A disputa pela prefeitura de São Paulo já começou
Saiba as tentativas de aliança, brigas internas dos partidos e cotoveladas entre os adversários
Mesmo com seu impressionante1,5 milhão de eleitores, ter se tornado o deputado federal mais votado do país em 2014 nunca foi a meta principal de Celso Russomanno. Sua ambição sempre esteve em ocupara cadeira de couro escuro localizada no 5º andar do Edifício Matarazzo, sede da prefeitura de São Paulo. Ele se sente mais perto desse sonho após ver os resultados da última pesquisa Datafolha.
No levantamento divulgado na semana passada, aparece isolado como líder, com 34% de preferência. Além disso, seu nome é favorito em todas as faixas etárias, regiões e níveis de escolaridade, tanto entre homens quanto entre mulheres. Em segundo lugar, existe um pelotão de adversários tecnicamente empatados: a senadora Marta Suplicy (13%), o prefeito Fernando Haddad (12%) e o apresentador José Luiz Datena (12%). Na lanterninha, fica o vereador tucano Andrea Matarazzo(4%). “Isso me deixa motivado”, afirma Russomanno. “Estou me cercando de técnicos e colhendo propostas para a campanha.”
Essa é a sua principal estratégia para não repetir o tropeço do pleito de 2012, quando figurou meses como imbatível, até despencar espetacularmente às vésperas da decisão, ficando fora do segundo turno. Entre outros problemas, não tinha um plano de governo. “Agora vai ser diferente. Estou falando com o dr. Bráulio (Luna Filho), presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, para elaborar programas para a área da saúde, por exemplo”, adianta.
Outra missão de Russomanno será dissociar seu nome da Igreja Universal a fim de atrair eleitores de religiões diversas e evangélicos de outras denominações — fiéis da Mundial do Poder de Deus, por exemplo, tendem a não votar em candidatos ligados ao bispo Edir Macedo. “Sou católico. Meu casamento foi celebrado pelo padre Marcelo Rossi”, despista. Quando perguntado se tem um santo de devoção, cita Nossa Senhora Aparecida. Mas nem tudo é radical. “Onde tiver um templo, vou entrar.”
Datena, ao seu estilo, faz pouco-caso dessa elasticidade religiosa do adversário. “O cara não sabe se é católico ou evangélico, acho isso muito complicado”, afirmou a VEJA SÃO PAULO o apresentador da Band, por telefone, de Barcelona, onde está em férias com a família. Ele bate também na fama do adversário de defensor dos consumidores. “Ajudar alguém a trocar uma geladeira quebrada é moleza, até porque existe o Procon. Quero ver sanar problemas de saúde e de educação.” Em público, Datena se diz animado com os números do Datafolha por enxergar margem de crescimento. Sua intenção de voto sobe para 17% entre os eleitores mais velhos (acima dos 45 anos) e menos escolarizados.
Desde que lançou seu nome no páreo e trocou o PT pelo PP, o astro da TV não saiu para andanças pela cidade. A atração Brasil Urgente continua sendo seu maior palanque. “Na hora em que me dedicar apenas à política, vou disparar.” Ele teve interesse em participar do programa eleitoral do PP que vai ao ar nesta semana, mas não teria recebido o aval de Johnny Saad, presidente da Band.
A emissora nega qualquer interferência. Nos bastidores, seus interlocutores avaliam que o martelo não foi batido. O fator financeiro pesa na decisão de virar político e largar o salário de estrela de TV. “Não é fácil deixar de ganhar 750 000 reais por mês para tentar algo que não é certo”, pondera um colega de partido.
Seu amigo do peito e possível parceiro de chapa, o deputado estadual Delegado Olim (PP), está sendo cortejado para compor coligações. Há duas semanas, Paulo Skaf, do PMDB, sondou-o para ser o vice de Marta Suplicy. Skaf tomou um “não”. “Como aceitar o convite de uma mulher que me vê em evento e vira a cara para não me cumprimentar?”, questiona Olim. Russomanno também cogita uma dobradinha com Olim. “Seria muito bem-vindo”, diz o apresentador da Record.
Seja qual for seu par, uma causa de Olim está certa: defenderá a proibição de manifestações na Avenida Paulista. “Multarei os sindicatos que usarem o espaço para atrapalhar a vida dos outros.” O delegado, porém, gosta da iniciativa de fechar a avenida-símbolo da capital aos domingos. “Só acho que não precisa ser nas duas vias.”
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Marta Suplicy, que deixou o PT e assinou com o PMDB em setembro, tirou de Gabriel Chalita o sonho de sair como vice na chapa de Haddad. Mas a pesquisa Datafolha não foi bem digerida pelos caciques de sua nova legenda. Eles davam como certo que a senadora estaria à frente de Datena e Haddad. “A Marta precisa conquistar a simpatia da população mais escolarizada. Só com a periferia ela não vence uma eleição”, considera um membro graduado do PMDB.
Entusiastas do prefeito gostaram da segunda colocação, apesar de o partido estar desgastado com denúncias de corrupção e da taxa de rejeição elevadíssima do político (49% dos paulistanos reprovam sua administração, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada na semana passada). Seu nome tem apelo na fatia de jovens de 16 a 24 anos (22% de intenção de voto). No segmento com renda até dois salários mínimos, cai para 8%. “Ele não canalizou córregos prometidos e ficamos decepcionados”, reclama Gilson Rodrigues, líder comunitário da favela de Paraisópolis.
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Dos vinte CEUs previstos em campanha, apenas um foi construído na cidade, em Heliópolis. Sua obra mais vistosa, o canteiro de ciclovias, tem problemas sérios de execução, questão que lhe rendeu o apelido de “prefeito Suvinil”, e um custo entre os mais caros do mundo. A taxa de aprovação dessa política na cidade caiu de 80% para 56%, segundo o recente Datafolha.
Os tucanos se engalfinham para definir quem será o cabeça de chapa. Hoje, apenas o vereador Andrea Matarazzo (4% de intenções de voto) e o empresário João Doria Jr. (3%) se declaram no pleito. “Sou alguém que conhece os problemas da cidade”, vangloria-se Matarazzo. Doria acha que tem chance de crescer. “Os nomes novos arejam a discussão, as pessoas querem opções diferentes”, acredita. O empresário tem feito uma via-crúcis pela periferia e visitou 49 dos 58 diretórios do partido. “Fui até a Ermelino Matarazzo, Penha”, ressalta.
No ninho do PSDB, comenta-se que o governador Geraldo Alckmin gosta mesmo de Alexandre de Moraes, seu secretário de Segurança, e de Fernando Capez, deputado estadual. “O primeiro é filiado ao PMDB, então teria muita resistência interna ao trocar de sigla. O segundo é um promotor com experiência em defesa do consumidor, seria um contraponto ao Russomanno”, analisa uma pessoa ligada ao governador.
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Com quase um ano de antecedência, o cenário do pleito de 2016 é um grande mistério. “Com a crise econômica e a corrupção, fatores de Brasília vão interferir mais na eleição municipal”, avalia Edison Nunes, cientista político da PUC. “Não sabemos os desdobramentos de operações como a Lava-Jato e muitos partidos podem se afundar ainda mais em denúncias.”