Avatar do usuário logado
OLÁ,

Estudantes voltam às aulas, com celulares proibidos

Início do ano letivo marca a vigência da restrição legal ao uso dos aparelhos por alunos de todos os anos, nas escolas públicas e particulares

Por Vanessa Barone, Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 fev 2025, 14h30 - Publicado em 14 fev 2025, 08h00
alunos-no-recreio-do-colégio-albert-sabin
Alunos no recreio do Colégio Albert Sabin: mais união nas brincadeiras  (Jesse Matos/Divulgação/Divulgação)
Continua após publicidade

Para além das novidades trazidas por todo início de ano letivo, este deverá ser marcado por uma espécie de flashback da vida escolar, em um passado não muito distante: época em que os momentos fora da sala de aula eram destinados a atividades e brincadeiras como trocar papel de carta, bater figurinha (ou “bafo”, como se dizia), jogar cinco-marias, futebol e queimada. Esse retorno a uma infância analógica é consequência da entrada em vigor da lei de número 15.100/2025, de autoria da deputada estadual Marina Helou (Rede Sustentabilidade), que restringe o uso de telefones celulares durante aulas, recreios e intervalos. Para enfrentar o ócio, portanto, tem sido necessário buscar atividades analógicas.

No Colégio Albert Sabin, no Parque dos Príncipes, onde o uso dos celulares é restrito desde o início do ano passado, crianças e jovens têm procurado diversão em jogos de tabuleiro, cartas ou em desafios como o de montar um cubo mágico. “Entre as mudanças que percebemos, está uma maior união entre os alunos”, diz Sandra Lieven, coordenadora pedagógica do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. “Depois que implantamos a medida, ficou mais difícil ver um aluno isolado do grupo, por exemplo.” Diferente de alguns colégios que dispõem de armários ou compartimentos específicos para guardar os aparelhos, no Albert Sabin eles ficam nas mochilas. Dessa forma, explica Sandra, também se treinam a autonomia e a responsabilidade.

De acordo com a coordenadora, os alunos da instituição já desfrutam das vantagens de resgatar brincadeiras antigas, que encantavam seus pais ou avós. “Percebemos que, ao fazer coisas juntos, eles se sentem mais felizes.” Felipe Belarmino, 12, estudante do 7º ano, confirma a impressão: “Eu e meus amigos estamos conversando mais”, diz o menino, fã de esportes e do jogo Uno, que tem sido um ótimo substituto do equipamento no recreio. “Não sinto falta do celular”, garante.

“A nossa orientação é que o aluno nem traga o aparelho para a escola”, diz Claudia Sartori Zaclis, diretora pedagógica do Colégio Santo Américo, no Jardim Colombo, que também vetou os celulares no ambiente escolar ainda no ano passado. “No ensino médio, era permitido o uso no recreio. Mas, com a lei em vigor, não pode mais”, afirma. E a restrição vale até nas viagens para estudo. Para a pedagoga, a medida só trouxe vantagens, mesmo que isso signifique mais intervenções disciplinares. Claudia conta que, sem a atenção voltada para as telas, surgiram conflitos e discussões entre alunos do ensino fundamental, mas enxerga nisso outra vantagem, uma vez que, ao vivo, fica mais fácil trabalhar a socialização — diferente do que acontece quando os embates se dão no ambiente virtual. “Ainda evitamos o cyberbulling.”

20250210_VejaSP_Celular00043-60.jpg
Adriana Vilarinho, seu filho Francisco e Claudia Zaclis, diretora do Santo Américo: moderação (Flávio Florido/Veja SP)
Continua após a publicidade

Para a médica dermatologista Adriana Vilarinho, a nova lei chega em boa hora. “Acho importante moderar o uso”, afirma ela, que é mãe de Francisco, um adolescente de 15 anos, matriculado no Santo Américo. Para a médica, a restrição ajuda na interação e no acolhimento entre as crianças e jovens. Francisco confirma algumas mudanças de hábitos: “O grupo está mais junto e aproveita o recreio para jogar bola, coisa que só dava para fazer no fim de semana”, revela o rapaz.

Anne Baldisseri, diretora da escola Avenues, no Real Parque, cita a responsabilidade dos pais no uso excessivo das telas pelos filhos. “Depois da pandemia, notamos uma maior preocupação com a segurança dos filhos”, afirma Anne. Esse excesso de zelo contribuiu para a onipresença dos aparelhos na rotina de crianças e jovens. “Por isso, trabalhamos a conscientização dos responsáveis, trazendo-os para a discussão”, explica ela, que vê muitos ganhos na aplicação da nova lei, entre eles o prolongamento da infância e a melhora no convívio social.

De acordo com Erik Hörner, diretor pedagógico do Colégio Humboldt, de Interlagos, a maior parte dos alunos e seus familiares entende as razões para a restrição — ali, a exigência é que os celulares fiquem desligados dentro dos armários, fora da sala de aula, durante toda a permanência na escola. “Mas há alunos, principalmente os do ensino médio, que alegam ser capazes de regular, eles mesmos, o uso do aparelho”, comenta Hörner. Nada, porém, que uma boa conversa não resolva. “Não tivemos nenhum caso de apreensão de aparelho que estivesse sendo usado indevidamente até hoje”, afirma.

Continua após a publicidade
Maria_Helou_foto_Iury_Carvalho.jpg
Marina Helou em roda de conversa na EE Patriarca da Independência, em Vinhedo: conscientização (Iury Carvalho/Divulgação)

Para a autora da lei, o mais adequado é mesmo sempre manter o celular fora do alcance do aluno. “Entendo que exista um momento de adaptação, de transição, mas o ideal é que eles não sejam levados para a escola”, afirma Marina Helou. A medida, inclusive, pode aliviar o que seria mais um encargo para as instituições de ensino: o de guardar — e garantir a segurança — dos smartphones dos estudantes. “É importante deixar as escolas se organizarem. No Rio de Janeiro a lei está funcionando bem com o celular na mochila”, afirma Fernando Padula, secretário municipal de Educação, que se refere à norma fluminense, em vigor desde o ano passado. Mas para Renato Feder, da secretaria estadual, o ideal é que os aparelhos fiquem em local separado. “A lei fala em inacessibilidade, então, só pode ficar na mochila se ele estiver desligado. Temos mais de 5 000 escolas estaduais. Não posso impor que todas sigam as mesmas exigências”, afirma Feder — ele destaca a variedade de perfis dos estabelecimentos, que podem ter cinquenta ou 2 000 estudantes, por exemplo. “Isso sem falar nas escolas indígenas, quilombolas ou que estão localizadas em ilhas”, acrescenta.

alunos-no-recreio-do-colégio-albert-sabin
Alunos do colégio Albert Sabin: celulares banidos e brincadeiras de volta ao recreio (Jesse Matos/Divulgação)
Continua após a publicidade

Já para o consultor Alexandre Schneider, ex-secretário de Educação da capital paulista, definir o local onde guardar os aparelhos durante as aulas é o menos importante. “Devemos avançar a discussão para outros ambientes, incluindo a casa, onde também é preciso moderar o tempo nas telas, sobretudo o dos mais jovens.”

 

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

A partir de 35,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.