Comerciantes fogem de um dos pontos mais valorizados da capital
A recessão econômica e o preço alto dos aluguéis fazem com que lojistas deixem a região
Em seus tempos áureos, a Praça Vilaboim, em Higienópolis, era um pequeno e charmoso pedaço de verde cercado por muita badalação. Além dos estudantes da Faap, várias celebridades ajudaram a transformar o local em um centro de efervescência a partir dos anos 70. Vizinho do lugar, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso batia ponto no elegante Caffé Romano, que encerrou suas atividades em 2001. Os apresentadores Jô Soares e Adriane Galisteu também foram presença constante nos estabelecimentos da região. Tudo isso contribuiu para elevar o prestígio do endereço e, consequentemente, o valor do metro quadrado comercial, hoje avaliado em 15 000 reais, em média. Imóveis nas cercanias sempre foram disputados por gente disposta a investir muito para estar perto dessa freguesia.
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Os tempos, no entanto, são outros. O lugar, é claro, continua muito charmoso. Já os negócios… Dos cerca de trinta pontos comerciais do complexo da Vilaboim, que inclui a Rua Armando Penteado e o início da Aracaju, seis estão fechados, uma situação inimaginável há algumas décadas. Na esquina com a Alagoas, o prédio onde até fevereiro funcionou a hamburgueria Buddies Burger & Beer mostra sinais de abandono na fachada. Na Aracaju, o endereço que abrigou a rotisseria Casa Rovigo exibe placas de “Passa-se o Ponto” desde março. Um pouco mais adiante, há outros exemplos de lojas fechadas em vias como Alagoas, Tinhorão e Itatiara.
O aluguel alto é apontado como o grande vilão, sobretudo em tempos de retração de vendas. Foi o que ocorreu com a empresária Valéria Montag. No dia 31 de março, após dezessete anos,ela encerrou as atividades do Atelier Montag, especializado em moda feminina, na Vilaboim. A vitrine do número 13 ainda exibe as ofertas do saldão realizado para dar fim ao estoque e minimizar os prejuízos. Para instalar o negócio na área, Valéria investiu quase 500 000 reais, entre reforma e outras despesas Na época, o aluguel do sobrado de 350 metros quadrados era de 15 000 reais. Nos últimos anos, chegou a quase 25 000 reais, o que correspondia a 30% do faturamento do negócio. “Deixou de ser lucrativo e virou um hobby de luxo”, queixa-se a empresária. Atualmente, a proprietária do imóvel procura um novo inquilino que aceite pagar 35 000 reais pela locação do endereço.
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Na lista de reclamações dos comerciantes de Higienópolis, sobra até para a ciclovia instalada no entorno da Vilaboim em setembro do ano passado. Apesar de a prefeitura ter cedido à pressão dos empresários locais, mudando a rota das bicicletas do meio-fio das lojas e restaurantes situados do lado direito para o esquerdo da praça, ela ainda é apontada como uma das responsáveis por diminuir o movimento dos estabelecimentos. “Tirar uma faixa de uma rua que já é apertada e não tem estacionamento atrapalha ainda mais”, afirma Vicente Safon, proprietário da Padaria Barcelona, instalada há quase quarenta anos no bairro.
Para o consultor Mauro Peixoto, da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), o pedaço sofre crise de identidade, com excesso de oferta de alguns serviços, a exemplo dos restaurantes de culinária japonesa (somente na praça, há três em operação). “É preciso balancear o mix de estabelecimentos”, diz. Diretor de uma imobiliária instalada desde 1957 na Praça Vilaboim, Pedro Mello diz que os proprietários terão de se readequar ao mercado e baixar o preço dos aluguéis se quiserem voltar a lucrar. “Aqui, os donos se acostumaram a encontrar quem pagasse preços altíssimos, mas agora a realidade mudou”, alerta.
Os vilões da área
Alguns dos problemas que afetam os empresários estabelecidos na região
Locação
O valor do aluguel chega a 35 000 reais por um imóvel de 350 metros quadrados. Em certos casos, esse gasto representa quase 30% do faturamento
Trânsito
A ciclofaixa implementada pela prefeitura em setembro dificultou o estacionamento por ali
Concorrência
O local sofre com o excesso de comércio do mesmo ramo (existem três restaurantes japoneses no pedaço, por exemplo) e a ausência de variedade de lojas
Conjuntura
A expectativa mais otimista para o varejo na capital é terminar 2015 com queda de 3% nas vendas em relação a 2014