“Credores” aborda o delicado equilíbrio de um casal
Depois de apresentações esporádicas, espetáculo ganha temporada no Viga Espaço Cênico
Na primeira cena de “Credores”, drama do sueco August Strindberg (1849-1912) dirigido por Eduardo Tolentino de Araújo, o artista plástico Adolfo (papel de José Roberto Jardim) e o médico Gustavo (o ator Sergio Mastropasqua) encontram-se na sauna de um hotel. O primeiro, introspectivo e inseguro, queixa-se de uma lesão, enquanto o outro disserta com firmeza sobre o comportamento humano e tenta tornar o interlocutor mais indefeso. Calcado em uma atmosfera de vulnerabilidade, Tolentino constrói, com falso despojamento e múltiplas intenções, sua versão para o texto, que, depois de algumas sessões esporádicas, inicia a primeira temporada no Viga Espaço Cênico.
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Devotado à mulher, Tekla (personagem de Chris Couto), Adolfo não percebe sua própria submissão. O olhar supostamente estranho de Gustavo o intriga e o faz duvidar do caráter da companheira. À medida que o diálogo entre os dois homens avança, evidencia-se o equilíbrio delicado do casal. Nessa teia, Strindberg construiu em 1888 um discurso de crueldade psicológica ainda atual, mesmo após mais de um século. Os casamentos sustentam-se no jogo entre repressor e dominado até o momento no qual um dos dois deixa de se sujeitar a tal papel. Tolentino, como de hábito, investe na força das palavras e nos detalhes de uma encenação de poucos elementos e profunda confiança no elenco. Explicitada por José Roberto Jardim, a fraqueza do marido contrasta com a amargura e o cinismo de Gustavo. Devido à atenção concentrada na dupla masculina, Chris aproveita-se da ambiguidade de Tekla, mas sua imagem resulta mais forte e instigante narrada do ponto de vista masculino.
AVALIAÇÃO ✪✪✪