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Crises de tosse na platéia atrapalham espetáculos

Para desespero de maestros e espectadores, platéia paulistana agrega tosses à melodia dos concertos

Por Pedro Ivo Dubra
Atualizado em 5 dez 2016, 19h29 - Publicado em 18 set 2009, 20h29

O maestro argentino naturalizado israelense Daniel Barenboim puxou a orelha da platéia paulistana durante uma de suas três apresentações na Sala São Paulo, no fim de maio. Ele perdeu a paciência com uma praga que assola espetáculos de música clássica: a tosse, sempre alta, à moda dos tuberculosos de crônicas de Nelson Rodrigues. Furioso, puxou um lenço do bolso e colocou-o sobre a boca para sugerir que os presentes fizessem o mesmo. Foi aplaudido. “Do século XX para cá, os concertos passaram a pressupor uma audição concentrada e silenciosa”, afirma Irineu Franco Perpetuo, jornalista especializado em música erudita. “Essa convenção do silêncio absoluto acaba por amplificar qualquer ruído.” Existem dois grupos de tossegosos (a palavra é tão feia quanto a barulhenta mania). O primeiro costuma misturar sua cacofonia pulmonar às sublimes melodias executadas pela orquestra. O segundo aproveita as pausas entre os movimentos de uma composição, que duram de cinco a dez segundos. Eles seguram as pontas num trecho e, antes do próximo, tossem como se não houvesse amanhã. Outros, com receio de um acesso futuro, tossem por antecipação. O clima de “liberou geral” fica ainda pior porque há quem comece a rir com aquele coro de tísicos. De irritação, geralmente. Segundo Perpetuo, a atitude tensa de alguns paulistanos é uma das explicações para o, por assim dizer, fenômeno. “Parecem mais preocupados com o ritual do evento do que em aproveitá-lo”, afirma. Essa falta de foco, associada à de educação, também explica o que faz algumas figuras conversar durante o espetáculo, atender o celular, abrir balinhas com escandalosas embalagens de plástico e bater palmas com um pé já na rua para fugir da fila no estacionamento.

Existem, claro, as explicações fisiológicas. Sergio Ricardo Santos, professor de pneumologia da Univesidade Federal de São Paulo, afirma que tossir é um procedimento de defesa do organismo. Serve para remover secreções das vias aéreas e deixá-las limpas. Outra função é expulsar vírus, fungos ou bactérias ocasionadores de infecções respiratórias. Muitos fatores contribuem para seu aparecimento. “É o caso da poluição de São Paulo e do ar seco”, diz ele. Pessoas de mais idade – e nos concertos há muitas – tendem a tossir mais. A vocação humana de imitar também pesa. Como assim? Bem, a lógica é a mesma de quando se espirra ou boceja e, pouco depois, alguém por perto repete o gesto. “Por um mecanismo neurológico, a observação de um ato pode levar a seu reflexo e reprodução”, diz Luiz Vicente Figueira de Mello, supervisor do Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP. O stress de não fazer barulho num ambiente de musicalidade tão sutil também pesa. Por isso os mais angustiados utilizam cada momento das pausas. “Há gente que, de tão ansiosa, somatiza isso numa tosse”, acrescenta Figueira de Mello. Com o reinício da temporada (durante julho a quantidade de apresentações diminui), resta aos incomodados pelo cof-cof torcer para que nunca faltem lenços a Daniel Barenboim e seus colegas de batuta.

Para não virar tossegoso

Balinhas são valiosas. A Osesp distribui gratuitamente 290 unidades a cada récita na Sala São Paulo. Elas estimulam a salivação e mantêm limpas as vias aéreas mais altas. Mas, veja lá, só as sem embalagem! O barulho do plástico é tão ruim quanto o da tosse.

Maneire no perfume, que pode causar alergia – a você ou a quem está por perto. Daí, já sabe, é atchim e cof-cof para todos os lados.

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Pelo mesmo motivo, evite roupas que soltem pêlos.

Em último caso, prefira ir ao médico a ouvir Brahms e Bruckner. A platéia com os pulmões em dia agradece.

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