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Estilista cria linha de roupas inspirada nas culturas afro e indígena

Sandro Freitas sempre teve o sonho de uma marca própria que refletisse suas raízes; produtos são feitos com capulana, tecido africano supercolorido

Por Fernanda Campos Almeida
Atualizado em 27 Maio 2024, 20h40 - Publicado em 26 fev 2021, 01h25
Sandro Freitas sorrindo para a foto entre as roupas de sua marca
Sandro Freitas: criador da marca Berimbau Brasil (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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A única certeza que Sandro Freitas, 25, conta que tinha na vida era abrir seu próprio negócio no mercado da moda. Criado pelos avós — responsáveis por outros cinco netos — em Santa Luzia do Paruá, interior rural do Maranhão, faltava dinheiro para que o jovem comprasse roupas novas que expressassem sua identidade. Com 11 anos, já sonhando em empreender, começou a ler livros de administração que ganhava do avô e aos 14 aprendeu a desenhar sozinho, fazendo da irmã modelo para os croquis (esboços no papel) que mantinha em uma pasta.

No ano seguinte, decidiu vir a São Paulo estudar moda e criar sua própria linha de roupas e acessórios. A Berimbau Brasil nasceu em 2018 com as mesmas raízes de Sandro, afrobrasileira e indígena. O investimento total foi de 2.000 reais, único dinheiro que tinha.

Todos os produtos são feitos de capulana, tecido secular africano usado por mulheres para cobrir o corpo e carregar os filhos nas costas. Sandro consegue o material direto da origem, com fornecedores do Senegal. As estampas, geométricas e sempre muito coloridas, de padrões diferentes dependendo da origem, vêm de Moçambique, Nigéria, Costa do Marfim, África do Sul etc. Entre tanta variedade, o empresário opta pelas padronagens pequenas para compor as peças.

Formado em estilismo e coordenação de moda, Sandro trabalhava como ajudante de cozinha de uma salgaderia para pagar o curso. “Diziam que eu estava enlouquecendo por querer ser estilista”. Como empreendedor, foi selecionado para participar do projeto Agente Local de Inovação (ALI) do Sebrae-SP e recebeu mentorias de constituição de marca da antropóloga Viviane Junqueira, que trabalhou com aldeias amazônicas por vinte anos. “A Berimbau é inspiradora a outros jovens afro-indígenas que estão em situação de abandono e querem construir nova possibilidade de vida”, explica Viviane.

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O nome da marca faz referência ao esporte que ele praticava no Maranhão, a capoeira. “Homenageei a prática porque ela me deu forças. Não colocaria meu próprio nome, acho egoico.” O processo de criação não é feito de forma tradicional, separado por coleções. As peças são feitas artesanalmente, dependendo da demanda. Mochilas (450 reais), “afrochetes”, o carro-chefe da marca (180 reais modelos novos e 126 reais antigos), shorts (150 reais) e camisas (170 reais) de alfaiataria, jaquetas bomber (175 reais, no momento em promoção), chapéus estilo bucket (80 reais) e máscaras (20 reais) constituem o catálogo, apresentado no Instagram @berimbau_br.

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busto de homem posando com pochetes estilizadas chamadas 'afrochetes'
O mais vendido: a “afrochete”, pochete com estampa afro (Ricardo Costa/Divulgação)

As vendas são feitas pela ferramenta de compra no Instagram ou por direct na mesma rede social. O frete para todo o território nacional é gratuito e cobrado à parte para outros países.

O conjunto de lojas Afropolitan, na República (Rua Rêgo Freitas, 530), é outro espaço que comercializa as peças, além do site afropolitan.com.br.

Entre os modelos que apresentam as peças no Instagram, estão amigos, influenciadores e empresários que compartilham da cultura afro-indígena.

capulana-berimbau-brasil-made-in-sp.jpeg
Capulana: tecido africano de cores vivas usado pela marca (Uly Nogueira/Divulgação)

Questionado por usar apenas pessoas magras para representar a marca, Sandro, no último ensaio fotográfico da Berimbau, convidou os modelos plus size Luciane Barros, conhecida como Lu Big Queen, e Breno Salva para posar nus com mochilas e “afrochetes”. Luciane é idealizadora do coletivo África Plus Size Brasil, formado por modelos negros e fora dos padrões convencionais do mercado da moda. “Nossa sociedade é construída em volta de morais conservadoras que tentam padronizar corpos. Perdi seguidores fazendo isso porque muitos não gostam de ver o corpo gordo”, conta o empreendedor.

Mesmo com planos de criar roupas que vão até o tamanho 58, Sandro afirma que ainda faltam recursos. Oficinas como Faça sua Afrochete que ministrava em unidades do Sesc foram suspensas. Com a pandemia, o jovem, que recebia até 10.000 reais por mês, passou a ganhar metade disso.

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Publicado em VEJA São Paulo de 03 de março de 2021, edição nº 2727

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