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Escotismo completa 100 anos no Brasil

17 000 integrantes em todo o estado, entre crianças e adolescentes, dedicam-se a participar de atividades de sobrevivência, descontração e solidariedade

Por Daniel Salles
Atualizado em 5 dez 2016, 18h40 - Publicado em 6 ago 2010, 20h56

Ainda não são 8 da manhã e o estudante Nicolas Berne, de 12 anos, já está a postos para mais um dia de estudos. Ele cursa o 7º ano do ensino fundamental do Colégio Santa Clara, na Vila Madalena. No último sábado, 31, no entanto, trocou o uniforme da escola pelo de escoteiro e as aulas de matemática e geografia por lições de sobrevivência e brincadeiras. “Aqui aprendemos coisas que não são ensinadas no colégio, como fazer fogueiras e dar nós”, explica ele, com a experiência de quem participa do escotismo desde os 9 anos de idade.

Nicolas integra o Grupo Escoteiro Tiradentes, cuja sede funciona em uma pequena casa amarela dentro do Parque da Água Branca, na Barra Funda. O local serve de ponto de encontro para cerca de 100 paulistanos, a maioria deles com idade entre 7 e 21 anos. Cada faixa etária desenvolve atividades específicas, sempre comandadas por um adulto. A programação de sábado para a turma de 11 a 14 anos incluiu uma visita a um museu de ciências no município de Santo André. “Gosto do escotismo porque sempre conhecemos lugares diferentes e fazemos novos amigos”, explicou, ainda com cara de sono, o estudante Gabriel Azevedo, de 11 anos.

O surgimento da organização data de 1907, quando o general inglês Robert Stephenson Smyth Baden-Powell montou um acampamento com um punhado de meninos em uma ilha ao sul da Inglaterra. Seu objetivo era criar uma oportunidade para os jovens aprenderem a pescar, a explorar ambientes desconhecidos e a cuidar de si próprios. À noite, todos se reuniam para ouvir histórias e cantorias. No ano seguinte, Baden-Powell escreveu um livro em fascículos que até hoje serve de bíblia para os interessados: ‘Escotismo para Rapazes’.

Na cartilha, o general ensina técnicas de orientação no campo e prega hábitos civilizados como não cuspir no chão, estar sempre alerta para ajudar o próximo e não aceitar gorjetas após fazer uma boa ação. Em 1909, sem ser convidado, um grupo de garotas se infiltrou em uma reunião dos escoteiros no Palácio de Cristal, em Londres. A ousadia delas resultou na vertente feminina do movimento, o bandeirantismo, oficializado no mesmo ano.

Em meados da década de 70, porém, a segregação entre os sexos começou a ser abolida. Hoje, tanto meninas são aceitas na organização original como há milhares de garotos bandeirantes. A medida fazia parte de um esforço da direção dos escoteiros para retirar do movimento a pecha de antiquado. Até cinquenta anos atrás, por exemplo, alguns grupos latino-americanos interrompiam suas atividades para o britânico chá das 17 horas, enquanto africanos recebiam aulas de como enfrentar tempestades de neve.

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Trazido por suboficiais do encouraçado ‘Minas Gerais’, o escotismo chegou ao Brasil em abril de 1910. Seu braço nacional, portanto, comemora neste ano um século de vida — a fundação do bandeirantismo por aqui ocorreu em 1919. No estado de São Paulo estão reunidos 17 000 dos 60 000 escoteiros do país e 1 800 das 10 000 bandeirantes. No mundo todo, as duas entidades somam 38 milhões de membros. “Ao contrário do que possa parecer, estamos crescendo a cada ano”, diz o diretor estadual de comunicação dos escoteiros, Fernando Neves.

De origem comum, o escotismo e o bandeirantismo promovem hoje atividades diferentes. O primeiro foca aventuras, como acampamentos e longas caminhadas. Já o segundo se concentra em brincadeiras mirabolantes, nas quais as crianças atuam como se fossem magos e fadas, além de campanhas beneficentes. “Uma de nossas missões é fazer boas ações sempre que possível”, conta a estudante Raíssa Kaspar, de 15 anos, que há duas semanas organizou gincanas em uma creche no Mandaqui, na Zona Norte. A matança de animais como galinhas e coelhos em acampamentos de sobrevivência é cada vez mais rara. “Essa prática está em desuso”, garante Neves. Qualquer pessoa pode engrossar as fileiras das organizações originadas por Baden-Powell.

É cobrada dos integrantes uma mensalidade de cerca de 20 reais — os escoteiros também precisam pagar uma taxa anual, de 56 reais. “Nossa meta é consolidar o caráter do maior número possível de jovens e crianças”, afirma Daniella Avino, diretora executiva do bandeirantismo paulista. O objetivo do adolescente Nicolas Berne dentro do escotismo é mais prosaico: “Quero poder continuar brincando mesmo quando for adulto”.

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