Escritórios de arquitetura se destacam por projetos ousados
Quem são os arquitetos que estão mudando a cara da cidade
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Trinta anos atrás, a Módulo, revista de arquitetura editada por Oscar Niemeyer, listou pela primeira vez os jovens arquitetos em evidência no país. Desde então, seu ranking tem sido atualizado a cada dez anos por outros especialistas. Seguindo essa tradição, a Monolito, título de referência no mercado, publicou no mês passado aquarta e mais recente listagem dos mais promissores do Brasil. Dos dezesseis escritórios elencados, sete estão na capital paulista, com a promessa de pouco a pouco mudar a paisagem com que estamos acostumados.
Entre os selecionados, alguns pontos em comum chamam atenção. Para começar, ninguém tem mais de 40 anos. Além da pouca idade, eles compartilham o interesse por projetos experimentais, prateleiras repletas de prêmios, participações importantes em concursos públicos e temporadas de trabalho em escritórios europeus, asiáticos e sul-americanos. Há ainda um fator determinante para alavancar sua produção: a alta do mercado imobiliário.
Apesar da retração registrada nos negócios nos últimos tempos, os números continuam num patamar impressionante. Só de empreendimentos residenciais, foram 38.000 no ano passado na cidade. “O boom ampliou a demanda por projetos, e produzir é o que consolida um arquiteto”, diz Fernando Serapião, editor da Monolito e responsável pela seleção dos talentos emergentes. A diversidade de pedidos de vários segmentos do mercado se reflete nos portfólios.
Das bancadas do escritório Metro, na Rua General Jardim, já saíram salas de cinema (Espaço Itaú), hangares da Gol e um percurso de visitação na fábrica da Nestlé, em Caçapava. Martin Corullon, de 39 anos, um dos três sócios da empresa, assina ainda a cenografia da 30ª Bienal, em cartaz até dezembro. Ele começou como estagiário de Paulo Mendes da Rocha, com quem mantém parcerias. Corullon montou o Metro em 2000 em sociedade com Anna Ferrari e Gustavo Cedroni. Passou uma temporada em Londres no escritório de Norman Foster, um dos nomes mais importantes do cenário mundial nessa área, e hoje segura as pontas sozinho no trabalho, enquanto aguarda os dois sócios retornarem de missões fora do país — Anna no escritório suíço Herzog & de Meuron e Cedroni em Nova York. “Temos uma abertura para o mundo própria da nossa geração”, afirma Corullon.
Na sala em frente ao Metro, os irmãos e arquitetos Lua e Pedro Nitsche também vivenciam a influência estrangeira. “A internet mudou tudo, somos impactados pelos projetos que vemos”, afirma ele. Recentemente, a dupla ganhou o prêmio de destaque do ano na categoria obras construídas do Instituto de Arquitetos do Brasil, com o projeto de um edifício comercial em Pinheiros. No último andar do mesmo edifício da General Jardim (ali, dos dezoito conjuntos, dez são de arquitetura), fica outro escritório que está despontando,o dos sócios Daniel Corsi e Dani Hirano. Juntos, eles já participaram de quase uma dezena de concursos públicos. Eles colecionam duas vitórias importantes. Foram escolhidos para construir o complexo do Tribunal Regional do Trabalho em Goiânia, onde jamais haviam pisado, e o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, que ainda não saiu do papel.
Na Vila Madalena, está o mais antigo entre os novos escritórios. “Somos jovens há um tempão”, brinca Fernando Forte, sócio do FGMF com Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz.
Companheiros de Faculdade de Arquitetura da USP, eles se uniram ainda em sala de aula, fazendo reformas e pondo a mão na massa.
Depois veio um pouco de tudo: salão de cabeleireiro, Sesc Rio em parceria com Indio da Costa e uma casa erguida sobre uma grelha gigantesca na Serra da Mantiqueira, recurso criado para driblar o terreno acidentado. Outra empreitada foi a construção da casa “4×30” em parceria com o escritório CR2.
As sócias Clara Reynaldo e Cecilia Reichstul ajudaram a conceber a residência no Jardim Europa em uma área de 120 metros quadrados. “Temos recebido pedidos para fazer coisas compactas até em Cochabamba, na Bolívia”, conta Clara.
Outro endereço de referência é o do AR, do casal Marina Acayaba e Juan Pablo Rosenberg. Eles começaram a se capitalizar quando transformaram a casa do zelador de um edifício em Higienópolis em um charmoso loft.
Venderam pelo dobro do preço e seguiram reformando, morando e revendendo. “Tive onze endereços nos últimos onze anos”, diz Rosenberg. Com o dinheiro que juntaram, compraram um terreno no Alto da Lapa e, em fevereiro, começam a construir no lugar um prédio residencial. Pegam carona no nicho que passou a surgir nos últimos cinco anos, de consumidores que querem projetos assinados por nomes de ponta — e podem pagar por isso.
A pioneira em oferecer esse serviço foi a IdeaZarvos, do administrador Otávio Zarvos, sediada na Vila Madalena. Segundo ele, seu negócio prosperou ao proporcionar a arquitetos pouco acostumados com o mercado imobiliário apoio técnico, mercadológico e de legislação para produzir. “Temos edifícios únicos, enquanto a maioria das incorporadoras repete fórmulas prontas, com as mesmas fachadas e plantas”, afirma. Entre os que já projetaram para Zarvos estão Isay Weinfeld e Álvaro Puntoni. Grandes incorporadoras ensaiam passos na mesma direção. A JHSF está erguendo um projeto do polonês Daniel Libeskind no Itaim Bibi, a poucos metros de onde a Vitacon constrói um de Marcio Kogan.
A Even andou em tratativas com Paulo Mendes da Rocha e estuda criar um braço para projetos arrojados. “Somos muito paquerados”, diz Grégory Bousquet, um dos sócios do escritório franco-brasileiro Triptyque, em negociação com as companhias Tecnisa e WTorre. “Queremos colocar poesia dentro dessa máquina que é São Paulo.”