São Paulo é palco de 90 000 eventos por ano. Alguns são de parar o trânsito. Literalmente. Há bloqueio de ruas, filas de carros se formam e os marronzinhos entram em ação para tentar dar ordem ao caos. E, nada mais justo, cobram por isso. Não é pouca coisa. A CET planeja, opera e sinaliza cerca de 400 desses eventos por mês. Só no ano passado, a companhia arrecadou 16,2 milhões de reais para monitorar 4.800 shows, quermesses, jogos de futebol, feiras e afins. A verba custeia um terço da folha de pagamento dos 2 100 marronzinhos. “Com essa despesa a menos no orçamento, sobra mais dinheiro para investir em engenharia de tráfego”, afirma o gerente de eventos da CET Luiz Carlos Néspoli. Manifestações, procissões religiosas, passeatas e outros acontecimentos públicos ou organizados pela prefeitura estão isentos de taxa, como prevê lei municipal de 2005.
Na tarde do último dia 11, por exemplo, as duas calçadas da Rua Bento Branco de Andrade Filho, nas proximidades do Teatro Alfa, em Santo Amaro, ficaram tomadas por cavaletes e fitas de contenção. Dois marronzinhos e uma viatura da CET organizavam o já tradicionalmente pesado tráfego da região. A montagem da operação e o aluguel dos agentes por quatro dias custaram 12 546 reais aos organizadores da Feira Internacional de Revestimentos, no Transamérica Expo Center. O valor cobrado depende da região da cidade, do público e do número de marronzinhos envolvidos. Varia de 100 a 400 000 reais por dia, caso do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, quando cerca de 2 000 agentes – quase todo o efetivo da CET – são escalados, ao custo total de 1,2 milhão de reais (treinos na sexta e no sábado e corrida no domingo). A sinalização de uma partida de futebol no Estádio do Morumbi, que mobiliza até 53 técnicos, não sai por menos de 16 000 reais, e a Corrida de São Silvestre, por 83 000 reais.
A companhia também cobra quando precisa intervir em construções ou serviços de manutenção que estão causando algum tipo de transtorno ao trânsito. São feitos 41 monitoramentos desse tipo por dia – dos 16 milhões de reais arrecadados no ano passado, 7 milhões vieram daí. Toda vez que um buraco for aberto no meio da rua pela Comgás ou pela Eletropaulo, lá estará um marronzinho para desviar os veículos e orientar o fluxo. Em média, as concessionárias pagam 350 reais por uma dessas vistorias.
Por lei, qualquer evento que possa atrair tráfego de veículos deve ser informado à CET. Alguns promotores, para escapar da cobrança, não fazem a comunicação. Os infratores – atualmente há cerca de 100 – são cobrados na Justiça. “Eles nos devem cerca de 3,5 milhões de reais”, diz Luiz Carlos Néspoli. “A sociedade não pode pagar pelos transtornos no trânsito causados por interesses particulares.”
Quanto custa parar o trânsito?
Abaixo, os valores médios cobrados por dia pela CET para monitorar alguns eventos. O valor varia de acordo com a região da cidade, o público e o número de marronzinhos envolvidos
100 reais
Bloqueio de uma quadra em rua local por até seis horas para uma festa de bairro
350 reais
Sinalização de obras ou serviços da Comgás ou da Eletropaulo
8 249 reais
Feira no Anhembi ou no Expo Center Norte com público entre 25 000 e 35 000 pessoas por dia
7 730 reais
Evento no Credicard Hall ou no Transamérica Expo Center com mais de 6 000 pessoas por dia
24 372 reais
Partida de futebol no Estádio do Morumbi com mais de 50 000 torcedores
77 478 reais
Show no Estádio do Morumbi em dias úteis com até 80 000 pessoas
162 655 reais
Maratona com bloqueio de 42 quilômetros de vias
400 000 reais
Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1