“Em bairro que já tem prédio alto, por que limitar?”, questiona presidente do Secovi
Ely Wertheim diz que gabarito de altura de prédios em certas regiões é "muito restrito" e que mercado imobiliário "não está descaracterizando bairros"
Nove anos após a aprovação do Plano Diretor, que está em processo de revisão na Câmara Municipal, a cidade virou um canteiro de obras, especialmente em áreas próximas a estações de metrô e trem e corredores de ônibus, como forma de aumentar o adensamento nessas regiões. Mas para Ely Wertheim, presidente executivo do Secovi–SP, entidade que representa as empresas imobiliárias da cidade de São Paulo, é preciso que a lei seja atualizada para permitir ainda mais construções na capital. “A gente entende que algumas revisões e aperfeiçoamentos devem ser feitos, para permitir que os bairros que já estão consolidados tenham um adensamento mais homogêneo nos eixos, para que mais pessoas possam usufruir da infraestrutura. E não somente nos eixos, mas também dentro dos bairros”, afirma.
Prioritariamente, desde 2014, a Prefeitura estimula as construções em eixos de estruturação da transformação urbana, que são locais que ficam a 150 metros de corredores de ônibus ou no raio de 400 metros de estações do transporte sobre trilhos. Alguns exemplos são bairros próximos à Radial Leste; das avenidas que conectam o Jabaquara, na Zona Sul, até a Sé, no Centro; ou o trecho da Rua Heitor Penteado até a Avenida Paulista, entre outros. Mas, mesmo nesses locais, o Plano Diretor e a Lei de Zoneamento fixam limites de altura de prédios. O mercado imobiliário tem pressionado para diminuir essas regras. “Em um bairro que já tem um monte de prédio alto, por que tem que limitar? A gente não defende fazer qualquer coisa de qualquer jeito, mas é muito restrito hoje, a restrição é muito grande e isso encarece o imóvel e impede que mais pessoas possam usufruir dessa porção do território que tem infraestrutura”, comenta. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) estuda, nos próximos meses, propor o fim do limite de altura de 28 metros para prédios nos eixos — isso se daria na revisão da Lei do Zoneamento, de 2016.
Nos últimos anos, têm se intensificado os conflitos entre grandes construtoras e associações de moradores de bairros que antes eram repletos de casas, que alegam descaracterização das regiões — como Pinheiros e Pompeia, ambos na Zona Oeste. Para o representante do Secovi, não se pode culpar as empreiteiras. “Não é o mercado imobiliário que está descaracterizando os bairros. A gente atua de acordo com a legislação, é a legislação que tem que definir as regras. É uma questão de opinião, quem se muda para esses bairros gosta. As empresas fazem o que o mercado demanda e o que a legislação permite”, rebate.
Publicado em VEJA São Paulo de 19 de abril de 2023, edição nº 2837
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