Decorações de casas homenageiam filmes e personagens do cinema
A onda atual da cena noturma são os estabelecimentos inspirados em ícones cinematográficos

Antes e depois de protagonizar violentas algazarras noturnas, a turma de bad boys liderada por Alex, ator principal do filme “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, inspirado na obra do escritor Anthony Burgess, reúne-se no Korova, um bar repleto de manequins em posições eróticas e paredes pretas, para beber copos de leite batizado com drogas.
+ Tiger Robocop bomba com sucessos dos anos 90
Mais de quatro décadas depois do lançamento do premiado longa, o empresário Fabiano Gomes decidiu relembrar parte dessa atmosfera cinematográfica no Itaim Bibi. Em junho, inaugurou a Clock’o (o título do filme no original é “A Clockwork Orange”), que começa a funcionar no meio da madrugada.
Um telão de 5 metros com cenas do filme, pernas de plástico saindo das paredes e garçonetes vestidas e maquiadas como Alex fazem referência ao clássico de Kubrick. “Estou ainda providenciando as garrafinhas de leite”, garante Gomes.
Ao contrário do que acontece na ficção, a casa paulistana é habitada por gente bem mais civilizada. São inofensivos grupos de mauricinhos e patricinhas, que frequentam também baladas nas redondezas como a Ballroom e a SET.
A decoração de bares e casas noturnas da cidade já passou por várias fases e modismos. Entre as décadas de 70 e 90, muitas choperias, sobretudo em Moema, investiram no estilo Blumenau-Oktoberfest. O negócio não deixou saudade, diga-se. Mais recentemente, os botequins cariocas inspiraram dezenas de endereços pela cidade, da Vila Madalena ao Tatuapé.
A onda atual são os estabelecimentos inspirados em ícones do cinema e da televisão. Além do Clock’o, existem pelo menos outros cinco casos nascidos a partir de referências a atores e diretores nas mesas paulistanas.
Um dos integrantes do circuito, o Lebowski funciona desde abril na Barra Funda. O local parece um museu dedicado ao impagável Dude, protagonista de “O Grande Lebowski”, de 1998. “O balcão, as luminárias, o papel de parede e o tapete são alguns dos itens que têm a ver com o filme”, conta Aroldo Batista, dono do espaço e fanático pelo longa. “Vi mais de vinte vezes”, garante.

No Suíte Savalas, em Higienópolis, eleito o melhor bar para paquerar na última edição do “Comer & Beber” de VEJA SÃO PAULO, a inspiração vem da TV. No caso, o ator Telly Savalas, famoso na pele do detetive Kojak e com participação em vários trabalhos importantes em Hollywood.
A lista de referências inclui ainda “Veludo Azul”, de David Lynch, que virou um lounge nos Jardins, o bar Eu Tu Eles, no Itaim, em homenagem ao homônimo longa nacional, e a pizzaria I Vitelloni, repleta de cartazes de filmes de Fellini, como o que batiza o estabelecimento (em português, “Os Boas-Vidas”).
“Esses clássicos costumam apresentar uma estética marcante e reunir legiões de fãs, dois quesitos que podem contribuir para o sucesso de um negócio”, diz Ricardo Calil, crítico de cinema da “Folha de S.Paulo”.
Grande habitué dos botecos paulistanos, o ator Paulo César Pereio, que vive no centro, também aprova a tendência. “A mistura é muito interessante. Só acho que deviam dar espaço para apresentações teatrais ao vivo, isso, sim, é coisa fina”, afirma. “Desde que não sejam as dos humoristas de stand-up comedy”, ressalva, com o mesmo estilo ranzinza que o tornou uma figura cult.
Clock’o
Rua Gumercindo Saraiva, 289, Itaim Bibi, ☎ 3032-6933. 2h/último cliente (sex. e sáb.). R$ 50,00 (mulheres) e R$ 100,00 (homens).