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O tumulto na Vila Madalena durante os jogos da Copa

Barulho, sujeira e outros problemas que estão atormentando a vida dos moradores do bairro eleito como a arena extraofcial do Mundial

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 17 Maio 2024, 11h13 - Publicado em 26 jun 2014, 23h00
Moradora na Vila Madalena
Moradora na Vila Madalena (Fernando Moraes/)
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De acordo com muitos paulistanos e turistas em visita à cidade nas últimas duas semanas, a melhor arena para curtir a Copa na capital é a Vila Madalena. Segundo estimativas da SPTuris, empresa de turismo e eventos da metrópole, aproximadamente 50 000 pessoas acompanham cada partida da seleção brasileira nas dezenas de bares e restaurantes da região. É o dobro da multidão reunida na balada oficial do evento por aqui, a Fan Fest, organizada pela prefeitura no Vale do Anhangabaú, com capacidade para receber 25 000 torcedores por edição. O bairro paulistano, famoso por seu clima boêmio, teria muito a celebrar, certo? Errado. “Não havíamos nos preparado para algo de tamanha dimensão”, admite Angelo Filardo, subprefeito de Pinheiros, responsável pela área.

 

 

Com milhares de festeiros nas ruas e pouco planejamento, o resultado se mostrou um verdadeiro gol contra. Os moradores da Vila Madalena estão tendo de lidar diariamente com o caos: trânsito travado, barulho até altas horas da madrugada e toneladas de lixo nas ruas. “Desde o início dos jogos, toda manhã tenho de recolher no meu portão fezes, urina, garrafas de cerveja quebrada… É um cheiro tão forte que provoca náuseas. Já até chorei com essa situação, porque me sinto injustiçada”, relata a psicóloga Cristine Franco Alves, de 47 anos, moradora da Rua Fidalga, um dos epicentros da bagunça. A residência foi comprada por sua avó,em 1943. “Minha mãe, eu e meu filho nascemos aqui”, conta Cristine. “Algumas pessoas me dizem que eu deveria me acostumar ou trocar de endereço, afinal, a Vila Madalena sempre foi reduto de bares. Mas boemia é uma coisa e selvageria, outra. A situação aqui tem piorado muito desde o Carnaval de 2013. É um desrespeito,depois de tantos anos, precisar ceder à lei dos ‘incomodados que se mudem’.”

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turistas na vila madalena nos jogos da copa
turistas na vila madalena nos jogos da copa ()

 

Desde o último dia 13, ela tem dormido na casa de amigos. Naquela data, à tarde, precisou levar o filho de 7 anos ao hospital devido a uma crise de bronquite. “Foram quase duas horas para chegar à Avenida Paulista, já que as ruas estavam tomadas de gente. Na hora de voltar, a situação havia piorado. Era tanta fila que deixei o garoto na casa do pai dele e procurei abrigo no apartamento de uma amiga. E olha que nem era jogo do Brasil…”, lembra a psicóloga.

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Desde a abertura da Copa, a festa na Vila Madalena segue sem interrupção. “A partida pode ser Sri Lanka contra Malásia que vai ter multidão nas ruas até altas horas da madrugada. O pior ocorre durante os jogos da nossa seleção. Há muita briga, ambulantes, bebedeira, funk… É tanta dor de cabeça que não vejo a hora de o Brasil perder e sair da Copa”, reclama o empresário Rodolfo Gonzales, de 29 anos, que mora e trabalha na Rua Aspicuelta. Dá para entender a torcida contra: o quarteirão onde ele vive, perto da Rua Mourato Coelho, registrou a maior concentração de pessoas na última partida do Brasil, na segunda (23). Eram oito torcedores por metro quadrado, segundo cáculos da subprefeitura de Pinheiros. Trata-se de um sufoco igual ao das linhas Vermelha e Azul do metrô paulistano na hora do rush.

lixo copa do mundo vila madalena
lixo copa do mundo vila madalena ()

Travessa da Aspicuelta em um dos pontos mais movimentados da festa, a Rua Vicente Polito, local estreito e tranquilo, tornou-se um banheiro a céu aberto. “Alguns torcedores vêm aqui na nossa porta para urinar ,defecar ou transar. Quando a gente reclama, eles xingam e até partem para abriga”, diz o consultor de marketing Baptiste Demay, de 26 anos, nascido na capital francesa e morador da Vila há um ano. “Vi a Copa de 1998 em Paris, quando era criança. Lá havia multidão, mas também médico, policiais e banheiros.” Ele e os vizinhos costumam chamar a polícia por causa da invasão de domicílio. “Mas os telefonemas demoram a ser atendidos e somos orientados a reter a pessoa em casa até a viatura chegar, algo impossível. Depois do segundo jogo do Brasil, houve um reforço no policiamento, mas só até as 22 horas, justamente quando o caos começa”, afirma a nutricionista Carine Dias, de 36 anos.

 

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Uma vez instaurada a bagunça, as autoridades estão tentando amenizar os transtornos com a festa em andamento. Quase uma semana após o início do Mundial, foram instalados oitenta banheiros químicos. Para cuidar do lixo, cerca de trinta varredores limpam as ruas durante a madrugada. Na segurança, um efetivo de 150 policiais militares foi deslocado para a Vila com o objetivo de patrulhar olocal em dias de partidas. Nessas datas, a circulação de veículos foi restrita aos moradores a partir das 13 horas. Um grupo de 25 agentes está encarregado de fiscalizar os ambulantes.“Eles são um dos principais problemas dafesta”, explica o subprefeito Filardo. “Os bares fecham, mas o comércio informal prossegue. Depois que os ambulantes se instalam no meio da multidão, não há como expulsá-los, pois isso causaria briga e tumulto. A ideia é não deixar que os carros com os estoques de bebida entrem no bairro.”

Bar Platibanda
Bar Platibanda ()

Os comerciantes da Vila comemoram o aumento do faturamento. Dizem, entretanto, que penaram para se adaptar ao cenário. Segundo dados da SPTuris, o bairro é uma das regiões da capital que contabilizam alguns dos principais ganhos financeiros na Copa, com uma ocupação dos hostels em dias de jogos 3% acima da média registrada para a cidade. Nas partidas da seleção, bares e restaurantes têm crescimento de público superior a 80% em relação aos dias normais. “Nosso faturamento aumentou 40%, mas tivemos de fazer algumas restrições”, conta Marcelo Aragão Correa, gerente do Platibanda, na Rua Mourato Coelho. Nos jogos do Brasil, a casa só abre duas horas antes do início da partida e fecha uma hora após o apito final. São atendidos somente clientes com reserva. Na maior parte do tempo, apenas um dos dois portões de ferro fica aberto, com um segurança à frente dele para barrar quem entra na casa em busca apenas de banheiro.“A Copa tinha tudo para ser uma festa em que todos sairiam ganhando. Infelizmente, por falta de estrutura e planejamento, temos vivenciado um cenário de barbárie na Vila”, lamenta o comerciante.

BALADA SEM FIM

Alguns dos números da folia no bairro da Zona Oeste

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50 000 pessoas se reúnem em cada jogo do Brasil

80% a mais de pessoas foram a bares e restaurantes do bairro

150 PMs cuidam da multidão

92 toneladas de lixo foram recolhidas nas duas últimas partidas da seleção

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