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“Queremos uma cidade mais modernista que bandeirante”, diz Alê Youssef

Secretário da Cultura prepara 100 anos da Semana de 22, quer Centro Cultural mais popular e acredita em Carnaval da pauliceia desvairada no pós-pandemia

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 20h16 - Publicado em 14 Maio 2021, 06h00
A imagem mostra Alexandre sentado em um banco em frente à uma janela da secretaria municipal da Saúde. Ele está com uma mão em um joelho e com o cotovelo apoiado no outro.
Youssef, no centro: 100 milhões de reais para o setor cultural (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Qual o impacto da pandemia no setor cultural paulistano?

É um impacto muito sério. A gente pode cravar que o setor foi o primeiro a entrar e será o último a sair na sua plenitude de atividades. A cultura, basicamente, é reunir gente. Ao partir desse pressuposto, é óbvio que a pandemia gerou uma situação muito complicada. Mas tem um detalhe: o setor buscou se reinventar, criar durante a pandemia. Imagina passar o período sem live, uma novela, um livro? A cultura mostrou sua posição fundamental na questão do bem-estar.

A prefeitura lançou um plano de amparo à cultura na ordem de 100 milhões de reais. Como funciona e que tipo de empresa e artistas vai beneficiar?

O plano tem três tipos de ação: os fomentos culturais, lançados por meio de editais e voltados para várias linguagens artísticas, também para a periferia e para a cultura negra. O segundo, de 30 milhões de reais, é o incentivo municipal, que mantivemos ao contrário da onda de politização da lei de incentivo federal. A terceira ação é a manutenção do calendário cultural da cidade, seja por meio de lives ou intervenções. Fizemos o aniversário de São Paulo, o Festival Tô Me Guardando, no Carnaval, e maio é o mês do hip-hop, com mais de 1 000 contratações. O plano deve gerar cerca de 7 000 atividades entre fevereiro e maio. Ele beneficia cerca de 215 espaços culturais e impacta 30 000 profissionais de cultura.

A Justiça suspendeu a realização de parte do evento Tô Me Guardando, alegando violação na lei de licitação. O que houve?

Seguimos o procedimento usual dos processos internos. Fizemos um chamamento para a participação de blocos de Carnaval comunitários. Eles ficam nas regiões menos favorecidas, com organização mais precária. Uma decisão primeiro suspendeu o evento, e em segunda instância ocorreu o mesmo, mas o mérito não foi julgado. O chamamento é uma parte apenas. Realizamos uma série de atividades, promovemos intervenções no Sambódromo, fizemos atividades nas redes de casas de cultura, nas bibliotecas, nos teatros.

Uma crítica feita é que esses eventos virtuais dão pouca audiência. A visibilidade das atrações chegou a ser medida, é importante?

Não sei lhe dizer a audiência geral, mas é óbvio que não serão as 15 milhões de pessoas que foram ao Carnaval de 2019. Mas veja, fizemos tudo isso para mitigar os impactos da pandemia, para apoiar produtores e núcleos que estavam desamparados. O papel da Secretaria de Cultura é criar ações de mitigação.

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São Paulo está preparando grandes eventos para os 100 anos da Semana de Arte Moderna. Como vão ocorrer?

O centenário se chamará Modernismo 22 + 100 e haverá um amplo processo. É uma superoportunidade para a cidade se reencontrar com ela mesma, com valores modernistas. Queremos uma cidade mais modernista que bandeirante. A cultura como saída justa, sustentável, humana, para a crise pós-pandemia. Será como a Daiane dos Santos dando aquele monte de pirueta e voltando de pé.

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Como será o calendário?

O centenário reunirá todas as instituições culturais públicas e privadas para um calendário integrado. Reunirá, se a imunização permitir, uma série de intervenções. Faremos cortejos modernistas em toda a cidade. Vamos ter um calendário muito forte dentro do Theatro Municipal, onde ocorreu a Semana de 22. Vamos reunir Orquestra, Balé da Cidade, Coral Lírico, Coral Paulistano, Escola de Música, de Dança. Vamos enfatizar o conceito de antropofagia. E fazer o grande palco antropofágico no Anhangabaú, reunindo artistas de todo o Brasil.

“Será como a Daiane dos Santos dando aquele monte de pirueta e voltando de pé”

José Lins do Rego disse o seguinte: “Para nós do Recife, essa Semana de Arte Moderna não existiu”. Estudiosos país afora também criticam a chamada “modernistolatria”. Os eventos da Semana de 22 no ano que vem vão reforçar a interpretação paulista?

Primeiro vamos celebrar levando em conta todos os movimentos modernistas do país. Não será apenas da arte paulistana. A gente considera a importância da mistura e do papel de cada um da construção da cultura. A gente entende que o modernismo é nacional, que aconteceu em várias cidades do Brasil. A Semana foi o ícone disso. Nem Mário de Andrade nem nenhum modernista pregavam o “paulistanocentrismo”. Pregavam a cultura brasileira como um todo.

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E se a pandemia transpassar 2021, a comemoração da Semana de 22 pode ficar para 2023?

Estamos construindo o plano A, esse todo maravilhoso, com ocupação e atividades por toda a cidade, incluindo a periferia. E tem o B, que é baseado em eventos híbridos, com menos concentração e controle de acesso.

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No ano passado, o senhor deixou a secretaria e foi cotado para ser vice na chapa do prefeito Bruno Covas. O que houve para o seu nome não ser escolhido?

Não sou a melhor pessoa para fazer análise política. Saí da secretaria, mas participei do programa Cidade Solidária, as ações aconteceram. Sou um político da cultura. Se, naquele momento, se ventilou uma hipotética candidatura, se os partidos sugeriram isso, achei interessante a valorização da cultura.

O que muda no Centro Cultural São Paulo após a saída da jornalista Erika Palomino e a chegada do pagodeiro Leandro Lehart?

A Erika fez um brilhante trabalho, fez conexão com valores de vanguarda. Achei que agora, com a saída dela, há uma oportunidade de aproveitar o farol da cultura que é o Centro Cultural para que ele exerça um papel emblemático na retomada cultural. Quero popularizar o lugar, lotar de gente, com programação conectada com o gosto da população. O acervo de Mário de Andrade está lá e o local será o coração pulsante do Movimento 22 + 100.

Como vê a cidade pós-pandemia? As pessoas vão sair pelas ruas como se fosse um pós-guerra? Vai ter Carnaval de novo nas ruas como antes?

Vou lhe dar uma resposta simples que vai dizer tudo: vamos viver o Carnaval da pauliceia desvairada.

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Publicado em VEJA São Paulo de 19 de maio de 2021, edição nº 2738

 

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