Comédias, dramas e abordagens filosóficas sobre a mulher lotam platéias
São bons exemplos dessa temática: Confissões das Mulheres de 30, A Alma Imoral e Os Homem São de Marte... E É pra Lá que Eu Vou!
O fim da década de 90 deu início a uma nova revolução no universo feminino. Bem diferente daquela dos anos 60, que pregava a queima de sutiãs e queria distância do macho dominador. Enquanto o best-seller O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding, lançado em 1998, vendeu uma imagem cômica e caricata da balzaquiana, o seriado americano Sex and the City, do mesmo ano, mostrou trintonas orgulhosas de suas atitudes, equilibrando-se em sapatos de salto (sempre de grife) e loucas atrás de um homem para chamar de seu. Exagerados ou não, esses retratos encontraram reflexo em um séquito de fãs mundo afora e deram origem a um filão também no teatro. Comédias, dramas e até abordagens filosóficas da condição feminina ganham os palcos com platéias lotadas – e não só por elas.
Precursora indireta da tendência, a comédia Confissões das Mulheres de 30 foi escrita em 1994 pelo dramaturgo Domingos Oliveira com base no depoimento de atrizes dispostas a falar de sua história. Relançada em São Paulo no último mês, sob a direção de Fernanda D’Umbra, a peça foi vista por mais de 2 000 pessoas em apenas oito sessões. Em cena, as atrizes Juliana Araripe, Camila Raffanti e Melissa Vettore divagam sobre frustrações, carreira e, acima de tudo, homens. “Criei a peça para mostrar essa fase do ‘agora ou nunca’ na vida das mulheres”, afirma Oliveira. “Na época, o teatro de depoimento não era moda e fico surpreso com o sucesso que a montagem faz hoje em dia.”
Do elenco original de Confissões das Mulheres de 30, a atriz Clarice Niskier protagoniza o monólogo A Alma Imoral. Nos últimos dois anos, ela recebeu os aplausos de quase 70 000 espectadores. Adaptado do livro do rabino Nilton Bonder, o espetáculo fala de angústias humanas e da importância de transgredir as regras, independentemente do sexo. A figura da artista, nua na maior parte do espetáculo, entretanto, provoca uma identificação imediata no público feminino. Não são poucas as mulheres à espera de Clarice na saída do teatro. “Fiquei muito comovida diante de uma juíza de 60 anos que tinha decidido viver com um colega quase trinta anos mais jovem”, lembra a atriz. “Ela disse que, durante a peça, tinha tido a certeza de que valeu a pena encarar essa paixão.”
A porção auto-ajuda aliada à dramaturgia, tão visível em A Alma Imoral, é também claramente assumida pela poetisa e atriz Elisa Lucinda. Ela levou mais de 17 000 pessoas ao Teatro Imprensa nas quarenta apresentações de Parem de Falar Mal da Rotina, entre abril e junho. O sucesso em São Paulo é o endosso para o monólogo, já visto por meio milhão de espectadores Brasil afora em cinco anos. “Uma mulher escreveu que foi ao teatro por recomendação da psicóloga, levou o marido e aquilo fez muito bem a eles”, conta Lucinda.
Menos ambiciosa é a proposta da atriz Mônica Martelli. Inspirada nos próprios conflitos de solteira, ela escreveu Os Homem São de Marte… E É pra Lá que Eu Vou!. Mônica arranca gargalhadas do público com seu conto de fadas moderno. Mais de 110 000 pessoas aprovaram essa receita em catorze meses de temporada paulistana. Nas sextas e nos domingos, 70% das 670 poltronas do Teatro Procópio Ferreira são ocupadas por mulheres, enquanto nos sábados o público é mais dividido, formado principalmente por casais. “O boca-a-boca já começa aqui durante a peça”, afirma Mônica. “Canso de ver as espectadoras pegando discretamente o celular e comentando com as amigas que se identificaram com uma ou outra passagem da história.” O efeito no público também é sentido pela atriz e produtora Vera Setta, de Os Monólogos da Vagina. A montagem, dirigida por Miguel Falabella e baseada no texto da americana Eve Ensler, ultrapassou 1 300 apresentações em oito anos. Vera garante que testemunhou uma mudança nesse período. Se a palavra “vagina” era dita com pudores pelas espectadoras em 2000, hoje é vociferada com orgulho. “A mulher passou a se valorizar mais ao ver histórias pessoais retratadas na mídia com profundidade”, diz. “Aquele estereótipo da gostosona ficou no passado.”