‘Despertar da Primavera’ é espetáculo irregular
Atores inexperientes e canções tornam o musical uma derrapada no currículo dos diretores Claudio Botelho e Charles Möeller
Justiça seja feita: os diretores cariocas Claudio Botelho e Charles Möeller conquistaram merecido prestígio nos últimos anos. Da simplicidade de Beatles num Céu de Diamantes à superprodução A Noviça Rebelde, passando pela ousadia de 7 — O Musical e de Avenida Q, a essência do gênero foi defendida com inventividade, cuidado e boas atuações. Versão musical de Duncan Sheik e Steven Sater para a peça do alemão Frank Wedekind (1864-1918), O Despertar da Primavera, no entanto, marca uma derrapagem na trajetória da dupla. Trata-se de uma produção difícil de ser encenada. A começar pelas letras das canções, que não permitem o coloquialismo ao qual Botelho e Möeller estão habituados. Mas, sobretudo, por causa do elenco exigido: atores entre 16 e 25 anos, geralmente sem experiência de palco.
O espetáculo mostra-se irregular logo no sonolento primeiro ato. Apesar do texto universal, centrado em um grupo de jovens oprimidos envolvido com a descoberta do sexo, a fidelidade ao original ofuscou os criativos diretores. Pierre Baitelli e Malu Rodrigues interpretam cheios de garra seu trágico casal. Rodrigo Pandolfo, por sua vez, ator de talento comprovado, conquista mais pela personalidade. Os três, ao lado da atriz Débora Olivieri, dividida entre seis personagens adultas femininas, revelam-se o melhor da montagem. Imaturos, os demais atores não dão conta do recado. Nem Eduardo Semerjian, que estreou em São Paulo nos nove papéis adultos masculinos, encontrou o tom. Incansáveis, Botelho e Möeller lançam o musical Gypsy em abril e prometem Hair para outubro. Só precisam fi car atentos para que o volume de produções não se sobreponha à até então costumeira qualidade de seus trabalhos.