Conheça a refugiada síria escolhida para conduzir a tocha olímpica
Hanan Daqqah, de 12 anos, mora em São Paulo com a família e foi uma das dez primeiras pessoas a carregarem o símbolo dos Jogos
A refugiada síria Hanan Daqqah, de 12 anos, foi uma das jovens escolhidas para conduzir a tocha olímpica em Brasília na manhã desta terça-feira (3).
Ela está no grupo das dez primeiras pessoas escolhidas para carregar o símbolo olímpico no Brasil. Além dela, também carregarão a tocha o matemático Arthur Ávila, ganhador da Medalha Fields (espécie de Nobel da área), Fabiana Claudino, bicampeã olímpica de vôlei, Gabriel Medina, campeão mundial de surfe, entre outros. O artefato, que será levado por 12 000 pessoas no total, chegará na quinta (5), ao Rio.
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Hanan teve sua casa destruída pelos ataques do grupo terrorista Estado Islâmico na Síria. O pai foi preso, acusado injustamente de tráfico de pessoas, quando, na verdade, estava tentando ajudar conhecidos e amigos a escaparem da guerra civil. Ele ficou quase um ano detido e, ao ser solto, sofreu ameaças e se abrigou com a família no campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia, onde viveram por dois anos. Eles chegaram ao Brasil em 2015 e receberam a documentação que lhes garante abrigo após terem sido reconhecidos como refugiados. Para isso, contaram com o apoio da ONG IKMR, sigla em inglês para a expressão “Eu conheço meus direitos”.
A ONG tem sede em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e outras duas unidades no Brasil (uma no Rio de Janeiro, a outra aqui na capital). Criado em 2013, o escritório paulistano da entidade, no bairro dos Jardins, surgiu por iniciativa da atriz e produtora cultural Vivianne Reis, de 35 anos, que teve a história de seu projeto contata pela revista em outubro de 2015 na seção Paulistano Nota Dez.
Reis auxiliou a família de Hanan que hoje vive em São Paulo com seu pai, a mãe, um irmão mais velho e está prestes a ganhar uma irmãzinha brasileira. Segundo a ACNUR (Agência da ONU para Refugiados), no Brasil, a guerra na Síria já provocou mais de 4,8 milhões de refugiados, que vivem principalmente nos países vizinhos ao conflito. No Brasil, existem cerca de 8 700 refugiados, sendo que mais de 2 000 são sírios – formando o maior grupo.
“Com os adultos preocupados com a sobrevivência, as crianças eram esquecidas no seu direito de brincar e se desenvolver”, explica Reis, que auxilia atualmente 200 menores estrangeiros. Do total de atendidos, 70% vieram da Síria. “Certa vez, visitei a casa de uma família em que o pai dormia no chão da sala com um lençol e a mãe e os três filhos, em uma cama de casal”, conta. A instituição passou então a arrecadar verba para a compra de mobília usada.
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Parte do dinheiro amealhado pela ONG também é destinado à aquisição de passagens aéreas. Em um ano, a IKMR conseguiu agregar nove famílias separadas pela guerra. Uma das histórias tocantes foi a de um sírio que, após meses de trabalho em um restaurante em São Paulo, conseguiu reunir apenas 6 500 reais dos 13 000 de que precisava para trazer à capital a esposa e as filhas de 6 e 7 anos. “Os parentes corriam sério risco, pois estavam em uma das áreas mais perigosas de seu país”, conta Vivianne. Graças aos intensos pedidos nas redes sociais, ela conseguiu resolver o problema. “Desde agosto, eles vivem juntos em um cortiço no bairro do Pari”, conta.
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