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Meus 8 anos

Confira a crônica da semana

Por Mário Viana
Atualizado em 13 abr 2018, 06h00 - Publicado em 13 abr 2018, 06h00
 (Attílio/Veja SP)
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Cada vez que cai um temporal em São Paulo eu me sinto muito, muito velho. Vocês acreditam que eu sou do tempo em que os semáforos não paravam
de funcionar quando chovia? Pois é, não parece, mas sou. O trânsito ficava mais difícil, claro, mas isso acontecia desde quando só charretes e carroças circulavam pelas ruelas estreitas do vilarejo que virou metrópole.

Na aurora da minha vida, os faróis trabalhavam sob qualquer condição meteorológica. Tudo bem, na época ninguém era muito chegado a obedecer a sinais. E nem havia tantos faróis e carros assim. Até onde eu recordo, chuvas fortes causavam apenas inundação braba e corte de energia elétrica. Pelo menos isso não mudou.

Nem o metrô sofria com as fortes chuvas, creiam. Hoje em dia, três gotas caídas do céu provocam redução de velocidade, plataformas lotadas, filas quilométricas nos bloqueios e outras desgraceiras urbanas. Sem falar no chão molhado pelos guarda-chuvas made in China.

A tecnologia evoluiu tanto que os equipamentos criados para nos servir ganharam sensibilidade de bebê gripado. Qualquer coisinha, travam. Dá saudade de um fio casca-grossa, uma placa mais enfezada, um semáforo mais macho alfa (no sentido mais careta do termo).

Pior que a fragilidade dos equipamentos é a filosofia do “fica por isso mesmo” que toma conta dos espíritos. Trovejou em Santo André, os sinais do bairro do Limão ficam todos no amarelo, quando não se apagam de vez, e nós aceitamos o fato, temperando-o apenas com um ou outro palavrão indignado. Já nos habituamos a não cobrar explicações decentes.

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Não tenho certeza se a vida era mesmo mais simples ou se criança é que não esquenta a cabeça com detalhes. Mas confesso que certas coisas fazem falta. O inverno, por exemplo. Julho e agosto eram meses muito frios, ponto. Dos armários e gavetas saltavam casacões, gorros, luvas, cachecóis que seriam usados à exaustão.

As crianças adoravam o inverno, porque podíamos “fumar”: o vapor que saía da boca quando falávamos era tipo o cigarro dos adultos. Ninguém era obrigado a ficar falando sozinho na calçada nem levava bronca por brincar de fumador.

Era muito legal essa história de estações bem demarcadas. Não se cogitava sair de bermuda em agosto nem desentocar o edredom em janeiro. Daí vem o presidente americano Donald Trump dizer que aquecimento global é lenda urbana. Bem se vê que ele nunca teve infância em São Paulo.

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As alterações climáticas causam efeitos ainda mais devastadores no nosso cotidiano. Não bastasse usarmos em fevereiro um casaco que estará completamente fora de moda na próxima estação, temos de convencer nosso corpo a encarar na boa a queda ou a elevação de 10 graus nos termômetros em questão de poucas horas.

Resfriados e tecnologia sensível ainda têm remédio e conserto. Sem saída estão os parâmetros de comportamento criados pelas redes sociais. Tornou-se fundamental ter opinião sobre qualquer coisa, mesmo que você não faça ideia do que se trata. A ordem é pegar o bonde andando e sentar-se na janelinha. E sem pedir licença.

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