magnitude e a intensa produção de documentos e obras sobre o Brasil dificilmente vai se esgotar”, afirma Alfredo Setubal, filho de Olavo e vice-presidente do Itaú. “Daremos continuidade a esse trabalho e manteremos a expansão da coleção com obras e documentos relevantes.”