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Como estão os idosos durante a quarentena

Na quarentena imposta pela Covid-19, famílias e casas de repouso se adaptam para garantir a segurança dos mais velhos

Por Guilherme Queiroz, Mariani Campos
Atualizado em 31 mar 2020, 10h39 - Publicado em 27 mar 2020, 09h16

Convencer seus idosos a ficar no necessário isolamento físico em época de pandemia de coronavírus tem sido uma tarefa árdua para muitas famílias. Michelle Lopes, enfermeira que mora na Zona Leste, teve de apelar para o medo. Ela precisou usar uma frase realista para dar um choque de realidade nos sogros. “Tem de assustar, falar que as pessoas estão morrendo”, afirma. “Minha sogra foi fazer a unha na última semana e falou: ‘Não tem problema, a moça limpou a cadeira, o chão’ ”, lembra. Depois da fugidinha, ela e o marido, Fábio, se organizaram para colaborar com os mais velhos. Eles fazem o mercado para Neide, 72, e Roberto, 68. Almoços no vizinho? Proibidos. A última escapada foi na segunda (23), quando a dupla foi tomar vacina e aproveitou para passar na padaria. “É complicado a gente ficar preso assim, mas se é para o bem da gente…”, desabafa Neide, após as broncas.

Cata véio: memes sobre idosos fujões têm se espalhado pelas redes (reprodução/Veja SP)

A dificuldade de manter os mais velhos em casa tem sido tanta que o assunto chegou com humor às redes sociais, e os chamados memes se espalharam zombando dos “fujões”. Apesar das brincadeiras, os especialistas chamam a atenção para a necessidade da quarentena, mas afirmam que o isolamento tem de ser físico, não social. “Encontrar o que dá sentido a esse idoso, ajudar a montar uma nova rotina, dosar o consumo de in- formações, tudo isso é importante para não aumentar a ansiedade”, destaca a psicóloga Juliana dos Santos Batista. “O isolamento social total pode causar inflamação no organismo e levar ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares”, alerta o geriatra Rubens de Fraga.

Nova vaga para idosos depois do coronavírus levará a inscrição de teimoso: os memes sobre mais velhos que insistem em sair de casa se espalham pelas redes (reprodução/Veja SP)

Mayara Mazzo, 21, mora a um quarteirão da casa da avó Ludmila, 86, no Jaguaré, Zona Oeste, e estava acostumada a vê-la pessoalmente todos os dias. A avó, que nasceu na ex-Iugoslávia, está isolada com dois filhos: Ricardo, 52 anos, e Ramiro, 62. O mais novo é o único que sai de casa para ir ao mercado. “Tenho oito netos e três bisnetas, mas não estou podendo ver nenhum”, diz, triste, Ludmila. Para melhorar essa sensação, agora as visitas têm sido virtuais, por meio de chamadas de vídeo constantes. Maria Zumpano, 80, e o marido, Osmar, 83, juntos há 59 anos, também estão seguindo as orientações e buscam outras atividades para passar o tempo em casa, em São Caetano do Sul. “Gosto de romances escritos por mulheres. Estou lendo A Obsessão, da Nora Roberts.” Osmar aproveita para escrever, seu hobby favorito. À noite eles veem filmes antes de dormir. Os filhos ligam bastante e têm ajudado com as compras, para que não precisem circular pela cidade.

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Ludmila Mazzo e o filho Ricardo conversam com Mayara por vídeo: “Não posso chamá-la para almoçar” (Arquivo pessoal/Veja SP)
O casal Maria e Osmar: leitura e escrita (Arquivo pessoal/Veja SP)

Os cuidados também foram redobrados nas casas de repouso. Após recomendações da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e do Ministério Público, instituições optaram por vetar a visita dos parentes. É o caso do Residencial Villa Maná, no Jabaquara. “Disponibilizamos celulares para chamadas de vídeo. Saídas dos funcionários na hora de almoço foram proibidas”, diz Mayara Trindade, coordenadora do local. Na Casa de Repouso Morada da Primavera, em Pinheiros, os cuidados foram além. “Criamos uma equipe para quarentena. Eles vão ficar fechados com eles (idosos) por pelo menos trinta dias”, explica João Santoro, que administra o endereço. Enquanto nenhum medicamento é comprovadamente indicado contra a Covid-19, a receita é única: “Nossa vacina hoje é o isolamento”, pontua a geriatra Maisa Kairalla, do Hospital Sírio-Libanês.

Apesar do stress emocional, o distanciamento na pandemia é essencial para todos, ainda mais para os idosos: entre 30 e 60 anos a taxa de mortalidade varia de 1% a 4%, mas dispara com o aumento da idade. “O pico é acima dos 80 anos, com 15% de letalidade”, afirma o coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, Sergio Cimerman. “O jovem muitas vezes nem precisa ficar no hospital, consegue se tratar em casa. O idoso tem complicações e acaba indo para a UTI”, diz Maisa Kairalla. Quem tem doenças como diabetes e hipertensão precisa manter o tratamento em dia e não ficar vulnerável a outras infecções. Além do cuidado simples, como lavar as mãos e usar álcool em gel, Cimerman recomenda a vacina contra o H1N1. “É importante para prevenir infecções mistas (Covid-19 e a gripe). Não sabemos se podem ser mais nocivas.”

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