Doria faz reforma em Palácio dos Bandeirantes, mas não informa valor
Projeto da decoradora de luxo Joia Bergamo foi entregue em forma de doação, mas iniciativa é proibida pelo código de ética estadual e governo nega
O governador João Doria (PSDB) mandou reformar várias alas do Palácio dos Bandeirantes, na Zona Sul da capital. O tucano, porém, não informou quanto gastou com as obras.
A empreitada, que contou com a consultoria de Joia Bergamo, uma designer de luxo, foi feita para repaginar a área íntima do Palácio, o salão de Despachos e o antigo Salão dos Pratos, agora rebatizado de Sala São Paulo. Projetado pelo arquiteto italiano Marcello Piacentinni, o Palácio dos Bandeirantes mistura o estilo moderno com o clássico.
As reformas feitas por Doria mudaram bastante a cara dos ambientes internos do prédio. O que antes eram salas marcadas pela presença de muita madeira, tons em marrom e paredes claras, agora são espaços pintados de preto e cinza, com menos móveis antigos expostos no local. Alguns foram cobertos por panos escuros. O Palácio dos Bandeirantes também é um museu, com um acervo com cerca de 4 000 peças.
Funcionários da sede do governo relataram à reportagem que a ala mais alterada foi a residencial. Como decidiu continuar morando em sua mansão no Jardim Europa, Doria decidiu tornar a área íntima seu ambiente de trabalho, levando para lá seu próprio gabinete. Assessores do tucano afirmaram que várias salas foram criadas na ala e que o governador teria construído um banheiro só para ele no local.
No dia 28 de fevereiro, o tucano chegou a promover um jantar para amigos para reapresentar o setor com a nova decoração. Um dos convidados foi o editor de livros de arte e revistas de luxo, Antonio Gouveia. No Instagram, Gouveia publicou várias fotos do evento, algumas ao lado de Doria. Nas publicações, o editor elogia o trabalho feito pela decoradora Joia Bergamo.
Apesar da dimensão considerável das reformas feitas no Palácio, a assessoria de Doria trata as mudanças apenas como “manutenção de rotina, para conservação do patrimônio público”. A reportagem perguntou mais de uma vez quanto o governo paulista gastou com a nova decoração interna do Palácio, mas não foi informada de valores. Disseram apenas que trata-se de um dinheiro previsto no Orçamento do Estado destinado à manutenção de prédios públicos.
Em nota, a assessoria palaciana informou que fazia dez anos que a sede do governo não passava por manutenção. Disse ainda que não havia um decorador responsável. Por telefone, no entanto, uma assessora do governador disse que o projeto “foi doado” por Joia Bergamo ao governador. O Código de Ética do Estado proíbe que servidores públicos do Estado recebam benesses de empresas privadas. Permite apenas o recebimento de “brindes que não tenham valor comercial; ou não tenham valor elevado e sejam distribuídos a título de cortesia, divulgação, ou por ocasião de eventos especiais ou datas comemorativas”.
Procurada, a assessoria de Joia Bergamo informou que a reportagem deveria procurar o Palácio dos Bandeirantes para falar do projeto. Joia foi autora do projeto das placas de vidro instaladas no entorno da raia olímpica da Universidade de São Paulo, quando Doria ainda era prefeito de São Paulo.
A assessoria do Palácio afirma ainda no texto que manteve todas as obras do acervo e que elas são de exposição rotativa entre os cômodos. Elas também seriam trocadas com as que estão expostas em outros prédios públicos. “O Governo também pretende locar espaços e salões que hoje são usados para reuniões. A renda será revertida para o Fundo Social São Paulo”, diz a nota.
Na época que era prefeito, Doria mandou doar dois quadros de sua própria coleção para a prefeitura. Um deles era assinado pelo artista Romero Britto e ficou exposto na sala anexa ao seu gabinete.