“Crônica da Casa Assassinada” fala com sucesso sobre lar em ruínas
Peça é baseada em livro homônimo de Lúcio Cardoso. Xuxa Lopes se aproxima do equilíbrio na interpretação da difícil protagonista
Assim como o escritor mineiro Lúcio Cardoso (1912-1968), o seu romance maior, Crônica da Casa Assassinada, de 1959, é pouco valorizado entre os grandes da literatura brasileira. Sem sacrificar o essencial, a adaptação homônima criada por Dib Carneiro Neto transformou as cerca de 500 complexas páginas em pouco mais de uma hora de espetáculo e mostra-se uma chance de jogar luz sobre o autor. Essa bem-sucedida dramaturgia revela-se uma das surpresas da montagem dirigida por Gabriel Villela, em que até Xuxa Lopes, sempre tão à flor da pele, aproxima-se do equilíbrio na interpretação da difícil protagonista.
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Vinda do Rio de Janeiro, Nina casou-se com Valdo (papel de Flávio Tolezani), membro de uma família mineira decadente. Forasteira na alma e nos valores, ela foi expulsa do casarão dos Meneses após se envolver com o jardineiro (Hélio Souto Jr.), e seu filho cresceu aos cuidados do marido. Quinze anos depois, Nina retorna e, ao reencontrar o garoto (Pedro Henrique Moutinho), trava uma relação incestuosa. Conhecido pela estética rebuscada, Gabriel Villela dosa a fidelidade ao texto e traz uma encenação trágica de efeito. Esse cuidado disfarça a irregularidade do elenco de dez atores. Sérgio Rufino destaca-se como Timóteo, o irmão homossexual de Valdo que veste as roupas da mãe. Seu contraponto vem da sisudez das atrizes Maria do Carmo Soares (a governanta) e Letícia Teixeira (a cunhada), fundamentais para o desfecho.