Cemitérios paulistanos: sujeira, depredação, furtos e desrespeito
VEJA SÃO PAULO constatou abandono em cinco necrópoles da cidade; no Consolação, Ministério Público investiga furtos
Túmulos violados, restos mortais vilipendiados em meio a usuários de drogas e sujeira, obras de arte e portas de bronze furtadas, além de gente morando ou guardando objetos em jazigos. Esse é o retrato de pelo menos cinco dos 22 cemitérios municipais visitados por VEJA SÃO PAULO nas últimas semanas: Araçá, Consolação, Quarta Parada, Vila Mariana e Vila Formosa. Nos quatro primeiros, não há uma única rua sequer sem marcas de vandalismo; no último, não existem túmulos (são covas), mas a situação também não é nada boa.
CONSOLAÇÃO
Mais antiga e famosa necrópole de São Paulo, inaugurada em 1858 – e que guarda ossadas de personalidades como o escritor Monteiro Lobato, o político Ademar de Barros e o ex-presidente Washington Luís, além de obras tumulares de artistas como Victor Brecheret -, o Cemitério da Consolação é alvo de reclamações dos concessionários.
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“De uns anos para cá, levaram todos os vasos de bronze. As estátuas, muitas com 200 quilos, desaparecem sem ninguém dar conta. Até portões de túmulos, alguns com 300 quilos, são surrupiados à luz do dia. Sem falar de uma mulher que dorme dentro de uma campa”, queixa-se Francisco Gomes Machado, diretor do Conselho de Segurança Comunitária (Conseg) de Santa Cecília, que juntou sessenta nomes em um abaixo-assinado e o encaminhou ao Ministério Público. O órgão reabriu um inquérito para investigar o abandono do local, tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat).
ARAÇÁ
Perto dali, no Araçá, localizado na Avenida Doutor Arnaldo, todas as ruas possuem marcas de vandalismo e furto. Na parte de baixo, onde em maio deste ano o muro desabou após uma chuva forte, os túmulos violados são mais aparentes do que na parte de cima. O fotógrafo Léo Martins, de VEJA SÃO PAULO, fotografa, desde outubro do ano passado, a mesma ossada à vista de quem passa pelas estreitas vias do local. A última visita de Martins se deu no mês passado.
QUARTA PARADA E VILA MARIANA
O mesmo ocorre no Quarta Parada, no Belenzinho, na Zona Leste, cujas campas abertas mostram ossos aparentes. “Os ‘noias’ vêm aqui à noite, bebem, fumam e ninguém faz nada”, afirma um funcionário que pediu anonimato, sobre os viciados em droga que por ali perambulam.
Localizados na parte de cima do cemitério, próximos à entrada da Avenida Álvaro Ramos, os banheiros masculino e feminino, com mau cheiro forte, não podem ser utilizados devido à sujeira e à falta de limpeza. O mesmo ocorre no Vila Mariana, cujos sanitários não possuem papel higiênico e os funcionários não conta com estoque de produtos de higiene. “Falta tudo aqui”, diz um deles.
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VILA FORMOSA
Maior cemitério da América Latina, com 763 000 metros quadrados, o Vila Formosa também passa por maus momentos. Na parte de trás do velório, um amontoado de lixo está há mais de um mês sem ser retirado. Entre os detritos, aparecem folhas e restos de coroas de flores em decomposição. O mau cheiro é muito forte. Além disso, quem para o carro de madrugada para acompanhar um velório pode se deparar com furtos de veículos. Foram pelos menos três no mês de junho. Em um dos casos, os quatro pneus de um Santana foram subtraídos, denunciou um servidor municipal que também não quis se identificar.
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O lado da prefeitura
Em nota, a prefeitura afirma que aumentou o efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e que há dois meses não são registrados furtos no Cemitério da Consolação. Sobre o Araçá, a gestão municipal diz que o único caso de furto ocorrido neste ano foi em abril e que o número baixo de crimes se deve à melhoria no sistema de iluminação. Em relação ao Quarta Parada, a principal medida realizada foi o fechamento, com tijolos e cimento, de 500 túmulos violados. Quanto ao Vila Formosa, a assessoria de imprensa do Serviço Funerário destaca a compra de máquinas que auxiliam no trabalho dos sepultadores.