“O Ditador” e outras dez sátiras politicamente incorretas
“Dr. Fantástico” e “Team America” estão entre as boas comédias que zombaram de temas sérios
O ator inglês Sacha Baron Cohen, de “Borat” (2006) e “Bruno” (2009), está de volta em mais uma comédia atrevida. “O Ditador” não traz alterações radicais à fórmula provocativa do cineasta. O novo longa ressalta, ainda assim, uma faceta do comediante: o gosto pela sátira política.
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Dedicado a Kim Jong-II, o líder norte-coreano morto em dezembro de 2011, a fita não esconde seus alvos ao acompanhar as peripécias de Aladeen, déspota de um país fictício no norte da África. Cohen prova que o humor politicamente incorreto segue em alta no cinema americano. A seguir, confira outros dez filmes que zombaram corajosamente de temas sérios.
“Dr. Fantástico” (Dr. Strangelove, 1964), de Stanley Kubrick
Dois anos depois do controverso “Lolita”, Kubrick encontrou na comédia um instrumento poderoso de provocação política. Em plena Guerra Fria, o cineasta transformou um assunto delicado – a corrida armamentista entre Estados Unidos e União Soviética – numa das sátiras mais venenosas e amalucadas da história do cinema. Em três papéis (entre eles, o do presidente norte-americano), Peter Sellers ajuda o diretor a expor o que havia de ridículo no conflito entre as duas potências.
“O Grande Ditador” (The Great Dictator, 1940), de Charles Chaplin
Chaplin abandonou os filmes silenciosos por um motivo nobre: usar uma torrente de palavras para avançar contra os governos truculentos de Adolf Hitler e Benito Mussolini. “São homens de máquina, com coração de máquina”, ataca. No papel de um barbeiro judeu e de um ditador antissemita, ridiculariza as afetações dos líderes e faz uma ode à democracia. A cena em que o ditador dança e brinca com um globo terrestre está entre os momentos memoráveis do cineasta.
“Mera Coincidência” (Wag the Dog, 1997), de Barry Levinson
O título em português perde um pouco do sentido quando não se leva em conta o contexto em que o filme chegou às telas. Pouco depois do lançamento nos Estados Unidos, estourou o escândalo sexual entre o presidente Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky. Na tela, um candidato a presidente tenta ofuscar uma polêmica semelhante. A solução: inventar uma guerra na Albânia.
“Brazil – O Filme” (1985), de Terry Gilliam
Ex-integrante do grupo inglês de comédia Monty Python, o diretor Terry Gilliam combina duas de suas marcas neste ótimo longa de 1985: a fantasia e o humor corrosivo. Um tom de ficção científica delirante é usado para compor uma alegoria sobre os governos totalitários e a burocracia estatal. Os únicos momentos de liberdade do personagem principal, Sam Lowry (papel de Jonathan Pryce), estão em seus sonhos. Quando acorda, ele enfrenta um mundo sufocante e mecânico.
“Politicamente Incorreto” (Bulworth, 1998), de Warren Beatty
As piadas sobre as disputas eleitorais nos Estados Unidos não surtiram efeito no Brasil, tanto que esta comédia dirigida por Warren Beatty (de “Bonnie e Clyde”) chegou diretamente nas locadoras. Apesar de irregular, o roteiro garante o riso anárquico ao acompanhar a campanha desastrada de um candidato à reeleição que, quanto mais gafes comete (entre elas, fumar maconha e cantar um rap em público), mais popular fica.
“Eleição” (Election, 1999), de Alexander Payne
Para comentar o lado patético do sistema eleitoral dos Estados Unidos, o diretor de “Os Descendentes” optou por uma abordagem nada convencional: filmar as intrigas e trapaças em uma votação escolar. Com o colorido exagerado de uma charge, o cineasta mostra personagens que simbolizam tipos da política americana, como a candidata obcecada pela vitória (papel de Reese Witherspoon), o concorrente carismático e tolo (Chris Klein) e o professor (Matthew Broderick) que, com boas intenções, tenta manipular o processo.
“Dave – Presidente por um Dia” (1993), de Ivan Reitman
Não espere muita acidez desta comédia do diretor de “Os Caça-Fantasmas”. O clima afetuoso faz referências aos clássicos de Frank Capra, sem pesar na crítica ao poder. O ponto de partida é quase singelo: de tão parecido com o presidente dos Estados Unidos, Dave Kovic (Kevin Kline) é convocado pelo serviço secreto para substituir o chefe da nação, Bill Mitchell, enquanto ele se encontra com a amante. Quando Mitchell sofre um acidente e fica em coma, Dave é convencido por executivos da Casa Branca a prolongar o trabalho e interpretar o papel do homem mais poderoso do país.
“Bananas” (1971), de Woody Allen
Em uma de suas produções mais diretamente políticas, Allen interpreta um nova-iorquino que, depois de levar um fora da namorada ativista, viaja a um país fictício da América do Sul – conhecido como uma “república das bananas” – e se envolve em uma revolta do proletariado. As referências à revolução cubana e aos desmandos de líderes latino-americanos fizeram do filme um cult dos anos 70.
“Segredos do Poder” (1998), de Mike Nichols
Tal como “Mera Coincidência”, este longa do diretor de “A Primeira Noite de um Homem” ganhou ainda mais apelo devido aos escândalos do governo Clinton. Jack Stanton (interpretado por John Travolta), o protagonista, é um candidato a presidente que é infiel no casamento e carismático nos palanques. Apesar das semelhanças, interessa ao diretor discutir a ética das campanhas políticas e disparar a pergunta: no campo político, vale tudo para se livrar dos adversários?
“Team America – Detonando o Mundo” (2004), de Trey Parker
Criada pela equipe da série “South Park”, a animação com marionetes satiriza, a um só tempo, a política internacional do governo Bush e os clichês de sucesso nos filmes de ação. Os personagens integram um grupo de soldados de elite cuja missão é exterminar terroristas da Coreia do Norte e pacificar o mundo. Astros bem intencionados como George Clooney, Matt Damon e Sean Penn não são poupados por um roteiro sem estribeiras, que coloca em xeque a prepotência militar dos norte-americanos.