Dez visões de futuro na tela
A estreia do remake de "O Vingador do Futuro" retoma uma vocação do cinema: prever o tempo
Como será o amanhã? No cinema, essa pergunta encontra não apenas uma, mas uma quantidade impressionante de respostas. A superprodução de ficção científica “O Vingador do Futuro”, que estreia hoje, imagina o fim do século XXI como um período de trevas, onde uma empresa oferece a possibilidade de converter sonhos em realidade. A ilusão, é claro, não vai durar muito.
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Dirigido por Len Wiseman (de “Underworld”), o longa-metragem recria a fita homônima que fez sucesso em 1990. As diferenças entre as versões, ambas inspiradas na obra do escritor Philip K. Dick, mostram que as tramas futuristas também têm que se adaptar aos efeitos do tempo.
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Nesta repaginação, não há mais viagem a Marte nem o carisma do astro Arnold Schwarzenegger. O protagonista, interpretado por Colin Farrell, é perseguido pelas forças repressoras dos dois únicos territórios habitados da Terra e que estão em guerra: a União Federativa da Bretanha e a Colônia.
Desde a era silenciosa (“Metropolis”, de Fritz Lang, uma obra-prima do gênero), o cinema especula sobre os próximos capítulos da história da humanidade. A seguir, relembre outros dez filmes que, extraordinários ou não, têm visões futuristas que encantam (ou assombram) o público:
“A.I. – Inteligência Artificial” (Steven Spielberg, 2001)
Apontar a câmera para o futuro era uma das obsessões do diretor Stanley Kubrick, de “2001 – Uma Odisséia no Espaço” (1968) e “Laranja Mecânica” (1971). Após a morte do cineasta, em 1999, Steven Spielberg resolveu retomar um projeto antigo do realizador. A trama, sobre uma criança androide, quase humana, que sai numa aventura para encontrar a mãe, coloca em xeque os avanços da robótica e da clonagem. Eis o século XXII de Kubrick e Spielberg: um mundo de emoções congeladas.
“Akira” (Katsuhiro Otomo, 1988)
A animação cult conquistou uma multidão de fãs ao criar uma visão de futuro ainda mais assustadora que a de filmes como “Blade Runner” e “2001 – Uma Odisséia no Espaço”. A disputa entre gangues nas ruas de Tóquio, em 2019, é narrada no tom sombrio de um conto pós-apocalíptico. Não faltam personagens desiludidos e agoniados, no comando de motocicletas ultrapotentes. No nicho dos desenhos para adultos, provocou uma pequena revolução.
“Blade Runner – O Caçador de Androides” (Ridley Scott, 1982)
O “noir futurista” de Ridley Scott influenciou dezenas de filmes. O clima decadente e sórdido desta recriação da cidade de Los Angeles marcou a cultura pop dos anos 80. Para adaptar o enredo do escritor Philip K. Dick, o roteiro tem elementos de thrillers e fitas policiais: os replicantes, androides banidos da Terra, são perseguidos por caçadores como Rick Deckard (papel de Harrison Ford). O futuro, nota-se, não é um lugar agradável para se viver.
“De Volta para o Futuro – Parte II” (Robert Zemeckis, 1989)
Em livros e filmes de ficção científica, o futuro geralmente é retratado por um viés soturno e pessimista. O segundo episódio da trilogia toma um rumo menos óbvio: quando Marty McFly (papel de Michael J. Fox) desembarca em 2015, encontra uma América multicolorida, rica e fascinada pela tecnologia, onde carros e skates voam. Para quem foi criança ou adolescente nos anos 80, era uma imagem de paraíso.
“A Estrada” (John Hillcoat, 2009)
São muitos os dramas sobre a luta pela sobrevivência após o apocalipse. Poucas, contudo, são narradas de forma tão crua quanto a do romance “A Estrada”, de Cormac McCarthy. O enredo, quase lacônico, mostra a longa caminhada de um pai e um filho em uma América desolada, sem esperança alguma. Esta versão para o cinema, com o ator Viggo Mortensen, faz justiça a pelo menos um aspecto do livro: é tão seco quanto. E, na tela, o futuro poucas vezes pareceu tão… silencioso.
“Eu, Robô” (Alex Proyas, 2004)
Na obra do escritor Isaac Asimov, morto em 1992, um personagem se tornou clássico: o robô que, programado para acatar as ordens dos humanos, rebela-se contra seus criadores. Nesta adaptação não muito inspirada, o universo do autor é diluído para servir às convenções de uma típica fita de ação estrelada por Will Smith. Curioso, ainda assim, é notar como o diretor Alex Proyas (de “Presságio”) imagina o ano de 2035: o design dos androides-serviçais lembra muito o dos produtos desenvolvidos pela empresa de Steve Jobs, a Apple. Coincidência?
“eXistenZ” (David Cronenberg, 1999)
Especialista em fitas de horror físico, o diretor canadense David Cronenberg inventou aqui uma alegoria para a forma como as pessoas lidam com a tecnologia – no caso, o alvo são os games. No futuro, os consoles de brinquedos eletrônicos são substituídos por aparelhos de realidade virtual que se conectam ao corpo dos jogadores. Um grupo de rebeldes luta para impedir que os fabricantes da tecnologia desistam da ideia de confinar os humanos numa dimensão de fantasias.
“Gattaca – Experiência Genética” (Andrew Niccol, 1997)
E se as classes sociais fossem determinadas pelo DNA? A questão instigou o roteirista e diretor Andrew Niccol, que criou uma trama sobre uma sociedade que, em “um futuro não tão distante”, divide os cidadãos entre aqueles de primeira classe, programados geneticamente, e o restante da população. Para ressaltar a hipocrisia do ambiente, Niccol opõe cenários limpos e elegantes a uma trama cruel.
“No Mundo de 2020” (Richard Fleischer, 1973)
Uma das ficções científicas mais populares dos anos 70 pode parecer datada, mas não perdeu o charme. Em 2022, Nova York se tornou um dos lugares mais desagradáveis do planeta. A cidade sofre com superpopulação, poluição e miséria. Para se alimentar, a população recorre aos alimentos da corporação Soylent. A trama surpreende ao revelar o conteúdo desses biscoitos com “alto teor de proteína”: eles são feitos de restos humanos.
“Substitutos” (Jonathan Mostow, 2009)
Apesar de não ter deixado boas lembranças, esta adaptação apenas correta da HQ de Robert Venditti é uma das poucas fitas do gênero que usam as liberdades da ficção científica para criticar as relações via internet. O roteiro mostra um tempo em que as pessoas ficam permanentemente em casa, conectadas a computadores, controlando androides encarregados de cumprir tarefas do dia a dia. Os robôs, belos e atléticos, são as imagens idealizadas de seus donos sedentários.