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Como os hospitais se preparam para o aumento de casos de coronavírus

Nas unidades paulistanas, há reserva de leitos de UTI, possibilidade de suspensão de cirurgias eletivas e contratação de profissionais

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 20 mar 2020, 11h01 - Publicado em 19 mar 2020, 17h11
Coronavírus Metro São Paulo
Passageiros com máscara em metrô de São Paulo (Rodrigo Paiva/Getty Images/Veja SP)
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A pandemia de coronavírus fez com que governos anunciassem medidas de contenção para tentar diminuir a transmissão da doença, e isso afetou escolas e universidades, transporte e órgãos públicos, empresas, comércio e famílias. Todos tiveram de adaptar seus hábitos para não deixar nem São Paulo nem a vida parar.

Para as próximas semanas, quando as autoridades esperam um crescimento do número de infectados, os hospitais paulistanos se preparam para esse novo momento, com a possibilidade de adiamento de cirurgias eletivas (aquelas não são urgentes), aumento da quantidade de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) e suspensão de férias dos profissionais de saúde.

A rotina do maior complexo hospitalar da América Latina está prestes a ser mudada devido ao aguardado crescimento de casos de coronavírus em São Paulo. Dos 400 leitos de UTI atualmente disponíveis no Hospital das Clínicas, 75 serão destinados aos novos casos da doença. Desses, 37 estão prontos e instalados no 11º andar de um de seus edifícios.

“Vamos deslocar os pacientes para as outras UTIs e deixar os leitos isolados no 11º andar, que será usado apenas para casos de coronavírus”, afirma Beatriz Perondi, coordenadora do Comitê de Emergências do HC. O grupo foi criado em 2012 e acionado pela primeira vez no ano seguinte, após o incêndio no Memorial da América Latina. Na ocasião, mais de trinta bombeiros foram intoxicados. “Cada atendimento demandava de cinco a dez profissionais por vez”, relembra Beatriz.

Em outros hospitais, a rotina também será alterada. Principal local de diagnósticos na capital, com mais de 7 000 exames de coronavírus realizados, o Hospital Albert Einstein passou o último fim de semana separando currículos e realizando entrevistas. “Vamos contratar mais médicos e enfermeiros”, revela Sidney Klajner, presidente da Sociedade Israelita Albert Einstein. Ali, outra preocupação é com os pacientes e colaboradores. “A gente montou uma preparação especial, com fluxo de entrada e saída diferenciado, além de atendimento separado.” Apesar de tanta atenção, dois funcionários do local foram contaminados com o coronavírus.

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João Bergamaschi
Ortopedista Bergamaschi, em clínica na Zona Sul: menos movimento (Alexandre Battibugli/Veja SP)

No Sírio-Libanês, o cuidado é com os médicos mais velhos, pertencentes ao grupo de maior risco de contaminação pelo coronavírus. Por lá, os profissionais com mais de 60 anos foram colocados em postos mais distantes do primeiro atendimento, função executada por especialistas mais jovens. “Profissionais de saúde são sempre os mais vulneráveis. É nossa obrigação proteger nosso pessoal”, afirma o médico Paulo Chapchap, presidente do Hospital Sírio-Libanês.

No Hospital Samaritano, em Higienópolis, as consultas de pacientes de outras especialidades diminuem a cada dia, diferentemente das demandas por tratamentos de gripe. Para atender aos casos, o time do pronto-socorro foi reforçado e novas contratações poderão ser feitas. No Nove de Julho, a preocupação é também com a alimentação dos funcionários. O bufê do almoço, que ficava exposto, foi suspenso, e agora a comida para os médicos e enfermeiros é só à la carte.

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Na rede pública municipal, o desafio será manter o atendimento de outras áreas no momento em que a pandemia cresce na cidade. “Vamos fazer um novo planejamento de cirurgias eletivas, mas há casos que não podem esperar, como os pacientes oncológicos”, assegura o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido.

Enquanto os hospitais públicos e particulares se movimentam à espera de novos casos, as clínicas e os consultórios particulares vão no sentido contrário. Com dez médicos e três salas, a clínica de ortopedia Atualli, em Cerqueira César, já prevê o prejuízo. “Esperamos uma grande redução de receita nos próximos dois meses”, afirma o ortopedista João Paulo Bergamaschi, dono do espaço, que descarta por ora a demissão de funcionários.

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Perto dali, nos Jardins, a cirurgiã do aparelho digestivo Vanessa Prado tem atendido apenas a casos mais complicados. “Só têm aparecido os pacientes recém- -operados ou com diagnósticos mais graves, com sangramentos ou suspeitas de tumores.” O cirurgião plástico Aristóteles Bersou Júnior também viu a sala de espera ficar vazia.

Nabil Ghorayeb
(Alexandre Battibugli/Veja SP)

Desde a última semana, apenas casos de urgência são atendidos por Bersou. “Não vale a pena correr riscos. Se ocorrer algo com meus pacientes, dirão que a culpa é minha. O respeito à vida vem antes de tudo.”

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De olho na própria saúde, há quem tenha tirado o pé do acelerador por conta própria. Com quase cinquenta anos de trabalho no Instituto Dante Pazzanese, o cardiologista Nabil Ghorayeb, 73, referência na medicina esportiva, vem reduzindo as consultas. “Não abandonei meu posto, mas faço parte do grupo de risco e resolvi ficar um período maior em casa”, diz. “Tenho uma mãe de 93 anos e uma filha de 10, a gente fica vulnerável.”

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