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Entre os 9 000 cães recolhidos nas ruas neste ano, 643 eram pit bulls

O abandono de cachorros dessa raça mais que triplicou de 2005 para cá

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 19h24 - Publicado em 18 set 2009, 20h33

O pit bull da foto acima está no corredor da morte. Na última terça-feira, ele circulava livremente pelas ruas da Freguesia do Ó quando foi capturado pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da prefeitura. Agora, espera por seu dono ou, o que é muito raro, por alguém disposto a adotá-lo. Se nada disso acontecer, receberá uma injeção letal. Esse foi o destino de 597 dos 643 pit bulls recolhidos pelo CCZ de janeiro a agosto deste ano. Cães dessa raça, conhecida por ser extremamente agressiva, nunca foram tão abandonados por seus proprietários (veja quadro ao lado). A cada dois dias, em média, um deles chega ao CCZ. Só os vira-latas são mais rejeitados.

À medida que a raça ganha as ruas, crescem os riscos de uma agressão. Até quinta-feira passada, 77 pit bulls recolhidos tinham se envolvido em ataques. O número é maior do que o registrado em 2005 e já se aproxima dos 85 cães agressores recolhidos no ano passado. “O pit bull pode ser dócil em casa, mas, depois de dias nas ruas e sem comer, qualquer cachorro vira uma fera”, diz o veterinário Renato Tavares de Medeiros. O perigo é maior se o animal foi treinado para ser agressivo ou se era usado para guardar a casa, sem nenhum convívio social. “Quando encontra as pessoas, o cão vai encará-las como uma estranha ameaça”, afirma o adestrador Dennis Martin, associado ao British Institute of Professional Dog Trainers.

Foi o que aconteceu no último fim de semana com a menina Ana Beatriz dos Santos Silva, de 3 anos. Ela brincava em frente à sua casa, na Zona Leste, quando Conan, o pit bull do vizinho, a atacou. Depois de várias mordidas nas bochechas e na perna, a garota foi salva pela mãe, a dona-de-casa Letícia Abreu Santos, que também saiu machucada. “Pensei que iríamos morrer”, lembra Letícia. A agressão rendeu dezoito pontos e uma grande cicatriz no rosto da menina. Não foi a primeira vez que Conan fez estragos. Ele já havia mordido outras três pessoas da vizinhança, duas delas crianças. O dono, o bancário Randal Ferreira Riccomi, afirma que devolveu seu bicho ao canil.

Resultado do cruzamento do buldogue e do terrier, o american pit bull terrier nasceu na Inglaterra no início do século XIX. Por causa da força física, participava de lutas, primeiro contra touros e depois contra cães, em rinhas nas quais a ordem era matar ou morrer. “Ao contrário de outros cachorros, o pit bull não solta a vítima quando esta fica imobilizada”, diz o veterinário Mauro Lantzman, especialista em comportamento animal. Banida da Inglaterra em 1991, a raça veio para o Brasil no início da década de 90, época em que um filhote era vendido por até 3.000 reais. Virou cachorro da moda e agora é vítima dela. A facilidade de reprodução – cada ninhada pode render de seis a quinze filhotes – fez a população aumentar rapidamente. Muitos são abandonados por causa do alto custo de sua manutenção (cerca de 270 reais por mês) e pela dificuldade de adestramento. “Além de muito limite, o pit bull precisa do dobro da dose de socialização que requer um labrador”, explica o adestrador Martin. “Se isso não acontece, a agressividade aflora.” O medo provocado pelas notícias de ataques é mais um motivo para o abandono. “A cada dois dias recebemos telefonemas de pessoas que querem se desfazer de seu pit bull”, afirma Marco Ciampi, presidente da ONG de proteção animal Arca Brasil.

Para diminuir o problema, Ciampi defende um controle maior dos criadores e a obrigatoriedade de castração dos animais. Uma lei municipal, sancionada pelo prefeito em julho, mas que ainda aguarda regulamentação, obriga a esterilização. Outra lei, estadual, determina que esta e outras raças perigosas não circulem em locais públicos sem coleira, guia de condução, enforcador e focinheira. A multa é de 125 reais, um valor irrisório diante do que essas feras podem causar. Só neste ano, a Supervisão de Vigilância em Saúde recebeu 600 denúncias de descumprimento da norma. Nenhuma resultou em punição.

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Maior a oferta, menor o preço

• Há dez anos, quando era novidade no país, um filhote de pit bull custava entre 1 500 e 3 000 reais.

• Com a popularização da raça, hoje esse preço varia entre 100 e 200 reais e há grande oferta de animais para adoção.

• Até os três primeiros meses, um desses cães consome 500 reais por mês com ração, vacinação e veterinário. Os adultos dão um gasto médio de 270 reais por mês, segundo criadores.

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Tenho um pit bull e quero me desfazer dele. Qual é o caminho?

• Quando o cão não respeita limites, desobedece ao dono e costuma rosnar e atacar objetos em movimento, pode representar riscos. Em casos assim, vale procurar a consultoria de um veterinário especialista em comportamento ou adestrador antes de desistir do animal.

• Outra saída é a doação. Há sites especializados, como o https://www.vidadecao.com.br ou o https://www.petsonline.com.br, que oferecem classificados gratuitos.

• Ao doá-lo, certifique-se de que o novo dono está acostumado a lidar com cachorros grandes. Avise-o se o cão for agressivo.

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• De nada adianta recorrer a abrigos de animais. As instituições da cidade estão lotadas e dificilmente aceitam mais cachorros.

• O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) só recebe cães envolvidos em agressão ou muito doentes.

O que fazer se deparar com um pit bull na rua?

• Jamais o encare ou faça movimentos bruscos. Isso pode ser interpretado como provocação.

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• Se puder, atravesse a rua calmamente e tente desviar-se do caminho e da atenção dele.

• Evite correr ou gritar. Pessoas em fuga são encaradas como presas.

• Caso perceba intenção de ataque, mantenha-se imóvel, o que ajuda a inibir a ação.

• Se o cão não tem dono, informe o local ao CCZ pelo tel: 156.

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E em caso de ataque?

• Permaneça em pé e imóvel. Cruze os braços no tórax e proteja o pescoço com as mãos. Evite dar as costas ao animal.

• Se for derrubado, procure ficar em posição fetal, com as pernas dobradas e joelhos recolhidos junto ao tórax, protegendo o pescoço.

• Quando presenciar um ataque, nunca agrida ou bata no cão. A dor pode provocar ainda mais raiva.

• Procure distraí-lo. Jogar água fria ajuda.

• Caso o cão não pare de morder, busque a ajuda da Polícia ( tel: 190) ou do Corpo de Bombeiros ( tel: 193).

• Comunique imediatamente o ataque ao CCZ pelo tel: 156.

Fontes: Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de São Paulo; Alexandre Rossi e Dennis Martin, adestradores; e Mauro Lantzman e Hannelore Fuchs, veterinários

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